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O SIMBOLISMO DOS SOLSTÍCIOS E DE SÃO JOÃO NA MAÇONARIA

Por Vanderlei Coelho


O SIMBOLISMO DOS SOLSTÍCIOS E DE SÃO JOÃO NA MAÇONARIA


Representação simbólica dos solstícios e a relação com São João Batista e São João Evangelista
Representação simbólica dos solstícios e a relação com São João Batista e São João Evangelista. Fonte: Elaborado pelo autor

Introdução

Qual é a relação entre os solstícios, os santos de nome João e a Maçonaria?

A Maçonaria utiliza símbolos e alegorias como método de ensino. Neste artigo, exploraremos o simbolismo dos solstícios e sua ligação com as figuras de São João Batista e São João Evangelista, especialmente no contexto da tradição maçônica.


Vamos abordar a origem do Dia de São João, investigando suas possíveis raízes em rituais pagãos de culto ao Sol e à natureza, práticas que foram posteriormente adaptadas pelo cristianismo. Analisaremos os solstícios como fenômenos astronômicos, sua influência sobre a Terra e como, nas antigas civilizações, o Sol era reverenciado como divindade em diversas mitologias.


Também examinaremos como esses elementos foram integrados à simbologia maçônica, compreendendo por que São João é considerado padroeiro da Maçonaria. Por fim, interpretaremos o símbolo do ponto dentro do círculo, sua relação com as figuras joaninas, os solstícios e o possível sincretismo que teria servido para proteger a Maçonaria e evitar perseguições.

 

Os santos de nome João

São vários os santos de nome João na tradição cristã, sendo os mais conhecidos São João Batista e São João Evangelista.

São João Evangelista
Imagem ilustrativa gerada por IA representando São João Evangelista.

São João Evangelista foi um dos doze apóstolos de Jesus. Possivelmente, o título “evangelista” lhe foi atribuído por ter pregado o evangelho. Também lhe é creditada a autoria das três epístolas de João (1, 2 e 3) e do livro do Apocalipse.


São João Batista
Imagem ilustrativa gerada por IA representando São João Batista.

São João Batista era profeta, pregava a virtude, a retidão e a justiça. Utilizava o batismo como símbolo de purificação da alma. Foi mártir e precursor de Jesus Cristo.


O rei Herodes Antipas temia que João Batista pudesse liderar uma rebelião e ordenou sua prisão.

Herodíades, por intermédio de sua filha Salomé, coagiu o rei a mandar matá-lo e a entregar sua cabeça em uma bandeja de prata.


São João Batista é um dos poucos, senão o único santo, cujo dia é comemorado em seu nascimento (24 de junho), enquanto a maioria dos santos é celebrada na data de falecimento.

 

Origem do Dia de São João

O Dia de São João, incorporado ao calendário cristão, possivelmente tem raízes ligadas a rituais pagãos e cultos a deuses da natureza, como Adônis.


Adônis, na mitologia greco-romana, era um deus da vegetação e da fertilidade, simbolizando o ciclo da natureza. Os festivais em sua homenagem ocorriam no mês de junho, solstício de verão na Europa, com lamentações por sua morte e celebrações por seu retorno simbólico à vida.


Com a expansão do cristianismo, muitas festas pagãs foram adaptadas e incorporadas ao calendário cristão para facilitar a aceitação da nova fé. Assim, as antigas festividades do solstício de verão foram ressignificadas como festas cristãs, como o Dia de São João, mantendo elementos simbólicos e práticas populares.


Com o tempo, a festa ganhou elementos populares como fogueiras, danças e comidas típicas, especialmente fortes nas tradições do Nordeste brasileiro.

 

Cultos solares

O Sol exerceu — e ainda exerce — importante influência sobre a Terra. Para os povos antigos, essa influência era considerada divina, e o astro-rei era cultuado como uma deidade.


Basicamente, o homem primitivo distinguia duas épocas do ano, uma de frio e outra de calor, o que serviu de base para o desenvolvimento da agricultura. Era como se fossem duas portas por onde o Sol entrava e saía, ao fim de seu curso em cada período.


Tendo o Sol como fonte de luz e calor, surgiram os cultos solares, que proclamavam o astro como rei dos céus e soberano do mundo, influenciando diversas religiões e crenças na história da humanidade.

 

O Sol como divindade

As mitologias persa e hindu reverenciavam Mitra como um símbolo do “Sol Vencedor”, comemorado no solstício de inverno. A cultura do Império Romano incorporou essa comemoração através do culto ao Sol Invictus.

 

Jano, deus romano

No panteão romano existia o deus Jano (Janus, em latim), representado como uma divindade bicéfala, ou seja, com duas cabeças, uma voltada para o passado e outra para o futuro.


