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BIBLIOGRAFIA E MAÇONARIA





BIBLIOGRAFIA E MAÇONARIA


BIBLIOGRAFIA E MAÇONARIA
Imagem ilustrativa gerada por IA

I. INTRODUÇÃO

A produção literária maçônica é uma necessidade constante. A revisão histórica é de produção contínua pois, sempre estaremos continuamente nos deparando com dados novos. Uma revisão do passado maçônico exige fontes confiáveis muito além de intuições lendárias sobre a história da Instituição.

 

Comparando a produção literária maçônica ao longo das fases evolutivas da Maçonaria percebe-se momentos distintos com maior ou menor facilidade narrativa.

 

Podemos reconhecer obras primárias que trazem narrativas de momentos descritos pelos maçons vivenciadores da narrativa; contudo, quanto mais retrocedermos no tempo teremos menos produtores de obras primárias pelo fato de uma menor condição e oportunidade redatorial e publicável; muitas obras primárias existem no formato caligráfico de frágeis alfarrábios, associados ao conhecimento da língua original e de sua evolução.

 

Sintetizando, no período Operativo a narrativa foi obra da Igreja através dos religiosos que constituíam a maioria dos capacitados para uma narrativa tanto religiosa, quanto histórica — sabiam ler e escrever, mesmo em papiros e pergaminhos.

 

No período Transicional — a partir da cisão da Igreja Católica e da aproximação de leigos na intimidade das Lojas dos Pedreiros — foi produzido um conteúdo significativo de Old Charges/Antigos Deveres registrados em preciosas folhas — com uma caligrafia por vezes belíssima e outras nem tanto —, que ficaram guardados, prioritariamente, nas Lojas inglesas.

 

O período Especulativo observou-se, paralelamente, a um grande desenvolvimento significativo e até mesmo estonteante, das ciências, entre elas, as ciências históricas, historiográficas, idiomáticas, religiosas, sociais entre muitas outras.

 

Neste período — Maçonaria Especulativa — uma busca intensa por fontes primárias ligadas aos principais desafios arquitetônicos da Idade Moderna e Contemporânea foram fundamentais para uma visão histórica e realista dos eventos ligados a Maçonaria, inclusive o estudo de suas origens reais e não a relatos lendários.

 

Uma produção mais consistente deu-se com a chegada da Maçonaria ao continente europeu, especialmente, na França; os irmãos franceses foram mais disseminadores — expositures reveladoras — de originais maçônicos pois sempre forneceram a descrição de conteúdos ditos secretos ou, pelo menos, sigilosos e discretos.

 

Um momento intensamente produtivo foi o século XVIII, principalmente entre os anos de 1740 a 1790. A criação e disseminação de lendas, graus, ritos e estruturas administrativas — Grandes Lojas e Grandes Orientes — foi impressionante. Complementarmente, reconhecer que tais produções nem sempre focalizavam os organismos ou relatórios reais pois a produtividade irregular ou irreal esteve igualmente presente comprometendo as pesquisas e conclusões posteriores.

 

Cada fase da história maçônica, cada século do desenvolvimento maçônico, cada endereço do estabelecimento maçônico, produziram estudiosos e estudos os quais impregnaram — e impregnam ainda hoje — de forma marcante o saber maçônico.

 

Exemplos básicos: Anderson e Desaguliers, como marcadores especulativos —, também os disseminadores franceses como C. A. Vuillaume, Delaunay, C. A. Vuillaume, E. F. Bazot, P. G. Vassal, Teissier, B. Tshousdy, R. L e Forestier, P. Naudon. A. Pike, J. M. Ragon, Papus. Entre nós são conhecidos de todos: N. Aslan, K. Prober, J. Castellani, X. Trolha.

 

Referência norteadora de pesquisa e da bibliografia foi a obra de José Antonio Ferrer Benimelli, com sua incursão primária na temática bibliográfica comentada em trabalho anterior. [1]


O século XXI brindou os pesquisadores com a digitalização de conteúdos que possibilitaram a realização de sonhos — por vezes pesadelos — de acesso irrealizáveis dos autores sempre apontados como fontes primárias ou, pelo menos, confiáveis, mas longínquos, inalcançáveis.




