O LEGADO SIMBÓLICO DOS MITOS DA GRÉCIA ANTIGA

Por Jorge Gonçalves

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HISTÓRIAS QUE NUNCA ACONTECERAM, MAS JAMAIS FORAM ESQUECIDAS

A pedra fundamental da civilização moderna é a Grécia — e de lá sobreviveram inúmeras histórias que nunca aconteceram, mas que, pelo visto, jamais serão esquecidas: os mitos. Desde os primórdios, nossos antepassados criaram narrativas na tentativa de explicar o que lhes era incompreensível, e a mitologia tornou-se a linguagem simbólica essencial para dar sentido aos segredos da natureza.

Um desses mitos é o do nascimento de Pégaso. Sua origem remete a uma profunda injustiça e transformação. Medusa, outrora uma jovem de beleza inigualável, foi sacerdotisa devotada de Atena. Mas, ao ser violentada por Poseidon, deus dos mares, em vez de receber justiça, foi castigada — porque desgraça pouca é bobagem. Atena, em sua ira e ciúme, transformou Medusa em um monstro: seus cabelos tornaram-se serpentes vivas, e seu olhar ganhou o poder terrível de petrificar quem ousasse fitá-la. Condenada ao isolamento, Medusa tornou-se prisioneira de uma maldição que jamais merecera.

Anos mais tarde, o herói Perseu — para quem assistiu Fúria de Titãs, a versão original exibida na Sessão da Tarde, lá nos anos 80, com toda a tecnologia da época, em glorioso stop motion que parecia massa de modelar — foi incumbido de uma missão que misturava coragem, astúcia, desespero e uma boa dose de contradição em relação à mitologia original. No filme, Perseu monta em Pégaso antes de matar Medusa, um erro que inverte a ordem das narrativas, já que, na tradição grega, Pégaso nasce apenas depois que a lâmina de Perseu corta a cabeça de Medusa. Do sangue derramado surgem duas criaturas divinas — sendo uma delas Pégaso, o cavalo alado.

Assim, da injustiça e da tragédia, emergiu Pégaso — uma das mais belas histórias que sobreviveram através dos séculos, e que hoje conhecemos como mitologia.

Vivemos tempos em que a linguagem simbólica, tão essencial para a construção do pensamento humano, parece desaparecer. Como disse Zygmunt Bauman: "Estamos nos afogando em informação e famintos por sabedoria." Cada imagem, cada símbolo, cada card, cada frase pode dizer mais do que parece à primeira vista. Um simples card, se compreendido adequadamente, é capaz de carregar consigo a busca contínua pelo conhecimento e os ecos do passado.

Como disse Aldous Huxley: "A verdadeira viagem não é ver novas paisagens, mas ter novos olhos."

Bibliografia

CARVALHO, Letícia. Mitologia Clássica: Enciclopédia. Título original: Classical Mythology A to Z: An Encyclopedia of Gods & Goddesses, Heroes & Heroines, Nymphs, Spirits, Monsters, and Places.