CORRUPTIO OPTIMI PESSIMA EST

Por Rui Badaró

AltStuhlMeister da Justa e Perfeita Loja de São João 680.

Membro Efetivo da ARL de Pesquisa Maçônica Quatuor Coronati São Paulo 333

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CORRUPTIO OPTIMI PESSIMA EST

O maior escândalo do ser humano é o desvio daquele que, erguido pela pureza, desaba pela vileza. Corruptio optimi pessima est — a corrupção dos melhores é a pior de todas. A frase de Gregório I não é apenas um lamento moral ou religioso; é o retrato da tragédia que se desenha no palco do espírito humano. Quem se ergue como luz, ao falhar, escurece mais o mundo do que aquele que sempre foi treva. É que a queda do santo fere mais do que o erro do profano; o exemplo contaminado destrói não só a si, mas a fé que o sustentava.

Penso muitas vezes que o homem é uma sucessão de espelhos, refletindo o que se deseja ver nele. Aqueles que lideram, que inspiram, não são senão reflexos mais limpos, cristalinos, do que outros homens gostariam de ser. Porém, quando a lama emerge, não mancha só o vidro, mas a luz que dele emanava. O espelho estilhaça, e, no chão, entre os cacos, jazem os fragmentos das ilusões de todos.

Vejo essas figuras — líderes, sacerdotes, guias, amigos — que para muitos são a pedra angular do que há de bom e justo. Descobertos em sua podridão, são como torres cujos alicerces apodreceram em segredo. A queda é lenta, mas quando acontece, derruba não apenas a torre, mas a confiança no solo em que foi erguida. É como se o mundo, que já vacilava, perdesse ainda mais sua base.

Fernando Pessoa diria que a alma humana é um enigma, mas talvez não seja; talvez seja apenas frágil. A corrupção do melhor é a lembrança de que, no fundo, tudo que parece eterno está corroído pelo tempo e pela ambição. As figuras que se mostram como colunas de mármore revelam-se de barro — e o barro, ao ser tocado pela água, dissolve-se.

Ah, mas o que dói mais, o que verdadeiramente consome, não é a corrupção em si, mas a traição do ideal. Descobrir que aquele que te inspirava nunca acreditou no que dizia, que o profeta pregava por conveniência, que o amigo era apenas um espelho mentiroso. Não é só a queda de uma pessoa; é o fim de uma era dentro de cada um de nós.

E assim vamos, tropeçando entre santos desonrados e heróis desmascarados, descobrindo que talvez não haja pureza no mundo, nem entre os homens nem nos deuses que criamos. Somos, afinal, o barro, e talvez nem mesmo o mármore exista.

Corruptio optimi pessima est.

Pior que a queda, é o eco da queda.