top of page

O QUE SIGNIFICA SYM-BALLO?

  • há 6 dias
  • 5 min de leitura

Por Geraldo Marcelo lemos Gonçalves[1]


SYM-BALLO


SYM-BALLO
Foto do banco de imagens do Wix

A palavra “SYM-BALLO” tem suas raízes no grego antigo, composta pelas palavras “syn” (σύν), que significa “junto”, e “ballo” (βάλλω), que significa “lançar”. Assim, semanticamente, “SYM-BALLO” pode ser traduzido como “lançar juntos” ou “colocar junto”. Esse conceito é essencial para entender a natureza simbólica que transcende a simples junção de elementos, sugerindo uma união que gera significados mais profundos e complexos.

 

Quando duas pessoas com alguma relação social se separavam por um longo período de tempo, ou para sempre, partiram uma moeda, uma plaquinha de barro ou um anel. Se após anos alguém das famílias amigas retornasse, as partes unidas (symbáleim = juntar, reunir) podiam confirmar que o portador de uma delas realmente fazia jus à hospitalidade (Lurker, 1997, p. 656). As duas partes juntas (sumballô) funcionavam para reconhecer e provar as relações de hospitalidade ou de aliança adquiridas no passado.

 

O sinal é algo que vemos e nos leva, por meio de uma âncora mental, a reconhecer algo que não vemos. Por exemplo: quando vemos uma fumaça atrás de um morro, logo temos a percepção de que há fogo atrás desse acidente geográfico, ou se vemos pegadas na areia, temos a certeza de que alguém passou por ali.

 

Mas essa mediação, que dá a conhecer a realidade oculta, pode ter uma densidade muito variável:

  • Um mero sinal prático ou convencional (um sinal de trânsito que avisa a aproximação de uma curva);

  • Um símbolo carregado de sentidos humanos (um bolo de aniversário);

  • Uma ação simbólica de imposição de mãos em um contexto religioso;

  • Uma pessoa, que é, ela própria, sinal e símbolo da salvação ou de uma realidade invisível (Cristo, sinal, imagem e símbolo de Deus).

 

A Maçonaria é uma escola de moralidade, um sistema de aperfeiçoamento e de ensino velado por alegorias e ilustrado por símbolos. As alegorias são histórias no formato de lendas, se assemelham a parábolas, por meio das quais é ensinado pelo menos um fundamento moral.

 

Por exemplo, na alegoria do Pinóquio[2], entres outros ensinamentos, podemos aprender que a mentira tem pernas curtas e sempre acaba por ser descoberta. Pinóquio aprende que a honestidade é um valor importante e que, ao mentir, não apenas ele se prejudica, mas também àqueles ao seu redor.

 

Como vimos na introdução, os símbolos ligam duas coisas, o ensinamento moral à lenda. Os ensinamentos ficam mais arraigados na memória dos irmãos quando são ilustrados por símbolos que funcionam como âncoras de memória. Mas isso acontece com todos nós. Outro exemplo: quando vimos a imagem do Pinóquio, não é necessário ler a história de novo, sempre vamos lembrar o ensinamento moral que se esparge pela alegoria desse personagem.

 

Essa escola de moralidade é organizada em níveis de conhecimento, semelhante aos períodos de um curso universitário. Cada nível de competência possui um ritual, e o conjunto de rituais forma uma metodologia de ensino chamada rito maçônico. Cada rito possui os seus monitores, um livro para cada grau com a explicação de seus símbolos que são transmitidos há séculos de irmão para irmão.

 

Na Augusta e Respeitável Loja Maçônica Estrela Maior de Turmalina nº 243, praticamos o Rito Escocês Antigo e Aceito, o seu primeiro monitor foi escrito e oficializado em 1804 pelo Conde Alexander de Grasse-Tilly, em Paris, na Loja Escocesa de Santo Alexandre.

 

A primeira edição impressa dos Graus Azuis do REAA utilizada no mundo foi intitulada de “Le Guide des Maçons Ecossais ou Cahiers des trois grades symboliques du Rit Ancien et Accepté”.

