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POR QUE AS LOJAS MAÇÔNICAS PASSAM POR DIFICULDADES FINANCEIRAS?

Por Vanderlei Coelho



TRÊS POSSÍVEIS CAUSAS DAS DIFICULDADES FINANCEIRAS DAS LOJAS MAÇÔNICAS E COMO RESOLVÊ-LAS

 

Introdução

A Maçonaria é instituição formada por voluntários, o que não isenta seus membros de cumprir com as suas obrigações. A Ordem depende das contribuições dos Obreiros para manter suas atividades com força e vigor. No entanto, muitas Lojas enfrentam sérios desafios financeiros que comprometem seu funcionamento.

 

Este artigo analisa as possíveis causas das dificuldades financeiras enfrentadas por Lojas Maçônicas no país, com foco em três fatores centrais: inadimplência dos membros, ausência de controle financeiro e uso inadequado dos recursos disponíveis. Ao final propomos soluções para mitigar esses problemas.

 

Apesar de não termos dados precisos que possam subsidiar o presente artigo, é possível deduzir que as dificuldades enfrentadas pelas Lojas Maçônicas no Brasil sejam um reflexo do que está acontecendo na economia do país. Se considerarmos os dados de endividamento das famílias brasileiras é possível traçarmos um panorama geral.

 

Endividamento das famílias brasileiras

De acordo com a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), realizada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), com base em maio de 2025, 78,2% das famílias brasileiras estão endividadas. Esse é o maior índice desde julho de 2024.

 

A inadimplência está em alta, é o que revela a ISTOÉ Dinheiro. De acordo com informação de agosto de 2025, 30,4% das famílias têm contas em atraso, 12,8% não têm condições de pagar suas dívidas.

 

O principal tipo de dívida é cartão de crédito, como aponta a Gazeta Mercantil (2025), que representa 83,6% dos endividados. Em seguida, aparecem os carnês de loja e o crédito pessoal, que vêm ganhando espaço como alternativas de financiamento.

 

Outro dado relevante é que 19,7% das famílias comprometem mais da metade de sua renda com dívidas, o que indica uma pressão significativa sobre o orçamento doméstico.


POR QUE AS LOJAS MAÇÔNICAS PASSAM POR DIFICULDADES FINANCEIRAS?


POR QUE AS LOJAS MAÇÔNICAS PASSAM POR DIFICULDADES FINANCEIRAS?
Imagem ilustrativa gerada por IA

Principais causas das dificuldades financeiras das lojas maçônicas

O atual cenário econômico do país revela um alto endividamento das famílias brasileiras e consequentemente impacta negativamente também a Maçonaria.

 

Enumeramos as três possíveis causas pelas quais as Lojas Maçônicas passam por dificuldades financeiras, são elas:

1.     Inadimplência dos membros;

2.     Falta de controle;

3.     Mau uso dos recursos financeiros.

 

Não necessariamente nessa ordem, mas uma das principais causas das dificuldades financeiras das Lojas Maçônicas é a mais óbvia de todas, a inadimplência[1]. A falta de controle é outro agravante que se soma ao mau uso dos recursos financeiros.

 

A seguir vamos discorrer sobre cada uma dessas causas, suas consequências e propor soluções para mitigar esses problemas.

 

Inadimplência dos membros

A inadimplência é uma das principais causas de desequilíbrio financeiro nas Lojas Maçônicas. Muitos Irmãos deixam de contribuir regularmente com as mensalidades, o que compromete o funcionamento regular de suas atividades.

 

A falta de pagamento decorre de uma série de fatores, os Irmãos podem estar passando por dificuldades financeiras, o valor das mensalidades é superior a capacidade de pagamento dos Obreiros ou pela falta de controle de quem paga e de quem recebe.

 

Entre o cumprimento da lei e a fraternidade

A Maçonaria é instituição formada por voluntários, o que não isenta seus membros de cumprir com as suas obrigações. É nosso dever “zelar pela manutenção da Loja e pagar pontualmente as contribuições ordinárias e extraordinárias que forem regularmente decretadas ou que as são aderidas espontaneamente” (GLOMARON, 2018).

