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TRÊS VEZES TRÊS A ENÉADE

Por Carlos Roberto Pakuczewsky


TRÊS VEZES TRÊS A ENÉADE


INTRODUÇÃO

Os assuntos a seguir apresentados estão relacionados com a numerologia do número nove, também conhecida como novenário.

 

Antes de entrar no assunto propriamente dito, é importante entender que as funções primordiais dos números, (para as quais eles foram criados), são contar, medir e calcular para simular resultados. O campo de estudo e a aplicação dos números se dá pelas disciplinas que chamamos de ciências exatas (matemática, física, química etc.), as quais geram resultados físicos e práticos (nos campos material e sensorial) e muito nos auxiliam especialmente nos planejamentos e nas tomadas de decisões profissionais do nosso dia a dia.

 

A numerologia por sua vez, é o estudo simbólico dos números, ou seja: o que cada número significa além de contar, medir e calcular. O número três, por exemplo, entre outros, simboliza: início, meio e fim; manhã, tarde e noite; jovem adulto e velho etc. Como podemos observar, essas simbologias são lógicas, verdadeiras e importantes apesar de não ter nada a ver com contar, medir ou calcular. A numerologia nos ensina a pensar sob um outro ponto de vista, o da filosofia e da sabedoria sendo aplicada no âmbito metafísico (abstrato e espiritual).

 

De uma forma geral, podemos dizer que as ciências exatas estão para o corpo (material), assim como a numerologia está para o espírito (sabedoria).

 

Existem várias correntes de numerologia como a cabala, o horóscopo, a numerologia oriental etc. Nesse artigo, assim como na Maçonaria, trataremos da numerologia de origem pitagórica, ligada à filosófica, onde a lógica predomina sobre o misticismo e o acaso. Trocar o nome de Sandra Sá para Sandra de Sá para beneficiar a pessoa, é obra da numerologia, mas não é essa a corrente que estudamos e aplicamos.

 

O NOVENÁRIO

O número nove, simboliza entre outras coisas, o fim de um ciclo. Nove é o último e maior número do ciclo unitário (de 0 a 9), o próximo número da sequência (10), é o início de um novo ciclo (das dezenas). Da mesma forma, o 19, 29, ..., 99 são fim do ciclo das dezenas e o 109, 119, ..., 999, o fim do ciclo das centenas, e assim por diante. Como podemos notar, isso é real e lógico e nada tem a ver com misticismo.

 

Outra simbologia ligada ao nove é o eneagrama, que é uma figura geométrica com nove pontas utilizado para mapear a personalidade do ser humano, mostrando os padrões de comportamento que são construtivos e destrutivos, oferecendo alternativas para que a pessoa se desenvolva por meio do autoconhecimento. Cada uma das pontas do eneagrama representa um tipo psicológico básico correspondente a formatos de personalidade.


Eneagrama

 

Na Maçonaria, nós estudamos especialmente a enéade e o tríplice ternário que são temas recorrentes e que nos oferecem um elevado grau de desenvolvimento intelectual e espiritual. Há ainda nos nossos estudos referentes ao número nove, outros enfoques tais como os nove grandes iniciados e as atividades artísticas das nove musas da mitologia grega.

 

A ENÉADE

O número nove, nos remete à mitologia egípcia, onde, de acordo com o mito da criação (Cosmologia da Enéade), o mundo teria sido criado por nove divindades. No princípio existia apenas as “águas de Nun” das quais emergiu a colina primordial. Nesta colina encontrava-se o deus Atum-Rá, que tinha gerado a si próprio através do sémen produzido pelo ato de masturbação. Atum-Rá, o deus do Sol, gerou as  divindades Chu, deus-Ar e Téfnis, deusa-Água. Este casal procriara e dele surgem Geb, deus-Terra e Nut, deusa-Céu. Estes últimos geram quatro filhos: Osiris, deus da ordem, Ísis, deusa do amor, Set deus da guerra e Néftis deusa do louvor. Essas quatro últimas divindades, são os protagonistas da conhecida “Lenda de Osíris, Ísis e Órus”.


