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A NATUREZA COMO PRIMEIRO MAÇOM OPERATIVO

Por Luiz V. Cichoski e Alex Carniel


O artigo explora uma analogia entre a atividade criativa da natureza na formação do universo e da vida e as fases operativa e especulativa da Maçonaria. Os autores argumentam que a natureza, através de processos complexos e da combinação de elementos, esculpiu o planeta e o ser humano de maneira comparável ao trabalho dos maçons operativos.

A NATUREZA COMO PRIMEIRO MAÇOM OPERATIVO


A NATUREZA COMO PRIMEIRO MAÇOM OPERATIVO
Imagem ilustrativa gerada por IA

I. INTRODUÇÃO

Aparentemente uma aventura criativa trabalhou para existirmos! Uma certa dada energia inicial, nem maior, nem menor que a necessária– o Big Bang[1],[2],[3],[4]  -, seguida de uma dispersão dos primeiros componentes, desde ‘pacotes energéticos iniciais’ às primeiras partículas subatômicas, as primeiras partículas atômicas e aos átomos como os conhecemos hoje – os naturais e todos os demais.

 

O tempo necessário para um afastamento e reunião posterior, organizando os ‘tijolos’ formadores do nosso mundo material até a chegada de um subproduto fantástico, a vida – aqui e, talvez, em outros endereços, ainda sem CEP conhecido.

 

Em nossa casa – a Terra – é, relativamente, recente, algo como uns 4,5 bilhões de anos, frente a tal ‘aventura criativa’, ocorrida à, pelo menos, 10 bilhões de anos antes.

 

II. CONSIDERAÇÕES COMPARATIVAS

Se por um lado nosso planeta – a Terra – somente nos serve de morada por ter o tamanho que tem, por estar distante do Sol e da Lua na medida certa; por outro lado, completa esta sua função pela composição que tem, principalmente pelos elementos naturais da qual é formada – 88 dos 115 elementos presentes na tabela periódica.


Citação da Tabela Periódica

Estes elementos não foram desenvolvidos integralmente em nosso planeta, o que é uma obviedade, visto que estamos aqui onde estamos bem depois do evento inicial, criador de tudo – o Big Bang.

           

“Somos poeiras de estrelas”[5]; poeira dinâmica, pois de um lado elementos dispersos pelo espaço foram se aproximando e o planeta foi nascendo; foi complementado pela poeira vinda do espaço na forma de cometas e outros detritos celestes ao longo dos estimados 4 bilhões de anos.


A vida parece ter surgido no terço inicial deste tempo e há pouco tempo – talvez uns 100 000 anos (quase ontem), a nossa espécie vem tentando se ‘adonar’ da ‘casa’.

 

Compartilhamos com o nosso planeta os mesmos elementos formantes de nosso organismo que acabou complementado e animado pela vida.

 

Estes elementos formadores – estocados ao longo da vida planetária – vêm sendo associados de forma fantástica em nossa composição e manutenção. Nossa constituição é extraordinariamente heterogenia; seja nos componentes, seja em suas proporções.

 

Nesta composição estão presentes de forma predominante, o Oxigênio, o Carbono, o Hidrogênio e o Nitrogênio que perfazem, aproximadamente, 95,2% da estrutura orgânica humana; outros elementos, como Cálcio, Fósforo, Potássio, Sódio, Cloro, Magnésio, Enxofre e Ferro têm participações mínimas, mas imprescindíveis. Também encontramos oligoelementos, como Cromo, Cobalto, Cobre, Iodo, Manganês, Molibdênio, Selênio, Silício, Zinco; e, por fim os denominados, elementos traços: Boro, Estrôncio, Flúor, Germânio, Lítio, Vanádio, Zircônio; totalizando 28 elementos presentes em nossa composição. 


Corpo Humano: Principais elementos da Tabela Periódica

Se a natureza astronômica e atômica iniciais – com suas energias básicas: gravitacional, eletromagnética, nuclear fraca e nuclear forte - conseguiram esculpir o Universo, do qual a Terra é uma das obras de arte; podemos completar dizendo que a natureza terrestre, com as mesmas forças enumeradas, fez um esmerado trabalho operativo – muito mais complexo que o necessário para a elaboração das colunas coríntias ou do leve, iluminado e maravilhoso estilo gótico - para esculpir o corpo humano. Para todos estes elementos se encontrarem foi necessário um conjunto de eventos capazes de separá-los no ambiente primário e recompô-los em nossa estrutura.