 

De acordo com o art. 74, da Constituição da Grande Loja Maçônica do Estado de Rondônia (GLOMARON), a inadimplência é motivo de suspensão dos direitos maçônicos:

O Maçom inadimplente com suas obrigações pecuniárias, por três meses e sem justificativa aceita, terá seus direitos suspensos, independentemente de processo.

 

Acredito piamente que antes de cumprir a lei é preciso entender o que está se passando com o Irmão inadimplente, afinal a Maçonaria é antes de tudo uma fraternidade.

 

De acordo com o que preconiza o art. 7º, inciso II, da Constituição da GLOMARON, é nosso dever:

II – reconhecer como Irmãos todos os Maçons, jurisdicionados a uma Potência regular, prestando-lhes auxílio e proteção, assim também às suas viúvas e órfãos, sempre que justo e necessário.

 

Aqui vale uma ressalva, no final do inciso II, que ressalta, “sempre que justo e necessário”. Para que se possa averiguar a necessidade do Irmão e se ela é justa, é preciso que o Irmão Hospitaleiro — no Rito Escocês Antigo e Aceito —, ou seu equivalente em outros ritos cumpra com suas obrigações. Destaco os incisos III, IV, V e VI do art. 242 da Constituição da GLOMARON, no que concerne às suas competências:

III – solicitar ao Tesoureiro as quantias necessárias ao cumprimento das atividades da Hospitalaria;

IV – informar ao Venerável Mestre os pedidos de auxílio formulados à Loja;

V – visitar os Obreiros faltosos e os enfermos ou necessitados, dando parte à Loja do estado e situação deles e da sua família;

VI – providenciar, sempre que possível, com a autorização do Venerável Mestre, o atendimento das necessidades do Irmão;

 

Reafirmo o meu posicionamento que antes de cumprir a letra fria da lei, é preciso que a fraternidade venha em primeiro lugar, alicerçada na máxima “sempre que justo e necessário”.

 

Falta de controle

A segunda causa das dificuldades financeiras das Lojas Maçônicas, e repito, não necessariamente nessa ordem, é a falta de controle. Dentre os pilares que sustentam a gestão estão:

  • Planejamento;

  • Organização;

  • Comando;

  • Controle.

 

Todos esses pilares são relevantes, e estão intrinsecamente ligados, a ausência de apenas um deles pode comprometer a gestão. Como o ponto central aqui é o Controle, ou melhor, a falta dele, vamos seguir com nossa linha de raciocínio.

 

A ausência de sistemas eficazes de controle contábil e financeiro leva à desorganização e à perda de recursos. Muitas Lojas trabalham sem planejamento orçamentário, sem prestação de contas regular e sem que o Conselho Fiscal atue efetivamente.

 

O Venerável Mestre quando assume uma Loja Maçônica contrai uma série de obrigações, dentre as quais a prestação de contas. Ele precisa apresentar à Loja, no final da sua gestão, balanço financeiro, contábil, patrimonial e o relatório de prestação de contas.

 

É claro que essa obrigação não recai somente sobre os ombros do Venerável Mestre, uma vez que o tesoureiro é o fiel depositário das finanças da Loja e responsável pelos seus recursos monetários.

 

Um importante órgão de controle, que muitas vezes é negligenciado ou pouco explorado é o Conselho Fiscal, segundo o art. 224 da Constituição da GLOMARON, a ele compete:

I – reunir-se ordinariamente uma vez por trimestre, ou extraordinariamente, sempre que necessário, para fiscalizar a gestão econômico-financeira e contábil da Loja, sugerindo ações e diretrizes à Direção Geral, bem como à Assembleia da Loja;

II – ter livre acesso e requisitar, para análise, a qualquer tempo, documentação comprobatória das operações econômico-financeiras realizadas;

III – examinar as contas da Administração Geral no final de cada exercício, avaliar e emitir pareceres conclusivos para deliberação da Assembleia da Loja; e,

IV – dar parecer sobre a Proposta Orçamentária e qualquer proposição que envolva receita, despesa ou obrigação contratual.

 

Mau uso dos recursos financeiros

A terceira causa das dificuldades enfrentadas pelas Lojas Maçônicas, é o mal uso de seus recursos financeiros.