A palavra João seria uma versão de janua, que em latim significa porta. Outra versão é Johannes, uma forma latina medieval que também remete a Jano.


As festas solsticiais, inicialmente consideradas pagãs, foram sincretizadas pelo cristianismo. Como há dois santos de nome João, Batista e Evangelista, os solstícios foram representados simbolicamente como duas portas.

 

O que é o solstício?

Solstício é um fenômeno astronômico relacionado à posição do Sol em relação à Terra. É o momento em que, no “movimento aparente” no céu, o Sol está mais afastado do Equador, fazendo com que a luz solar incida com maior intensidade em um dos hemisférios.

 

Como o solstício acontece?

De acordo com o Observatório Nacional[1], antigos astrônomos observaram que, ao acompanhar o movimento do Sol no céu ao longo dos dias, sua posição ao meio-dia se deslocava gradualmente até alcançar um ponto extremo, onde parecia não mudar por um tempo, como se estivesse “parado”.

 

Os dois solstícios

Os solstícios ocorrem duas vezes por ano e inversamente nos hemisférios. Enquanto no hemisfério sul, onde está localizado o Brasil, ocorre o solstício de inverno (em junho), no hemisfério norte ocorre o solstício de verão e quando no hemisfério sul ocorre o solstício de verão (em dezembro), no hemisfério norte, ocorre o solstício de inverno.

 

Alteração na duração dos dias e noites

Os solstícios afetam diretamente a duração dos dias e das noites. No inverno a duração da noite é a mais longa do ano e o dia mais curto. No verão acontece o contrário, a duração do dia é mais longa do ano e a noite mais curta. Segundo o Observatório Nacional[2]:

Nos equinócios, o tempo de luz do dia e o de escuridão são praticamente iguais. A partir do equinócio de outono, os dias passam a encurtar gradualmente, culminando no solstício de inverno, momento em que ocorre a noite mais longa do ano. Depois disso, os dias começam a se alongar novamente, aproximando-se de um novo equilíbrio no equinócio de primavera e continuando a crescer até alcançar a noite mais curta do ano no solstício de verão (OBSERVATÓRIO NACIONAL, 2025).

 

As estações do ano

São quatro as estações: primavera, verão, outono e inverno. A Dra. Josina Nascimento, astrônoma do Observatório Nacional[3], explica que:

As estações do ano acontecem devido à inclinação do eixo de rotação da Terra em relação ao seu plano de órbita e também devido à sua translação em torno do Sol. O início das estações do ano está associado aos solstícios (inverno e verão) e aos equinócios (outono e primavera).

 

Variação nas datas dos solstícios

O dia e a hora exatos dos solstícios variam anualmente. De acordo com o Observatório Nacional, entre 1950 e 2000, o solstício de inverno no hemisfério sul ocorria em 21 ou 22 de junho. Atualmente, ocorre em 20 ou 21 de junho.


Ainda segundo o Observatório Nacional[4], a variação entre os dias, está ligada à diferença entre o ano civil e o ano trópico:

Enquanto o ano civil tem 365 dias ou 366 dias (ano bissexto), o ano trópico (tempo entre dois solstícios ou dois equinócios consecutivos) tem 365 dias, 5 horas, 48 minutos e 46 segundos. Essa discrepância é ajustada pelo ano bissexto, corrigindo a defasagem de cerca de 6 horas que ocorre a cada ano.

 

Os solstícios e a Maçonaria

A relação dos solstícios com a Maçonaria pode ter se originado nos antigos colégios e corporações de artífices romanas, passando pelas guildas medievais até a moderna Maçonaria.


As guildas

Eram associações equivalentes aos sindicatos modernos, congregavam pessoas do mesmo ofício, operários artesãos e até comerciantes. Tinham funções sociais, políticas e econômicas bem definidas para seus membros. Seus objetivos principais eram: proteção mútua, assistência, manutenção de direitos, estabelecer a qualidade dos serviços ou produtos comercializados, e ainda a regulação e formação profissional.


Cada corporação de ofício tinha uma espécie de santo protetor. Além das atividades profissionais, as guildas desenvolviam atividades culturais e religiosas, como representação dramatizada de eventos bíblicos.


Na Idade Média, os maçons operativos eram obrigados a seguir a religião do país onde trabalhavam. Como o principal contratante era a igreja, por dever de ofício ou por razões óbvias, eles adotavam o cristianismo, elegendo São João como padroeiro.

 

São João, padroeiro da Maçonaria?

Diversos ritos maçônicos, como o Escocês Antigo e Aceito, abrem os trabalhos em Loja “pela glória do Grande Arquiteto do Universo e em honra a São João”, considerando-o padroeiro.