 

O primeiro Ritual do Rito Escocês Antigo e Aceito, impresso no Brasil, tratava da tradução do supracitado ritual. Foi impresso em uma Typografia de propriedade de Seignot-PIancher, localizada na Rua do Ouvidor nº 96, no Centro do Rio de Janeiro. Isso aconteceu em 1834, mesma data que consta da capa do citado Ritual (Figura 01), o qual se utilizava da seguinte denominação: “Guia dos Maçons Escocezes ou Reguladores dos Três Gráos Symbólicos do Rito Antigo e Aceito”.

 

A Maçonaria é uma coletividade que utiliza amplamente a simbologia como meio de transmitir conhecimentos e valores. Os símbolos na Maçonaria não são meros ornamentos, mas ferramentas pedagógicas e filosóficas que auxiliam na compreensão e internalização dos princípios maçônicos. Cada símbolo é um elo entre o concreto e o abstrato, o visível e o invisível, funcionando como uma ponte que facilita a compreensão de conceitos metafísicos e éticos.

 

Informativo Virtual Astréa News nº 119 - Nov/20 - Pg 07.
Figura 01: Informativo Virtual Astréa News nº 119 - Nov/20 - Pg 07.

Os símbolos utilizados na Maçonaria têm origens diversas, incluindo tradições alquímicas, religiosas e exotéricas, mas atenção, exotéricas com “X”, em alusão ao que é de domínio público, universal. Muitos desses símbolos remontam a épocas anteriores à própria fundação da Maçonaria Especulativa no início do século XVIII. Por exemplo, o compasso e o esquadro são ferramentas associadas à prática da construção e arquitetura, mas na Maçonaria, eles adquirem significados éticos e morais, representando a retidão e a circunspecção.

 

Na filosofia maçônica, os símbolos são frequentemente utilizados em rituais e cerimônias, nos quais cada gesto e objeto possui um significado simbólico específico. Esses rituais são projetados para elevar a consciência do iniciado, com o objetivo de incentivar a busca contínua pelo conhecimento e pela verdade.

 

Os textos maçônicos frequentemente empregam uma linguagem rica em metáforas e alegorias, exigindo do leitor uma interpretação cuidadosa e introspectiva. Esse estilo literário não é apenas uma escolha estética, mas uma necessidade de comunicar ideias complexas e exotéricas que não podem ser expressas de maneira simples ou direta.

 

Os escritos maçônicos muitas vezes refletem influências herméticas[3], em que o conhecimento é velado em simbolismo profundo e, quase sempre, exotérico. Essa abordagem se alinha à ideia de que o conhecimento verdadeiro deve ser buscado e não simplesmente entregue, incentivando o crescimento intelectual e espiritual do indivíduo. Portanto a alegoria e os símbolos são técnicas literárias predominantes nos textos maçônicos.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

LURKER, Manfred. Dicionário de Simbologia. 1ª Edição. Rio de Janeiro: WMF Martins Fontes 2003.

 

ASTRÉA, Informativo Virtual Astréa News. Rio de Janeiro. Órgão Oficial de Divulgação do Supremo Conselho do Grau 33 do Rito Escocês Antigo e Aceito da Maçonaria para a República Federativa do Brasil, n. 119, 2020. Disponível em https://www.sc33.org.br/documents/astreanews/AstreaNews119.pdf

 

RIFFARD, Pierre. Dicionário do Esoterismo. 1ª Edição. Lisboa: Teorema 2004.


Notas de rodapé

[1] Pesquisador Independente, MM da ARLM Estrela Maior de Turmalina nº243, O autor além de agradecer a leitura e as considerações de todos, também reafirma a sua responsabilidade pelo conteúdo, erros e omissões remanescentes, Turmalina/MG, 02.11.25. E-mail para correspondência: geraldomarceloartereal@gmail.com

[2] Pinóquio é um boneco de madeira que ganha vida e, com a ajuda do Grilo Falante, embarca em diversas aventuras. Durante sua jornada, ele enfrenta tentações e perigos, aprendendo lições importantes sobre honestidade e responsabilidade. Seu maior desejo é se tornar um menino de verdade.

[3] A Maçonaria incorpora o Hermetismo através do foco na busca pela perfeição espiritual (transformação da "pedra bruta") e no simbolismo alquímico (a Grande Obra). Princípios como "Assim na Terra como no Céu" orientam a jornada do maçom em direção ao autoconhecimento e à sabedoria esotérica. O "Le Guide" usa rituais para essa jornada.

Comentários


bottom of page