 

A principal receita das Lojas é proveniente das mensalidades dos membros, mas não é a única. Outras fontes de receitas são as taxas de iniciação, elevação, exaltação, filiação, transferência e regularização. E ainda, o resultado de rendimentos econômicos, promoções, campanhas e as coletas do Tronco de Solidariedade e Beneficência. Está última tem destinação certa, será aplicada exclusivamente para ajuda à família maçônica e a outros fins humanitários e filantrópicos.

 

O uso inadequado dos recursos, seja por decisões mal planejadas ou por desvios éticos, compromete consideravelmente o funcionamento, e até a existência da Loja. Festas suntuosas, investimentos sem retorno, gastos excessivos com eventos ou reformas mal executadas são alguns exemplos comuns.

 

Soluções para as principais causas das dificuldades financeiras

É muito fácil apontar os problemas, difícil mesmo é indicar as soluções para resolvê-los. A seguir algumas propostas para, se não resolver os problemas, pelo menos mitigar seus impactos nas finanças das Lojas Maçônicas.

 

Para efeito didático e cronológico as propostas seguirão o mesmo fluxo em relação as causas. Assim, primeiro as sugestões para a inadimplência, seguiremos com propostas para a falta de controle, e por fim, sugestões para o problema do mau uso dos recursos financeiros.

 

Sugestões para evitar a inadimplência dos membros

Como dito, a falta de pagamento das contribuições mensais compromete o funcionamento da Loja e gera desequilíbrio financeiro.

 

É comum atuarmos sobre o efeito, no caso em questão, a falta de pagamento, mas a pergunta que se impõe é: quais são as causas da inadimplência dos membros?

 

Os Irmãos podem estar passando por dificuldades financeiras; o valor das mensalidades pode ser superior à capacidade de pagamento dos Obreiros; ou ainda, pode haver falhas no controle de quem paga e de quem recebe. Sobre controle, falaremos mais adiante.

 

Depois de identificada as causas, é chegado o momento de agir para resolver o problema ou pelo menos mitigar seus efeitos. A seguir algumas sugestões:

  • Plano de regularização acessível: Criar programas de renegociação com prazos flexíveis e descontos para quitação de débitos.

  • Comunicação fraterna e transparente: Enviar mensagens individualizados e reforçar, de forma clara e respeitosa, o impacto da inadimplência sobre a saúde financeira da Loja.

  • Tronco de Solidariedade: Esse recurso é frequentemente aplicado em ações beneficentes da Loja voltadas à sociedade, o que é louvável. No entanto, também pode e deve ser utilizado para apoiar Irmãos em dificuldade temporária.

  • Automatização de cobranças: Utilizar plataformas digitais para facilitar o pagamento, máquinas de cartão e PIX.

  • Curso de finanças pessoais: Como apontado em pesquisas, o endividamento das famílias brasileiras é um sério problema que afeta diretamente as Lojas. Oferecer cursos de finanças pessoais é uma excelente alternativa para ajudar os Irmãos com dificuldades financeiras.

 

Sugestões para a falta de controle

O Controle é um dos pilares da gestão, pode ser definido como possuir domínio sobre algo ou alguém, domínio de si mesmo, autocontrole, mas também pode se referir a mensuração, inspeção e fiscalização. É estabelecer padrões, medidas de desempenho e controle, dos processos, dos recursos ou controle de qualidade. A seguir algumas sugestões para implantação de sistemas de controle:

  • Implantação de sistema de gestão contábil: Adotar softwares específicos para associações, com relatórios mensais e alertas de fluxo de caixa, ou mesmo uma simples planilha para acompanhar pagamentos, controle de receitas e despesas.

  • Cursos de capacitação: Promover treinamentos sobre gestão, especialmente financeira, contabilidade básica, prestação de contas e legislação maçônica aplicável, voltados a Veneráveis e Tesoureiros.

  • Planejamento orçamentário anual: Elaborar um orçamento com metas realistas, aprovado em assembleia, e acompanhamento trimestralmente.

  • Auditoria interna periódica: O Conselho Fiscal precisa atuar efetivamente, além de fiscalizar, deve avaliar e emitir pareceres sobre a Proposta Orçamentária, sugerir ações e diretrizes, analisar a documentação e as contas da gestão no final de cada exercício.

 

Sugestões para fazer bom uso dos recursos financeiros

Não basta sanar ou minimizar a inadimplência, criar controles e meios eficazes de recebimento se a gestão fizer mau uso dos recursos financeiros da Loja.