As datas dos solstícios são muito próximas das comemorações de São João Batista e São João Evangelista, a coincidência seria uma das teorias, para a moderna Maçonaria adotar São João como “padroeiro”. Segundo o Irmão Kennyo Ismail (2011):

Há fortes indícios de que a Maçonaria Especulativa, formada por europeus de predominância cristã e preocupados com a imagem da Maçonaria perante a “Santa Inquisição”, aproveitou a feliz coincidência das datas comemorativas de São João Batista (24/06) e São João Evangelista (27/12) serem muito próximas dos Solstícios, para relacionarem a observância dos Solstícios com os Santos de nome João, e assim protegerem a instituição e sua observação dos Solstícios da ignorância, tirania e fanatismo.

 

Como é sabido a Maçonaria não é religião, ao manter a tradição da observância dos solstícios, pode ter feito o mesmo que as religiões de matriz africana, que relacionavam os orixás com os santos católicos para fugir das perseguições.

 

O ponto dentro do círculo

O ponto dentro do círculo
O ponto dentro do círculo. Fonte: Elaborado pelo autor

Os solstícios têm uma relação direta com os trópicos de Câncer e de Capricórnio, pois são os momentos em que os raios solares incidem perpendicularmente sobre esses paralelos, provocando maior ou menor incidência de luz solar nos hemisférios. Costuma-se chamar o solstício de junho de “Solstício de Câncer” e o de dezembro de “Solstício de Capricórnio”, em referência aos trópicos.


O antigo símbolo do ponto dentro do círculo, formado por duas linhas paralelas, uma representando o Trópico de Câncer e a outra, o Trópico de Capricórnio, possui ligação direta com os solstícios. Estes, por sua vez, foram personificados nos santos João Batista e João Evangelista, o que pode ser mais uma possível razão para a adoção desses santos como padroeiros da Maçonaria.

 

Conclusão

Neste artigo, exploramos o simbolismo dos solstícios e sua ligação com as figuras de São João Batista e São João Evangelista, especialmente no contexto da tradição maçônica.


Abordamos a origem do Dia de São João e suas possíveis raízes em rituais pagãos de culto ao Sol e à natureza, que foram posteriormente adaptados pelo cristianismo. Analisamos os solstícios como fenômenos astronômicos, sua influência sobre a Terra e como, nas antigas civilizações, o Sol era reverenciado como divindade em diversas mitologias. Examinamos também como esses elementos foram integrados à simbologia maçônica, compreendendo por que São João é considerado padroeiro da Maçonaria. Por fim, interpretamos o símbolo do ponto dentro do círculo, sua relação com as figuras joaninas, os solstícios e o possível sincretismo que teria servido para proteger a Maçonaria e evitar perseguições.


Como vimos, o Sol exerceu — e ainda exerce — importante influência sobre a Terra. Fonte de luz, calor e renovação, era considerado, pelos antigos, uma divindade: símbolo do sagrado e centro de diversos cultos solares, que o proclamavam rei dos céus e soberano do mundo.


Mas à medida que a consciência humana evoluiu, compreendeu que acima do Sol existe algo ainda mais elevado: o Criador de todas as coisas, inclusive do próprio Sol, Deus, o Grande Arquiteto do Universo.


Notas de rodapé

[1] Observatório Nacional. Inverno 2025 começa em 20 de junho às 23h42. Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.

[2] Idem

[3] Idem

[4] Idem

 

Fontes pesquisadas:

BRASIL ESCOLA. 24 de junho - Dia de São João. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/detalhes-festa-junina/origem-festa-sao-joao.htm. Acesso em: 18 jun. 2025.

COELHO, Vanderlei. Os solstícios e a relação com a Maçonaria. Disponível em: https://www.maconariacomexcelencia.com/post/os-solsticios-e-a-relacao-com-a-maconaria. Acesso em: 18 jun. 2025.

MAÇONARIA.NET. São João, padroeiro da Maçonaria. Disponível em: https://www.maconaria.net/sao-joao-padroeiro-da-maconaria/. Acesso em: 18 jun. 2025.

NOESQUADRO. Os solstícios & a Maçonaria: os Santos de nome João. Disponível em: https://www.noesquadro.com.br/simbologia/os-solsticios-maconaria/. Acesso em: 12 fev. 2024.

OBSERVATÓRIO NACIONAL. Inverno 2025 começa em 20 de junho às 23h42. Disponível em: https://www.gov.br/observatorio/pt-br/assuntos/noticias/inverno-2025-comeca-em-20-de-junho-as-23h42. Acesso em: 18 jun. 2025.

WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. João, o Evangelista. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o,_o_Evangelista#:~:text=Al%C3%A9m%20de%20ter%20escrito%20o,e%20do%20livro%20de%20Apocalipse. Acesso em: 19 jun. 2025.



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