 

Os elementos gasosos, majoritariamente representados em nosso organismo – oxigênio, hidrogênio e nitrogênio – tem uma movimentação garantida pelas correntes aéreas, resultado das modificações pressóricas e de temperatura em nossa atmosfera; sendo levados para cima ou para baixo onde acabam sendo utilizados pela flora e fauna; em nosso organismo compõem diferentes substâncias orgânicas que possibilitam o citado acabamento artísticos da biologia.

 

Dentre os minerais, a maioria encontra-se na intimidade de pétreos compostos, os quais precisaram ser manuseados por forças – por vezes descomunais – como as vulcânicas ou dos terremotos – para conseguirem libertá-los de suas ligações rochosas, possibilitando novas associações como os óxidos, hidróxidos, isto é, onde os gases oxigênio e hidrogênio organizam-se como elementos metálicos  (de alumínio, de cálcio, de ferro, de magnésio, de silício, de sódio) -; também puderam ser organizados em compostos passíveis de precipitação ou dissolução – como os carbonatados -, quando então, em novo veículo, a água, podem percorrer distâncias inimagináveis para as colossais e pesadas montanhas; estas viagens prolongaram-se pelas águas profundas ou mantiveram-se nas superficiais; mas também puderam deixar o meio líquido e voltar ao elemento sólido das margens e alguns, ainda vaporizam-se ciclicamente.

 

Entre as estruturas compostas por estes elementos sólidos podemos exemplificar com o arenito que, praticamente, é Silício(Si); já o calcáreo ou os compostos marmóreos são fontes de Cálcio(Ca) e Magnésio(Mg); do granito podemos obter Potássio(K), Sódio(Na), Alumínio(Al) – além de Urânio(U) e Thório(Th) elementos de outro naipe. Interessante considerar o resultado do vulcanismo, em cujas rochas podemos nos deparar com uma biblioteca química: Ferro(Fe), Cobre(Cu), Selênio(Se), Molibdênio(Mo) e, novamente, Fósforo(P), Cálcio(Ca) e Magnésio(Mg).

 

A distribuição irregular destes elementos confere aos diferentes continentes, países, áreas locais composições e propriedades características únicas com maior ou menor potencial de utilização na produção dos elementos vivos vegetais ou animais.

 

Assim, para não alongar muito mais estas considerações químicas, a natureza ‘operativamente’ possibilitou o desenvolvimento da vida; que no caso animal, - do homem -, necessita da maioria dos diferentes elementos acima elencados e os encontra com maior ou menor facilidade na composição planetária, tornando a faculdade de estar ‘vivo’ mais ou menos fácil, isto é, salutar e adequada (em alguns endereços) ou patogênica e carencial (em outros).

 

A obra ‘operativa’ necessitava da peça básica – a pedra bruta adaptada aos diferentes ambientes das Notre Dames; que no caso do organismo vivo – o homem em vista – as diferentes ‘células’ adaptadas a cada ambiente orgânico, possibilitaram o desenvolvimento de diferentes funções: estruturantes, absortivas, respiratória, transformadoras, energéticas, eliminatórias.

 

Também no âmbito ‘operativo’-vital os elementos necessários facilitaram o desenvolvimento do organismo vivo – o homem em vista -, ou exigindo as correções necessárias que a evolução, a biologia e a medicina têm buscado conhecer para melhor corrigir; parece vislumbrarem um caminho em meio aos elementos químicos diversamente distribuídos nos diferentes órgãos e aparelhos, mas, igualmente, nos diferentes quadrantes e fusos!

 

Paralelamente, a fase Operativa do desenvolvimento maçônico aconteceu associada com a criação do estilo gótico, concretizada no período em que a Europa vivia a estruturação e organização do trabalho. Desenvolviam-se as normas do “como fazer”, “por quem devia ser feito” e “o que deveria ser usado em cada atividade”; nem todos podiam desempenhar qualquer atividade. O conhecimento era mais concreto, material e básico: era manual, Idade Média.

 

Além de construir a estrutura biológica – a catedral viva -, a natureza também desenvolveu a capacidade neurológica e mental – a decoração interna, a obra de arte por excelência - em seu momento, capacidade e fase ‘especulativa’.

 

O momento ímpar, o ponto fora da curva, foi a possibilitação do pensamento, do raciocínio, do sentimento; aqui houve uma ação além da simplicidade ‘operativa’; nos referimos ao modus operandi ‘especulativo’ e além...

