top of page

O QUE É SER MAÇOM?

  • 21 de out.
  • 8 min de leitura

Atualizado: 21 de out.

Por Vanderlei Coelho


Longe de pretender dar lições de moral, este artigo tem como escopo primordial despertar reflexões. O que significa ser livre e de bons costumes? A tolerância, a solidariedade e a fraternidade têm limites? Estamos aplicando o princípio da meritocracia de forma justa e consciente?


O QUE É SER MAÇOM?


O QUE É SER MAÇOM?
Imagem ilustrativa gerada por IA

Introdução

Longe de pretender dar lições de moral, este artigo tem como escopo primordial despertar reflexões sobre o que é ser maçom, destacando a importância de escolher bons candidatos à iniciação na Maçonaria e apontando o bônus e os ônus de ser aceito.

 

Ser maçom envolve uma série de subjetividades. Sua definição pode variar conforme a percepção de cada indivíduo, sem implicar necessariamente em erro ou acerto, mas revelando opiniões distintas que podem ser consonantes ou até mesmo dissonantes ao seu sentido mais elevado.

 

Vamos explorar o significado original da palavra “maçom” e seu uso atual, compartilhar preciosos ensinamentos sobre o tema, refletir sobre o que significa ser livre e de bons costumes, e questionar se a tolerância, a solidariedade e a fraternidade têm limites. E ainda, se estamos aplicando o princípio da meritocracia de forma justa e perfeita.

 

Origem etimológica da palavra maçom

Originalmente, a palavra “maçom” significa pedreiro. Deriva do francês antigo maçon e do inglês mason, remetendo ao período da Maçonaria Operativa.

 

Na Idade Média, pedreiros especializados que tinham liberdade de movimento entre territórios europeus eram chamados de pedreiros livres. Essa liberdade era concedida por sua alta qualificação e pela importância de seu trabalho em grandes obras como catedrais e castelos.

 

Atualmente, maçom é o nome dado ao membro da Maçonaria. Todo maçom, independentemente do país, rito, potência ou obediência maçônica, passa por um cerimonial de iniciação que marca sua entrada na Ordem.

 

Segundo o Irmão Izautonio Machado, no livro Introdução ao Rito de York: As Blue Lodges:

A palavra Iniciação tem raiz latina, e significa começo. Deriva dos fonemas “In” (para dentro) e “Ire” (ir). Ou seja, ir para dentro, ingressar em seu interior para dar início a uma nova forma de conhecimento. Iniciar significa, portanto, introduzir alguém em um novo conhecimento, sendo exatamente isso que ocorre na iniciação maçônica, onde o iniciado passa a ter acesso aos conhecimentos da Ordem.

 

Maçom de fato e de direito

Todo aquele que é iniciado na Maçonaria regular é um maçom de direito, mas será que é um maçom de fato?

 

Podemos trazer para o debate a palavra aptidão, que, segundo o dicionário Michaelis, é:

1.       Capacidade inata ou adquirida para determinada coisa;

2.       Conjunto de capacidades necessárias para realizar determinada tarefa ou função; competência.

 

Um indivíduo que conclui o curso de medicina está tecnicamente apto a exercer a profissão de médico, mas isso não garante que ele será um bom profissional. Ainda precisará conciliar a teoria adquirida na faculdade com a prática. O exemplo vale para todas as profissões e para os maçons, que recebem os ensinamentos da Maçonaria e precisam colocá-los em prática.

 

Ter conhecimento é de suma importância, mas não é suficiente se ele não se converte em habilidade. A habilidade é o saber-fazer: a capacidade de usar o que se sabe de forma prática, ajustada à realidade, para solucionar problemas, criar ou melhorar algo.

 

A habilidade se desenvolve pela prática deliberada, pelo treino constante, pela aplicação do conhecimento em situações reais ou simuladas. É quando a teoria encontra o fazer, o método, a técnica.