 

Gastos mal planejados ou sem retorno também comprometem o funcionamento da Loja e geram insatisfação entre os membros. É como se fosse um funil ao contrário, com uma entrada estreita de recursos e uma larga saída de dinheiro. Para evitar que isso aconteça, seguem algumas sugestões:

  • Cumprir o orçamento anual: Com o orçamento aprovado em assembleia, é necessário cumprir com as metas estabelecidas, que devem ser realistas.

  • Critérios objetivos para investimentos: Priorizar ações que tragam benefícios duradouros, como educação maçônica, manutenção do templo e projetos sociais.

  • Deliberação coletiva: Submeter decisões financeiras relevantes à assembleia, com apresentação de custos, riscos e benefícios.

  • Transparência total: Divulgar, a cada mês, o extrato financeiro da Loja em mural físico ou por meios digitais, garantindo acesso irrestrito a todos os membros da Loja.

  • Cultura de responsabilidade: Reforçar que cada Obreiro tem um importante papel na saúde financeira da Loja, precisa cumprir com suas obrigações, cobrar a execução orçamentária e acompanhar para que a gestão faça bom uso dos recursos financeiros.

 

Considerações finais

É possível que existam outras causas para as dificuldades enfrentadas pelas Lojas Maçônicas no Brasil. Neste estudo, procuramos delimitar aquelas que consideramos principais: inadimplência dos membros, ausência de controle financeiro e uso inadequado dos recursos disponíveis.

 

Os problemas foram apontados e buscamos indicar as soluções para resolvê-los, propondo ações para mitigar as causas das dificuldades financeiras, sem é claro dar a palavra final sobre o assunto.

 

A sustentabilidade financeira das Lojas Maçônicas depende da responsabilidade coletiva, da transparência e da gestão eficiente, sustentada pelos pilares: Planejamento; Organização; Comando; e Controle.

 

Ao enfrentar a inadimplência, implementar controles rigorosos e utilizar os recursos com sabedoria, as Lojas podem garantir sua existência e perenidade.

 

Entendemos que o tema é extremamente relevante e o presente artigo necessita de um estudo mais aprofundado, com dados quantitativos e qualitativos que possam subsidiar a pesquisa e indicar soluções mais assertivas.  

 

Ainda assim, esperamos que o trabalho possa ajudar de alguma forma na saúde financeira das Lojas e principalmente conscientizar todos os Irmãos para cumprir com suas obrigações, cobrar a execução orçamentária e acompanhar para que a gestão faça bom uso dos recursos financeiros.

 

Fontes pesquisadas:

COELHO, Vanderlei. Gestão Maçônica e a arte de liderar líderes. Palestra proferida em 2021, no curso para novas gestões das Lojas simbólicas da GLOMAP.

 

GAZETA MERCANTIL. Alta no endividamento das famílias brasileiras em maio de 2025: 78,2% em débito e inadimplência recorde. Gazeta Mercantil, 11 jun. 2025. Disponível em: https://gazetamercantil.com/endividamento-das-familias-brasileiras. Acesso em: 15 set. 2025.

 

GLOMARON, Grande Loja Maçônica do Estado de Rondônia.  Vade Mecum de Direito Maçônico. Porto Velho: Edição 2018.

 

ISTOÉ DINHEIRO. Inadimplência nas famílias brasileiras atinge maior nível em 15 anos, aponta CNC. Istoé Dinheiro, 9 set. 2025. Disponível em: https://istoedinheiro.com.br/inadimplencia-nas-familias-brasileiras-atinge-maior-nivel-da-serie-historica-aponta-cnc. Acesso em: 15 set. 2025.

 

MICHAELIS, Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa. Inadimplência. Disponível em: ttps://michaelis.uol.com.br/busca?r=0&f=0&t=0&palavra=inadimpl%C3%AAncia. Acesso em: 15 set. 2025.

 

PAIVA, Saara. Cresce o endividamento das famílias brasileiras em 2025, aponta pesquisa. Super Finanças, 11 jun. 2025. Disponível em: https://superfinancas.com.br/dinheiro-e-financas/2025/06/endividamento-familias/. Acesso em: 15 set. 2025.


Nota de rodapé

[1] Descumprimento de um contrato ou de qualquer obrigação; descumprimento, inadimplemento.

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