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DESVENDANDO O MISTÉRIO DO BODE NA MAÇONARIA

 

Por Vanderlei Coelho



Se você preferir, pode assistir ao vídeo sobre o assunto do artigo.



DESVENDANDO O MISTÉRIO DO BODE NA MAÇONARIA

 

Introdução

Você já deve ter ouvido a absurda acusação de que o Deus da Maçonaria seria um bode preto e que o candidato precisaria montá-lo para ser iniciado. Tão ridículas quanto essa afirmação são as histórias que envolvem a suposta ligação entre bode e a Maçonaria.

 

Para entender como foi alimentado o fundamentalismo antimaçônico, as acusações infundadas de que a Maçonaria seria uma seita satânica e a associação da figura do bode à Ordem, você precisa conhecer a fraude de Léo Taxil.


Descubra como Taxil foi expulso da Maçonaria, inventou uma história para se vingar e enganou a Igreja Católica. Antes, porém, conheça algumas histórias bizarras e engraçadas sobre o bode.


HISTÓRIAS SOBRE BODE

HISTÓRIAS SOBRE BODE NA MAÇONARIA
Imagem ilustrativa gerada por IA

O bode expiatório

A mais antiga dessas histórias diz o seguinte: no Templo de Jerusalém, bodes eram usados para sacrifícios, enquanto outros eram soltos no deserto para expiar os pecados, originando a expressão “bode expiatório”.

 

Confessando os pecados ao bode

Segundo essa lenda, era comum entre os judeus da Palestina falar ao ouvido de um bode — um animal abundante na região — para confessar seus pecados.

 

Esse ritual proporcionava alívio pela confissão e segurança, pois o caprino não poderia revelar segredos.

 

Surgimento do confessionário

Diz ainda que a Igreja Católica teria adotado esse costume, substituindo o bode pelo padre e instituindo o voto de silêncio clerical.

Mesmo assim, muitas pessoas preferiam continuar confidenciando seus segredos ao bode, acreditando ser um meio mais seguro.

 

Bode sabe guardar segredo

Outra versão afirma que muitos maçons foram presos e torturados durante a Inquisição para que revelassem os segredos da Maçonaria, mas preferiam morrer a falar.

Os inquisidores, então, começaram a associá-los aos bodes, que também "não falavam" e guardavam segredos.

 

O diabo do bode

No imaginário popular, o diabo é frequentemente representado como um bode por sua aparência: chifres e odor forte.

Os Templários foram acusados de venerar uma figura com corpo de homem e cabeça de bode, chamada Baphomet. Mais adiante, falaremos mais sobre essa criatura.

Com o tempo, essa acusação foi transferida para a Maçonaria em uma campanha difamatória, alegando que os maçons adoravam um bode preto como seu Deus.

 

E não para por aí...

A mais macabra das histórias afirma que, ao ser iniciado, o Aprendiz deveria beber o sangue de um bode preto sacrificado durante a cerimônia.

 

Divulgação das reuniões

Diz a lenda que, no passado, um maçom passeava pelas ruas carregando um bode preto e depois o amarrava à porta de sua casa.

 

Esse seria o sinal de que haveria uma reunião maçônica naquele dia, compreendido apenas pelos iniciados.

 

O sacrifício do bode

Outra lenda afirma que, ao final da reunião, o bode era sacrificado e servia de refeição para os participantes.

 

Fedendo como bode

Os maçons teriam sido apelidados de “bodes” porque, ao usarem ternos pretos em reuniões sem ventilação (antigamente não existia ar-condicionado) e sem desodorante, voltavam para casa com forte odor de suor, comparado ao cheiro de bode.

 

Essa é boa, my brode!

Quando maçons ingleses visitaram lojas maçônicas no Brasil, chamavam os irmãos de “brother”.

Os brasileiros, ao tentarem reproduzir a pronúncia, acabaram transformando a palavra brother em “bode”.

 

A confusão com GOAT

Segundo o Irmão Denilso Lima, professor de inglês, pode ter havido uma interpretação errônea da sigla GOAT:

God

Of

All

Things

 

Traduzindo para o português, God of all things, significa “Deus de todas as coisas”. No entanto, a palavra goat também significa cabra ou bode, o que pode ter gerado confusão.

Dessa forma, surgiu a ideia equivocada de que o bode era o Deus da Maçonaria, enquanto Jesus, representado pelo cordeiro, seria o Deus da Igreja.

 

O bode na maçonaria

O bode na maçonaria
Imagem ilustrativa gerada por IA

Quer saber como foi alimentado o fundamentalismo antimaçônico, as acusações infundadas de seita satânica e a figura do bode na Maçonaria? Você precisa conhecer Léo Taxil, que foi expulso da Maçonaria, inventou uma história para se vingar e enganou a Igreja Católica.

 

A fraude de Léo Taxil

A fraude de Léo Taxil
Léo Taxil

Léo Taxil escreveu vários livros anticatólicos, que pintaram a hierarquia eclesiástica como hedonista[1] e sádica. Um deles intitulado “The Secret Loves de Pope Pius IX” (Os Amores Secretos do Papa Pio IX).