II. COMENTÁRIOS

A) Observações referentes ao âmbito bibliográfico — fontes e acessibilidade — estiveram presentes na forma de preocupação constante.[2],[3]   

 

O campo bibliográfico foi ilustrado e tornado visível, como mencionamos, pela dedicação do religioso e pesquisador José Antonio Ferrer Benimelli[4],[5],[6],[7] . Seu estudo de 1977, Masoneria, Iglesia e Ilustratción, composto de quatro volumes, sendo o último deles apenas com referências bibliográficas onde, praticamente, demonstrou a importância das fontes confiáveis, ao descortinar um conteúdo bibliográfico maçônico memorável. Esta obra com sua portentosa citação revelou um espaço de estudos — o bibliográfico — até então desconhecido ou menosprezado; os dados presentes neste último volume mereceram uma edição em separado apenas com o conteúdo bibliográfico que foi atualizado em obra de 2004, com conteúdo publicado de três volumes — tomo I e tomo II A e B —, contendo mais de 19.817 citações bibliográficas ao longo de 1.425 páginas.

 

Os maçonólogos que conheceram e se valeram do conteúdo bibliográfico exposto por Benimelli perceberam a importância deste complemento, ilustrado por uma miríade de fontes primárias, conteúdo este que possibilitou uma produção posterior que manteve a marca bibliográfica como item fundante dos estudos e apresentações da história maçônica.

Outra fonte bibliográfica fundamental é a Ars Quatour Coronatorum que também mantém volumes específicos no campo e conteúdo bibliográfico disponibilizado por esta confiável fonte de material primário e secundário. Um exemplo[8] é o volume Index de 2014.

 

Alguns pontos evolutivos na acessibilidade foram marcantes. Em primeiríssimo lugar a concretização do sonho de Gutenberg que agilizou a disponibilidade das obras que deixaram de apresentarem-se como papiros ou pergaminhos para transformarem-se em l i v r o s.

 

As b i b l i o t e c a s estiveram presentes na história do conhecimento, mesmo antes da imprensa, tendo sido direta e profundamente atingidas pela impressão que ao lado da agilidade, barateou as obras e incentivou a alfabetização de um número maior de leitores e curiosos da História do que quer que fosse. A busca por obras nas bibliotecas constituiu-se em caminho vigente ao longo do tempo.

 

Outra fonte significativa de acesso aos livros e ao conhecimento foram os insubstituíveis s e b o s. A procura por “aquele livro” fora de edição esteve sempre presente no íntimo dos fanáticos pelos mais diversos temas, a Maçonaria entre eles. Sem deixar de mencionar os casos de anúncio da obra desejada — em primeira edição — e o recebimento de uma cópia xerográfica.

 

Atualmente, os l i v r o s  d i g i t a l i z a d o s vieram facilitar o acesso as obras raras e de difícil acesso, as legítimas fontes primárias. Ficaram no passado as idas até a biblioteca, a encomenda nos sebos para, em nossos dias uma nova realidade, a pesquisa na rede e o acesso imediato de obras “além da imaginação”.

 

B) Os acervos maçônicos estão sendo organizados e digitalizados para facilitar o acesso de todo interessado.

 

Grandes bibliotecas têm investido nesta modernização dos conteúdos que cada vez mais facilitam o acesso dos estudiosos.