 

Igualmente, a fase Especulativa da Maçonaria pautou-se na liberdade de pensamento veiculada pelo racionalismo e pelo empirismo – extensões do Renascimento, semente do Iluminismo – enfrentando o conformismo da filosofia religiosa da patrística e da escolástica, desenvolveu novas maneiras para o ‘pensar’ e libertou o ‘sentir’ – no viver e no saber o que estava fazendo e sentindo. O conhecimento era mais inovador, fluido, amplo, interno: mental, Idade Moderna.

 

Tanto quanto os terrenos apresentam composições distintas, facilitando ou não, a produção segundo a necessidade de cada elemento vivo (espécies vegetais e animais); a observação possibilitou identificar esta necessidade e as devidas correções para uma melhor produtividade.

 

Paralelamente a este aspecto mais bio-corporal – mais físico -, precisamos considerar o lado neurológico, emocional, vivencial que também vai se formar a partir de um ‘terreno’, isto é, das experiências emocionais, vivenciais, psicológicas. Os ‘terrenos’ são muito diferentes e a ‘nutrição’ também resulta diferente para cada indivíduo que agrega ao puramente ‘físico-operativo’ um ‘psico-especulativo’ que pode ser facilitado ou dificultado em cada ambiente e momento ocupado e vivido pelo homem ao longo do seu desenvolvimento.

 

Podemos entender a Maçonaria como um empreendimento para adequar os diferentes irmãos ao melhor ambiente para que suas características e potencialidades venham a ser desenvolvidas a partir de suas experiências e vivências; é a “correção do terreno” para a devida produtividade. Enquanto companheiros precisamos estar atentos às necessidades de cada irmão ao nosso lado para que não percamos a oportunidade de potencializar as suas capacidades e vivenciar o resultado desta experiência única que a Maçonaria nos proporciona.

 

Precisamos estar cientes da capacidade que temos em mãos para que, facilitando o potencial dos demais irmãos, tenhamos um resultado multiplicador e não apenas, somatório.

 

Que a nossa ‘natureza’ seja capaz de realizar o que a ‘natureza’ ao nosso redor sempre realizou e ainda realiza, afinal estamos onde deveríamos estar - não conhecemos vida em outro lugar -, para alcançar o resultado que somos capazes – mecânicos ou mentais.

 

III. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A natureza encontrou seu caminho em longa jornada; a vida encontrou uma oportunidade de abrilhantar esta jornada! Os eventos não foram simples, muitos desafios foram superados seja no âmbito estruturador da natureza, seja na viva decoração.

 

A jornada do homem também está repleta de ganhos mínimos cujas consequências acabaram sendo impensáveis: as proto-bactérias não intuíram concretizar os mamíferos; o australopiteco não intuiu no homo sapiens; o homem analfabeto enfrentou os seus desafios e estamos aqui!

 

A Idade Média apresentou oportunidades que foram aproveitadas e o homem organizou o trabalho, entre os quais os da alvenaria/arquitetura que aceitou novas ideias para vencer as barreiras medievais. Estas barreiras foram vencidas e harmonizadas.

 

O ambiente de hoje exige disponibilidade, intuição e visão adequadas ao século XXI, Idade Contemporânea, conhecimentos alcançados; não mais uma Maçonaria Operativa, não mais uma Maçonaria Especulativa... mais do que isso, uma Maçonaria Executiva ou Corporativa.

 

Certo é que novas dificuldades nos cercam, seja no âmbito global, seja no âmbito local e até mesmo pessoal, e assim como nossos irmãos operativos e especulativos encontraram as soluções em seu tempo, nós também devemos encontrar as soluções necessárias no aqui e agora – superar o ‘xeque’ encontrado neste desafio de força e habilidade, para não vivenciarmos um ‘xeque-mate’.

 

É o nosso tempo, é a nossa vez.

 

Maçonaria, sem dúvida, é assunto sério; mais ainda quando diante de alguma dificuldade.

 

P.S.1 O Lítio é o elemento que guarda inúmeras qualidades maçônicas: número atómico(N) é 3; o número de massa (M) é 7; o peso atômico (P) é 3, um dos poucos formados no Big Bang, ao lado do Hidrogênio e do Hélio; historicamente foi descoberta na petalita, em 1800, por José Bonifácio de Andrade e Silva, o primeiro Grão-mestre do Grande Oriente Brasílico de 1822, que possibilitou a descrição (Johan August Arfwedson, 1817) e o isolamento (em W.T. Brande e Sir Humphry Davy,1821) obtiveram o elemento isolado via eletrólise de óxido de lítio.