“Enéade” é uma expressão grega. No Egito, o mito da criação é denominado “Pesedjete”. O mito que aqui apresentamos de forma reduzida é o mais conhecido, tendo sido elaborado pelos sacerdotes da cidade de Heliópolis no Baixo Egito. Há, no entanto, na mitologia egípcia, outros mitos da criação que embora sejam denominados Enéades, são protagonizados por números de deuses diferentes de nove (de sete a quinze).

 

A Enéade egípcia é bastante complexa e merece um estudo à parte. Na figura abaixo, apresentamos uma das muitas representações das deidades da enéade egípcia de Heliópolis. A decima deidade que aparece na figura é Órus, filho de Osíris e Isis.


Representações das deidades da enéade egípcia

 

A Cosmologia da Enéade (do Egito) é o mais antigo mito da criação conhecido. Sua importância é devida a estreita semelhança com outras cosmologias, especialmente a grega e a Gênesis judaico-cristã. Ao estudá-las tem-se a impressão de que os autores se inspiraram na Cosmologia da Enéade egípcia para criar os seus mitos de criação. Já os cristãos simplesmente adotaram a cosmologia dos judeus e as trouxeram para a bíblia (livro de gênesis).

 

TRÊS VEZES TRÊS

Na Maçonaria, é bastante comum ouvirmos essa expressão, que também é conhecida por Tríplice Ternário, descrita pelo Irmão Boanerges B. Castro do seu livro “Simbolismos dos números na Maçonaria”. Esse tema tem relação direta com a administração da Loja, sendo, portanto de caráter prático e direto.

 

Para entendermos o tema, precisamos antes recorrer às funções do Secretário da Loja, que não se limita a redigir e ler o Balaústre e o Expediente. A verdadeira função esotérica e filosófica do Secretário (e, portanto ritualística), é “ser o encarregado do traçado que assegura a continuidade da Obra”. Entenda “traçado que assegura a continuidade da obra” como sendo os planejamentos das sucessivas gestões da Loja que se renovam periodicamente (normalmente a cada ano) ou então o Planejamento Estratégico de longo prazo da Loja.

 

Redigir, ajudar a depurar, aprovar, divulgar e acompanhar o Planejamento da Loja (Traçado) para assegurar a continuidade da obra, são tarefas de todos os Obreiros da Loja, trabalho que deve ser de iniciativa dos administradores, porém, cabe ao Secretário o importante papel de relator e divulgador geral do projeto de dos seus resultados.

 

Assegurar a continuidade da Obra são as ações efetivamente implementadas que os Obreiros conseguem realizar no decorrer das sucessivas gestões.

 

A ferramenta (metodologia) usada para elaborar o Traçado, é a Prancha do Mestre (não confundir com Prancha da Loja) que é simbolicamente representada pela figura de um quadrado subdividido em nove quadrados e numerados de um a nove, que verticalmente representam os três Graus Simbólicos e horizontalmente as etapas evolutivas de cada Grau. As etapas evolutivas do Aprendiz são teóricas, representadas pelas expressões: sujeito, verbo e objeto, enquanto as etapas do Mestre, são completamente objetivas e práticas, e dirigidas para gerar resultados efetivos, sendo representadas pelas expressões Ideia, Vontade e Ato ou Pensamento, Desejo e Obra. Daí, vemos a importância simbólica do Nove no Grau de Mestre.

 

Na prática, o Traçado ou Prancha do Mestre deve ser entendido como o celeiro de boas ideias, atitudes e trabalhos propriamente dito (ideias, vontade e atos) que o Mestre Ativo oferece para a Loja em prol da Construção do Templo Interior dos Obreiros e do Templo Social (obra beneficente).

 “A Prancha do Mestre é como uma caixa de ferramentas onde o Venerável Mestre coloca todas as suas ferramentas de Trabalho que aprendeu a usar nos três Graus em que passou.”