Maçonicamente existem alguns conteúdos primários, básicos e seminais, que já estão disponíveis em diferentes endereços. [9]

 

1) Coletânea Kloss, compostos por obras representativas de conteúdo primários, presente no museu de Haia — https://www.vrijmetselarijmuseum.nl/search  ou https://collecties.vrijmetselarijmuseum.nl/search. Exemplos:

a) XXV.1/192 a 52 — coleção de 84 painéis, faixas, joias de diferentes graus da Loja de Perfeição.

b) XXV.9/240 e 31. Grau dos Ilustres: nº 7 e 10 Mestre Ilustre de Mirécourt.

c) XXV.31/240 e 34. Ecocismo de Clmenont: 1.Aprendiz, 2.Companheiro, 3.Grande Sacrificador ou Mestre Escocês. Alfabeto e Tratado histórico.

d) XXV.39/192 a 65. Maçonaria antiga, hoje Excelente Escocês (Perfeito Mestre Grande Escocês). Nacher: Escocês da Cúpula Sagrada de Jaques VI.

e) XXV.46/192 a 69. Escocês e a Quarentena Histórica. 1.Aprendiz Escocês. 2. Companheiro Escocês. – 3.Mestre Escocês.

f) XXV.49/193 C 55. Grande Escocês de Montpellier (texto similar ao 240 C 63 e 240 B 41).

 

2) A Biblioteca Nacional da França — https://archivesetmanuscrits.bnf.fr/  — ou https://www.bnf.fr -  disponibiliza o acesso a material primário significativo como: Fundo Baylot, o conteúdo da Revue Internationale des Sociétés Secrètes, o arquivo Bossu e arquivos do Grande Oriente da França. Exemplo:

a) FM 1 (111). Collection Chapelle, tome VI.

b) FM 3 Baylot (8) Lyon, pertencendo ao Fondo Baylot.

c) FM 4 Baylot (15) Santo Domingo, pertencendo ao Fondo Baylot.

d) FM 4 (1041 H). Rituels. Souverain chapitre métropolitain.

 

3) Arquivos do Supremo Conselho da França. Exemplos:

a) Manuscrito Tarade, archive.org.

b) Manuscrito Claude Gagne (publicado em Ordo ab Chao nº 50, 2004).

c) Manuscrito com os graus capitulares do Supremo Conselho da França, (publicado parcialmente em Ordo ab Chao, nº 50, 2004).

 

4) Fundação Latomia (www.latomia.org) organismo que alberga conteúdo primário do Rito Escocês Antigo e Aceito como: Maçonnerie des Hommes, rituais Mirecourt, coleção Sharp, coleção Bonseigneur, coleção Conde de la Barre. Exemplos:

a) Manuscrito de Frnacken de 1783, Museum o four National Heritage, Lexington MA, U.S.A. Van Gorden-Willians Library. Documento nº 5 do catálogo da Latomia.

b) Rituais Bonseigneur (vol. II) Université Tulane, Nouvelle-Orléans, Amistad Reserach Center. Documento nº 119 do catálogo Latomia.

c) Documents Sharp (volume I) L’histoire des Élus Parfaits, la Mère-Loge Écossaise de Bordeaux. Museum o four National Heritage, Lexington MA. U.S.A. Van Gorden-Williams Library, SC 025. Documento nº 124 do catálogo Latomia.

d) Ecossais ou Elu Parfait de la Loge. Bibliothèque Universitaire de Toulose. Documento nº 140 do catálogo Latomia.

e) Prinsen, Geert L. Investigation into the rituals of the Lodge at Mirécourt. Documento mº178 do catálogo Latomia.

 

No Brasil as principais estruturas maçônicas regulares — GOB, CMSB, COMAB — mantém coletâneas preparadas para o acesso on-line.

 

O Grande Oriente de Santa Catarina[10] pode exemplificar a sistemática atual com a Biblioteca Digital Acadêmico Jerônimo Borges Filho que dispõe, ao lado de um acervo físico de 1.181 livros, um outro acervo online com 10.889 obras digitalizadas abrangendo livros, revistas, jornais, artigos, peças de arquitetura; são 5.515 autores cadastrados com consultas em número significativo que alcançou 15.518 acessos ao longo de 2025[11].

 

Sites maçônicos também oferecem oportunidade e conteúdo facilitado seja na forma de conferências virtuais como em @GrupoLivesMaconicas ou https://www.facebook.com/livesmaconicas/0 mas também na forma bibliográfica como em Maçonaria com Excelência (https://www.maconariacomexcelencia.com)[12], que disponibiliza artigos originais atualizando o saber maçônico na frente e front histórico, ritualística, filosófica, esotérica; também disponibiliza o acesso a livros no formado e-book free e obras publicadas por irmãos dedicados.