 

Taxil ingressou na Maçonaria em 1881, mas não passou muito tempo, foi expulso dez meses depois, em 1882, por estar envolvido em alguns casos de plágio e difamação. Léo Taxil não passou do primeiro grau, de Aprendiz Maçom.

 

Tão rápida quanto sua passagem pela Maçonaria, foi a sua vingança. Em 1885, Taxil foi a público, dizendo que havia se convertido ao catolicismo romano, e anunciou a sua intenção de reparar o dano que ele tinha feito contra a igreja católica.

 

Depois de ter difamado a igreja católica, sua mira voltou-se contra a Maçonaria. Léo Taxil inventou uma seita maçônica cujo objetivo principal seria dominar o mundo e que dedica seus cultos a Baphomet.


Capa do livro os mistérios da franco-maçonaria
Cartaz publicitário da obra de Léo Taxil

 

Baphomet, que nada tem a ver com a Maçonaria, é uma criatura com a cabeça de bode e o corpo de homem, consta no livro Dogmas e Ritual da Alta Magia, de autoria do ocultista francês Eliphas Levi.

 

Sua imaginação era perversamente fértil, Léo Taxil criou uma personagem chamada Diana Vaughan que teria se envolvido naquela maçonaria satânica que ele havia inventado. Diana foi resgatada quando professou admiração por Joana d'Arc (ainda não canonizada na época).

 

Na tentativa de ridicularizar a Igreja e se vingar da Maçonaria, publicou um livro, supostamente de coautoria como Diana Vaughan, chamado Eucharistic Novena, uma coleção de orações, que foram elogiadas pelo Papa.

 

Leo Taxil convenceu muitos católicos com a sua farsa – tanto que em 1887 foi recebido em audiência pelo Papa Leão XIII, que declarou ser admirador da obra de Taxil, solicitou que ele escrevesse mais livros e passou a financiá-lo.

 

Continuando a farsa, Taxil alegou que Albert Pike, Grande Comendador do Supremo Conselho de Jurisdição do Sul do Rito Escocês Antigo e Aceito, era um "Papa Luciferianista", o líder supremo de todos os Maçons do mundo, e que ele admitiu que toda sexta-feira às três horas fazia conferências com o próprio Satanás.

Albert Pike
Albert Pike

Monsenhor Northrop, bispo de Charleston (Carolina do Sul), foi especialmente para Roma, a fim de garantir a Leão XIII que os maçons da sua cidade episcopal são pessoas dignas, e em seu templo não adornava qualquer estátua de Satanás.

 

Em 19 de abril de 1897, após dez anos de patrocínio pelo Papa, Taxil chamou uma conferência de imprensa organizada na Sociedade de Geografia (a chamada Conferência de Leo Taxil), na qual confessou que suas revelações sobre os maçons eram fictícias; admitiu que Diana Vaughan não existia, pelo contrário, que o nome tinha sido emprestado de sua secretária; revelou que tal seita maçônica não existia; explicou detalhadamente os cuidados que teve para criar e manter a farsa e agradeceu ao clero por sua assistência em dar publicidade às suas alegações selvagens; e afirmou que a sua "brincadeira amigável" teria feito o seu sucesso no tempo do livre-pensamento que iria "Matá-los através de riso."

 

Isso revelou o grau de sua impostura e provocou um escândalo em que a polícia teve que intervir para acalmar e dar assistência e proteção ao autor.

 

Conclusão

Para alívio de uns e frustação de outros, não existe nenhuma ligação do bode com a Maçonaria e muito embora o conteúdo produzido por Taxil contra a Ordem seja confessamente uma fraude, esse material ainda é utilizado contra maçons até hoje, principalmente pelos fundamentalistas cristãos e antimaçônicos, que associam o Baphomet à Maçonaria e afirmam que ela é uma seita satânica.

 

Por mais que se afirme que não há nenhuma ligação entre a Maçonaria e o bode, a dúvida persiste, reforçada pelas brincadeiras de alguns maçons. A verdade é simples, em nenhum grau, rito, ritual ou cerimônia maçônica existe qualquer referência ao bode. Pode acreditar, essa é a mais pura verdade!


Nota de rodapé

[1] Hedonismo (do grego hedonê, "prazer", "vontade") se refere a um grupo de teorias onde o prazer desempenha papel central. O hedonismo psicológico ou motivacional afirma que o comportamento humano é determinado por desejos de aumentar o prazer e diminuir a dor.

 

Fontes pesquisadas:

LIMA, Denilso. Palestra Mitos e Lendas na Maçonaria: Entender para desfazer.

NO ESQUADRO. O bode & a Maçonaria. Disponível em: https://www.noesquadro.com.br/simbologia/o-bode-maconaria/

SÓ SERGIPE. O bode na Maçonaria. Disponível em: https://www.sosergipe.com.br/o-bode-na-maconaria/

WIKIPEDIA. Baphomet. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Baphomet

WIKIPEDIA. Fraude de Taxil. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/w/index.php? title=Fraude_de_Taxil&oldid=56933755

WIKIPEDIA. Hedonismo. Disponível em:  https://pt.wikipedia.org/wiki/Hedonismo


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