AINDA SOBRE ESPIRITUALIDADE E MAÇONARIA
- Maçonaria com Excelência
- há 1 dia
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Por Eleutério Nicolau da Conceição
AINDA SOBRE ESPIRITUALIDADE E MAÇONARIA

Existe um equívoco persistente quanto a condição do maçom, que é responsável pela maioria dos desencontros ocorridos, com relação a temas esotéricos. Refiro-me à sua “condição espiritual". O maçom não adquire nenhuma especial condição espiritual ao ser iniciado e ao frequentar os trabalhos maçônicos. Aqui estou entendendo "Espiritual" como tudo ligado ao relacionamento do homem com Deus. Ao ser iniciado, cada maçom já tem uma série de definições estabelecidas em sua vida e, em geral, é filiado a uma determinada religião ou grupo místico/filosófico/religioso. Sua evolução espiritual dependerá de seu relacionamento pessoal com Deus, como ele o concebe pessoalmente, ou dentro dos parâmetros do grupo das categorias mencionadas acima ao qual pertença. Não existe na maçonaria procedimentos ou ensinos com intenção de interferir, direcionar, instruir o relacionamento homem/Deus. Por isso a maçonaria está aberta à participação de homens de diferentes religiões, pois se ela ministrasse ensinos e tivesse procedimentos nessa área, inevitavelmente se alinharia a um pensamento e confrontaria outros, violando o ideal mencionado. Cada maçom pode continuar praticando fielmente os rituais e ensinamentos de sua religião, e é por meio deles que se dá seu relacionamento com o Divino. Na maçonaria se enfatiza o ideal da fraternidade universal, para isso utilizando as figuras e símbolos característicos dos dramas ritualísticos de cada grau e suas instruções. Cada grau estuda os desdobramentos e modalidades por meio das quais se dá a interação do maçom com a sociedade, no propósito de se aperfeiçoar pessoalmente para contribuir no aprimoramento social. Se por acaso alguém entrou na maçonaria para conhecer Deus, errou de endereço!
Mas se entendermos "Espiritual" no sentido iluminista, encontraremos vários textos maçônicos que falam em "aperfeiçoamento do espírito". Se observarmos atentamente, é sempre no contexto moral/intelectual, "Os dotes do Espírito Humano", não no sentido metafísico do termo. Quando alguém diz que o espírito de Jorge Amado se reflete em seus livros, está utilizando a compreensão iluminista, não um contexto religioso/metafísico de uma contraparte não material do ser. É nesse contexto que surge o aperfeiçoamento espiritual maçônico, que tem como objetivo contribuir na construção da humanidade, pois em cada indivíduo que se aprimora, a humanidade é nele aperfeiçoada.
Existe no contexto mais amplo do cristianismo, duas posições opostas a respeito de como se dá a aproximação do homem com Deus. O catolicismo tradicional entende que os atos humanos operam juntamente com a graça de Deus nesse propósito. As igrejas que surgiram após Lutero e Calvino herdaram deles o entendimento que nenhum ato humano é capaz de contribuir no sentido dessa aproximação, pois, se assim fosse, dizem, o homem teria do que se gloriar e o ego sairia fortalecido.
Na compreensão das igrejas pós-Reforma, a "Boa Nova" (significado de "Evangelho" em grego), trazida por Cristo, é que, o que jamais poderia ser alcançado pelo homem, é concedido gratuitamente por Deus. Que cada um precisa a seu tempo se postar diante de Deus, "Sem sofisma nem reserva mental", e se reconhecer incapaz de conduzir sua vida, se esvaziar de si mesmo, sendo então preenchido por Deus. É esse esvaziamento que os gregos chamavam "Knosis" (a palavra "orar" pode também ser relacionada com orifício, boca, assim orar verdadeiramente, seria fazer espiritualmente o que fazem os filhotes de pássaros: abrem desmesuradamente os bicos para serem preenchidos pelos pais - O indivíduo deve igualmente "Abrir a boca" voltado para Deus). Essa verdadeira catarse psico/espiritual é chamada nos evangelhos de "Novo nascimento", e não pode ser simulada, fingida. O místico Catarinense, da cidade de Tubarão, Huberto Rohden tem, em um de seus livros, uma frase que soa muito sofisticada para descrever esse fenômeno: "A Ego-vacuidade Clama pela Teo-plenitude!". O aperfeiçoamento que começa a ocorrer a partir daí é entendido como ação do Espírito de Deus no indivíduo. Mas desde o início ele tem a presença de Deus. As "boas obras" decorrentes são consequência, não causa dessa condição.
A Maçonaria nunca tomou partido entre esses dois entendimentos, pois existem maçons que, livremente, adotam tanto um quanto outro. Assim, a interpretação da consequência do aperfeiçoamento pessoal como gerando aproximação de Deus, é individual, não é propósito expresso da Maçonaria.
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