 

P.S.2 – Itens de avaliação da potabilidade da água conforme PORTARIA GM/MS Nº 888, DE 4 DE MAIO DE 2021[6].

 

TABELA DE PADRÃO DE POTABILIDADE PARA SUBSTÂNCIAS QUÍMICAS INORGÂNICAS QUE REPRESENTAM RISCO À SAÚDE 

Parâmetro

CAS[7]

Unidade

VMP

Antimônio

7440-36-0

mg/L

0,006

Arsênio

7440-38-2

mg/L

0,01

Bário

7440-39-3

mg/L

0,7

Cádmio

7440-43-9

mg/L

0,003

Chumbo

7439-92-1

mg/L

0,01

Cobre

7440-50-8

mg/L

2

Cromo

7440-47-3

mg/L

0,05

Fluoreto

7782-41-4

mg/L

1,5

Mercúrio Total

7439-97-6

mg/L

0,001

Níquel

7440-02-0

mg/L

0,07

Nitrato

14797-55-8

mg/L

10

Nitrito

14797-65-0

mg/L

1

Selênio

7782-49-2

mg/L

0,04

Urânio

7440-61-1

mg/L

0,03

Outro exemplo de medida básica da micro-composição da água que citamos é da região rural catarinense, onde foram medidos – ao lado dos aspectos biológicos(E.coli)[8]:

pH 7,0 a 7,37 os elementos Ferro, Fósforo e Nitrogênio.

 

Constata-se que a água potável apresenta micro-composição de elementos químicos que variam amplamente entre diferentes regiões; esta variabilidade explica que diferentes populações tenham suplência ou défices destes compostos, aspecto já salientado pelos epidemiologistas do século XIX e XX.

 

Considerações Gerais:

1. Avaliação da potabilidade confirmada pelos parâmetros – biológicos (coliformes/ E.coli; cistos de Giardia spp. e oocistos de Cryptosporidium spp.); físico-químico: turbidez (cujo valor máximo pontual é de 1,0 uT).

 

2. A desinfecção de águas superficiais é realizada por meio da cloração, cloraminação, da aplicação de dióxido de cloro ou de isocianuratos clorados.

3. A potabilidade da água, do ponto de vista radiológico, são os valores de concentração de atividade que não excedam 0,5 Bq/L para atividade alfa total e 1,0 Bq/L para beta total.

 

4. A água potável deve estar em conformidade com o padrão organoléptico[9] de Potabilidade.

 

5. Os elementos frequentes na água, como ferro e manganês, têm concentrações definidas que não devem ultrapassem 2,4 e 0,4 mg/L, respectivamente.

 

6. A soma das razões das concentrações de nitrito e nitrato e seus respectivos Valores Máximos Permitidos (VMP) são definidos.

 

7. Monitoramento para identificação e contagem de células de cianobactérias, limite de contagem de células de cianobactérias menor ou igual a 10.000 células/mL; em complementação deve ser realizada monitoração de clorofila-A no manancial, não devendo haver concentração, da mesma, é igual ou superior a 10 μg/L.

 

8. A água “potável” pode apresentar alguns componentes elementares ou químicos (não mencionados neste trabalho) e estar adequada para o consumo; estes componentes, com suas margens de segurança, tem presença e concentrações diversas relacionadas com o endereço geográfico dos aquíferos e fontes. A água pura não é tão pura mesmo sendo própria para o consumo!

 

 

Luiz V. Cichoski, M∴M∴

&

Alex Carniel, C∴M∴

ARBLS Templários da Liberdade, 69

Pinhalzinho/SC

Grande Oriente de Santa Catarina, GOSC.

 

 


[1] J. Silk, O Big Bang, A Origem do Universo, UnB, 1985.

[2] S. Weinberg, Os Três Primeiros Minutos do Universo, Gradiva, 1987.

[3] M.Gleiser, Criação Imperfeita, 3ª. Edição, Ed. Record, 2010.

[4] Z. Zugno, Antídoto Apocalíptico, 4ª. edição, Ed. Z-Book, 2015.

[5] C.Sagan, Um Pálido Ponto Azul, Cia. De Letras, 1ª. edição, 1996.

[6] Diário Oficial da União, 07/05/2021, Edição: 85, Seção: 1, Página: 127.

[7] CAS é o número de referência de compostos e substâncias químicas adotado pelo Chemical Abstract Service.

[8] Genética LABS, abril 2023.

[9] Organolépticas são as propriedades características de uma substância discriminada pelos órgãos dos sentidos: sabor, odor, cor/brilho, textura.

 

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