 

Maço, Cinzel, Régua, Alavanca, Lápis, Cordel, Compasso etc., cada uma dessas ferramentas possui características virtuosas específicas e quando bem aplicadas pelo Venerável Mestre, geram importantes frutos para os objetivos da Loja (fortalecimento), nos trabalhos sociais (beneficência), evolução dos Obreiros (evolução coletiva) e promovem grande satisfação para quem as executam (satisfação dos Obreiros).

 

1

Sujeito

 

2

Verbo

 

3

Objeto

 

Aprendiz

 

4

 

 

5

 

6

 

Companheiro

 

7

Ideia ou pensamento

 

8

Vontade ou desejo

 

9

Ato ou Obra

 

Mestre

 Traçado ou Tábua do Mestre (Tríplice Ternário)

                      

Um exemplo prático da aplicação dessa metodologia na formação do Obreiro é entender que cada Grau possui três etapas evolutivas e que em cada etapa deve haver um aprofundamento no estudo e na aplicação dos conhecimentos, vivência e resultados. O Maçom, portanto, passa por nove etapas chegando à plenitude na nona etapa. Assim, se considerarmos a evolução pessoal do Maçom, podemos planejar e efetivar as seguintes evoluções para cada etapa:

Aprendiz 1– Estudo do autoconhecimento, o bem e o mal, os vícios e virtudes.

Aprendiz 2 – Elaborar um Planejamento Pessoal para eliminar os seus vícios e maus hábitos e adquirir e reforçar virtudes.

Aprendiz 3 Passar a vivenciar novas virtudes e eliminar a maioria dos vícios e maus hábitos.

Companheiro 1 – Aperfeiçoar o Planejamento Pessoal, incluindo mais itens e passando a usá-lo de forma definitiva (para sempre) no decorrer de sua vida (Planejamento anual).

Companheiro 2 – Estudar sobre a empatia, ágape (amor incondicional), conhecimento, ignorância e beneficência.

Companheiro 3 Selecionar e passar a praticar um trabalho beneficente adequado ao seu tempo disponível e capacidade.

Mestre 1 – Entender e tornar-se um Mestre Servidor, destacar-se no seu trabalho de beneficência, ensinar os Aprendizes e Companheiros.

Mestre 2  Liderar e (ou) dirigir (ser diretor) na entidade em que presta trabalho de beneficência, Dar continuidade aos estudos maçônicos avançados.

Mestre 3 – Produzir conhecimento (Artigos, livros, palestras), desenvolver e criar um trabalho ou associação beneficente (ampliar), com novos voluntários e novas ações.

 

Da mesma forma, a metodologia da “Prancha do Mestre” pode ser aplicada a todos os temas da formação do Obreiro como Filosofia, história da Maçonaria, Esoterismo etc.

 

Com relação aos Planejamentos Estratégicos e da gestão da Loja, podem constar itens a serem alcançados (objetivos e ações), tais como: Trabalhar para que mais quatro Obreiros passem a dirigir ou liderar associações beneficentes.

 

CONCLUSÃO

O Mestre não para de caminhar em sua evolução, estudando e vivenciando sempre mais e mais. A evolução, sob qualquer aspecto, é um caminho sem fim porque ela é infinita ao passo que a nossa capacidade e as nossas limitações nesta vida são finitas.

 

Ir. Carlos Roberto Pakuczewsky - CIM 3955 - M. I. - Rito: R.E.A.A.

Loja: A.R.L.S. Templários da Arca Sagrada nº 90 - GOSC

Participou do Concurso de Literário alusivo aos 50 anos de fundação da COMAB em ago 2023.

Contato: (47) 99993.4847 robertopaku@gmail.com

Rua Léo Deschamps, 58 Valparaiso89023-310 Blumenau - SC.

 

BIBLIOGRAFIA

APOSTILA DO MESTRE MAÇOM: Loja Templários da Arca Sagrada 90 GOSC – Blumenau SC.

SÁPIRAS, Ramiro: A Arte de Viver. Recato das Letras – 2011.

CASTRO, Boanerges B: Simbolismos dos números na Maçonaria – Livraria maçônica Paulo Fuks.

2 comentários


Belíssimo artigo.

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Parabéns pelo belíssimo artigo!! J.’. e P.’.! Meu TFA!

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