 

III. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A conclusão é que cada vez mais teremos acesso facilitado ao conteúdo maçônico até então refém das grandes cidades e das grandes bibliotecas com o livro concreto e presente ante os olhos.

 

Muitas etapas foram ultrapassadas desde a aquisição de um livro — edição original ou edições posteriores —; livros ou capítulos de livros xerocados; livros emprestados; acesso aos sebos reais, bem como os virtuais que oportunizaram e oportunizam uma maior disponibilidade do livro on-line; até o aparecimento das bibliotecas digitalizadas que dispensaram deslocamentos, estada, locação ou aquisição.

 

Podemos complementar lembrando que não foi apenas o livro que ficou mais acessível, as próprias sessões embarcaram na mesma tecnologia  da disponibilidade e virtualidade um pouco depois do livro — mais especificamente, após os eventos do recolhimento/quarentena provocados pela COVID-19 —, hoje participamos de encontros proporcionados “pela Maçonaria [que] converteu-se — em um novo — Centro de União [ além de tornar-se novamente no ] meio de conciliação de uma amizade verdadeira entre pessoas que de outra forma,  poderiam haver permanecido perpetuamente afastadas”.

 

As fontes interativas merecem comentários, pois, paralelamente a facilidade com que o acesso à Inteligência Artificial pode auxiliar no encontro e disponibilidade de fontes inimagináveis em passado não muito longevo. Contudo, a pesquisa primária e conceitual ainda é fundamental para o seguimento da descrição e entendimento da História — não importa de qual temática — pois, o artificialismo virtual depende de dados coletados pela dedicação dos estudiosos e historiadores para alimentar o apetite desta nova tecnologia.

O ciclo ou cadeia composta por fontes primárias, secundárias, terciárias e outras, continuarão a trazer as novidades e o conhecimento ainda não reconhecido que embelezam, de maneira contundente, o estudo da Maçonaria, que continua sendo uma temática séria, cuja História também deve ser assim tratada por todo autor que se propuser a relatar ou revelar novos dados e vieses da História da Instituição.


 




Luiz V. Cichoski, MM

ARBLS Templários da Liberdade, 69

Pinhalzinho/SC

GOSC - COMAB

 


Notas de rodapé

[2] L. V. Cichoski Bibliografia Maçônica Dentro Da Concepção De Ensino Do Grande Oriente De Santa Catarina, Parte I, O Prumo, 226, mar/abr, 2016.

[3] L. V. Cichoski Bibliografia Maçônica Dentro Da Concepção De Ensino Do Grande Oriente De Santa Catarina, Parte II, O Prumo, 226, mai/jun, 2016.

[4] J. A. F. Benimelli, Masonería, Iglesia e Ilustracion, vol. I, II, III e IV, F. U. Española, 1977.

[5] J. A. F. Benimelli, Bibliografia de la Masoneria, Fud. Univ Española, 2ª. Ed, 1978.

[6] J. A. F. Benimelli, La Mosoneria Española en el Siglo XVIII, 2ª.Ed, Siglo vienteuno Ed., 1986.

[7] J. A. F. Benimelli, Bibliografía de la Masonería, 3 vol. FUN, 2004.

[8]Ars Quatuor Coronatorum, Index, volume I(1888) a vol 127(2014),  chrome-extension :// efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj/https://www.quatuorcoronati.com/wp-content/uploads/2016/07/AQC-Index-Vols-1-to-127-2014.pdf

[9] A. M. Moreno, La Formación del REAA a Luz de los Manuscritos Originales, Maestro Secreto e Maestro Perfecto, Ed. Masonica, España, 2024.

[11] Dados disponibilizados outubro 2025, pela bibliotecária do GOSC, Fernanda Possenti de Souza, CRB 14/1317.

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