 

Sem ação, o conhecimento permanece estagnado e a habilidade não encontra propósito. É a ação que materializa o valor do que se sabe e do que se é capaz de fazer. É a ação que transforma contextos, gera resultados, muda trajetórias e impacta pessoas.

 

Por isso, tão importante quanto aprender é decidir o que fazer com o que se sabe. A ação intencional conecta aprendizado e realidade, dá sentido ao esforço de estudar, de praticar, de se aprimorar.

 

A teoria é importante, mas sem a prática não tem a eficácia necessária. O conhecimento só se torna útil quando proporciona uma mudança comportamental e transforma para melhor o indivíduo.

 

Afinal, o que é ser maçom?

Quando eu fui iniciado na Maçonaria, meu filho tinha uns oitos anos de idade e me perguntou?

 

— O que um maçom não pode fazer?

 

Rapidamente eu respondi: tudo aquilo que um homem de bem não pode fazer.

 

Com base no Ritual do Grau Aprendiz Maçom, do REAA, é possível abstrair preciosos ensinamentos sobre o que é ser maçom:

O verdadeiro Maçom pratica o bem e leva a sua solicitude aos infelizes, quaisquer que eles sejam, na medida de suas forças. O Maçom deve, pois, repelir com sinceridade o desprezo, o egoísmo, a imoralidade.[1]

(...) compete ao Aprendiz Maçom o trabalho de desbastar a pedra bruta, isto é, desvencilhar-se dos defeitos e paixões profanas, para poder concorrer à construção Moral da Humanidade, que é a verdadeira obra da Maçonaria.[2]

As características de um bom Maçom são Virtude, Honra e Bondade, (...) devem sempre ser encontradas no coração dos Maçons.[3]

Sabedoria, inteligência e vontade[4], (...) todo o Maçom que quiser ser digno desse nome deve cultivar igualmente essas três qualidades.[5]

 

Ser maçom tem o bônus e os ônus. Precisamos obedecer às leis, cumprir e fazer cumprir uma série de regras, tais como:

  • Pugnar constantemente pelo progresso social e exercer a beneficência no seu sentido mais elevado;

  • Participar ativamente dos trabalhos da Loja, aceitar e desempenhar com exação as funções e encargos que nos forem confiados;

  • Satisfazer pontualmente as contribuições e taxas;

  • Cumprir os deveres de cidadão e honrar a sua palavra;

  • Exercitar sempre o trabalho manual ou intelectual, pois neles se resume o dever essencial do homem.

 

Livre e de bons costumes

A Maçonaria é regulada por leis, tradição, usos e costumes. Existe uma máxima entre nós: um maçom é um homem livre e de bons costumes.

 

A liberdade é um dos bens mais preciosos. A Maçonaria defende a liberdade em todas as suas formas, principalmente a liberdade de pensamento. Ser um homem livre é não ser escravo de suas paixões.

 

Em se tratando de costume, o dicionário Michaelis assim o define:

1.       Tradição habitual ou prática frequente.

2.       Procedimento característico de um indivíduo, de um grupo, de um povo etc.

3.       Moda ou tendência adotada por um grupo influente em determinada época.

4.       Particularidade de alguma coisa; peculiaridade.

5.       Jurisprudência baseada na prática, não estabelecida por lei.

 

A Wikipédia condensa costumes como sendo:

As regras sociais resultantes de uma prática reiterada de forma generalizada e prolongada, o que resulta numa certa convicção de obrigatoriedade, de acordo com cada sociedade e cultura específica (...).

 

Os usos e costumes na Maçonaria representam a tradição, princípios, valores, regras, práticas, comportamentos, condutas, procedimentos, modos e hábitos.

 

Tolerante

A Maçonaria nos ensina que o maçom deve ser tolerante. Mas até onde vai essa tolerância? É possível tolerar o que é intolerável?

 

Devemos cultivar a tolerância, respeitando as crenças religiosas e convicções políticas de cada um.

 

Mas, quando um maçom esquece os princípios e ensinamentos da Ordem e se desvia da moral que nos fortalece, praticando atos indignos, ele rompe os laços que nos unem como verdadeiros Irmãos, perdendo o direito ao nosso auxílio material e, principalmente, ao amparo moral.

 

Não podemos pactuar com ações que atentam contra a honra, a moral e os valores que professamos. A conivência seria cumplicidade e nos degradaria moralmente.

 

Solidário e fraterno

Também aprendemos que devemos ser solidários e fraternos. O que é ser solidário? Qual o limite da fraternidade?

 

A solidariedade maçônica está onde estiver uma causa justa. Devemos estender à humanidade, sem distinção de raça, cor ou crença, o espírito de solidariedade e ajudar na medida de nossas forças.

 

A Maçonaria é uma fraternidade iniciática. Devemos reconhecer como Irmãos todos os maçons, prestando-lhes auxílio e proteção, bem como às cunhadas e sobrinhos, sempre que justo e necessário.

 

Segundo o que nos ensina o Ritual do Grau Aprendiz Maçom, do REAA:

A fraternidade consiste, em educarmo-nos, instruirmo-nos, corrigindo os nossos defeitos e sendo tolerantes para com as crenças religiosas e políticas de cada um. A nossa fraternidade nos ensina a dar e não a pedir sem justa necessidade.

 

Meritocracia

É nosso dever dar preferência a um Irmão, desde que em igualdade de condições, para não cometer injustiça, ferir nossa consciência e o princípio da equidade.

 

Nossa escolha não pode se sobrepor ao mérito, à honestidade e ao valor moral. Não seria justo nem honesto escolher uma pessoa menos apta ou menos digna, mesmo que seja Irmão, preterindo os sagrados direitos do mérito, do valor moral e intelectual.

 

Alguns indivíduos, sem conhecer nossos princípios, acusam os maçons de progredirem na vida por meio de uma suposta proteção interna. No entanto, como vimos ao longo deste artigo, não há na Ordem qualquer tipo de solidariedade incondicional. O mérito, a honestidade e os valores morais devem sempre prevalecer.

 

A Maçonaria acolhe apenas aqueles cuja inteligência, caráter e probidade foram devidamente examinados.

 

Por isso, é natural que dessa criteriosa seleção surjam maçons que se destaquem por suas qualidades pessoais, assumindo grandes responsabilidades e relevância dentro e fora da Maçonaria.

 

Saber escolher

Eu sempre digo que a Maçonaria não é melhor nem pior do que outras instituições, mas ela é diferente. Um candidato à iniciação na Ordem é cuidadosamente escolhido e passa por um longo processo até sua aprovação.

 

Maçonaria é coisa séria. É preciso garimpar na sociedade homens dignos de serem chamados de maçons para que sejam reconhecidos como Irmãos.

 

É nosso dever investigar cuidadosamente as qualidades individuais dos candidatos à admissão na Maçonaria. A seguir, algumas condições essenciais para que o postulante seja aceito:

1) crer na existência de um princípio Criador e na imortalidade da alma;

2) ser homem livre e de bons costumes;

3) ser consciente de seus deveres para com para com Deus, a humanidade, a pátria, a família, com o próximo e consigo mesmo;

4) ter instrução que o habilite a compreender as doutrinas maçônicas e força para executá-las;

5) ter reputação ilibada;

6) ter meios honestos de subsistência para si e sua família e que comportem, sem sacrifícios, suas contribuições pecuniárias à Ordem;

7) ter plena capacidade para o exercício de seus direitos civis e no mínimo 21 (vinte e um) anos de idade;

8) Se casado ou em união estável, obter a concordância da esposa ou companheira.

 

Escolhas erradas

Apesar do rigor de nossas sindicâncias, às vezes erramos nas escolhas. Infelizmente, elementos indignos conseguem infiltrar-se em nosso meio, buscando tirar proveito de nossa Sublime Ordem.

 

Mesmo a Maçonaria não sendo um reformatório, é possível que alguns, pela influência benéfica da convivência maçônica, tornem-se bons e proveitosos obreiros.

 

Para os que permanecem nas trevas, insensíveis à ação de nossa moral e nossos princípios, deve-se aplicar à lei maçônica, agindo com firmeza e sem hesitação na exclusão desses elementos.

 

Nós temos os meios para saber se um indivíduo é maçom e, mesmo que ele possa usar de subterfúgios tentando nos enganar, um verdadeiro maçom é reconhecido como tal.

 

Conclusão

Definir o que é ser maçom não é uma tarefa fácil, dadas as subjetividades que acompanham essa palavra.

 

Com este artigo, buscamos mais provocar reflexões do que oferecer respostas, destacando a importância de escolher bons candidatos à iniciação na Maçonaria e apontando os bônus e os ônus dessa importante decisão.

 

É possível que você concorde com tudo o que foi lido, concorde em partes ou discorde totalmente, afinal, você é livre. E como sempre fazemos, não temos a pretensão de oferecer a palavra final.

 

Ao revisitar os preciosos ensinamentos prodigalizados pela Maçonaria, buscamos refletir séria e profundamente sobre o que significa ser livre e de bons costumes, questionando se a tolerância, a solidariedade e a fraternidade têm limites. E se estamos aplicando o princípio da meritocracia de forma justa e consciente.

 

Sinceramente, meu Irmão, esperamos que você tenha apreciado a leitura e que, de alguma forma, este artigo possa ter sido útil e contribuído para enriquecer seu conhecimento.

 

Fontes pesquisadas:

COELHO, Vanderlei. Condições Essenciais para Ser Aceito na Maçonaria. Disponível em: https://www.maconariacomexcelencia.com/post/condicoes-essenciais-para-ser-aceito-na-maconaria. Acesso em: 18 de out. de 2025.

 

COELHO, Vanderlei. Os Três Pontos na Assinatura do Maçom. Disponível em: https://www.maconariacomexcelencia.com/post/os-tres-pontos-na-assinatura-do-macom. Acesso em: 18 de out. de 2025.

 

DICIONÁRIO MICHAELIS. Aptidão. Disponível em:  https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-brasileiro/aptid%C3%A3o/. Acesso em: 18 de out. de 2025.

 

DICIONÁRIO MICHAELIS. Costume. Disponível em: https://michaelis.uol.com.br/busca?id=nZ3A. Acesso em: 18 de out. de 2025.

 

GLOMARON, Grande Loja Maçônica do Estado de Rondônia. Ritual do Grau de Aprendiz Maçom. Porto Velho: 2016.

 

MACHADO JUNIOR, Izautonio da Silva. Introdução ao Rito de York: as blue lodges. Brasília, DF: No Esquadro, 2023.

WIKIPÉDIA. Costume. Disponível em:  https://pt.wikipedia.org/wiki/Costume. Acesso em: 18 de out. de 2025. 


Notas de rodapé

[1] Ritual do Grau de Aprendiz Maçom, pág. 19

[2] Idem, pág. 128

[3] Idem, pág. 134

[4] Idem, pág. 158

[5] Idem, pág. 159

4 comentários


Membro desconhecido
23 de out.

Parabéns caro Irmão. O projeto do site está de aprabéns por inaugurar uma nova cultura maçônica; a manufatura de textos originais. Ademais, contrói a cultura de que é algo coletivo, comunitário.

Curtir
Membro desconhecido
23 de out.
Respondendo a

Muito obrigado caríssimo Irmão Cídio, você também tem feito um excelente trabalho de pesquisa e compartilhamento de conhecimento.

Curtir

Membro desconhecido
22 de out.

Muito obrigado pelo artigo. Lendo-o, ganhei um ótimo salário. Obrigado por compartilhar. Um T:.A:.F:. de Montevidéu

Curtir
Membro desconhecido
23 de out.
Respondendo a

Que bom que você gostou, hermano José Trifoglio. Estamos publicando e compartilhando artigos maçônicos aqui no site, volte sempre.

Curtir
bottom of page