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INICIAÇÃO MAÇÔNICA: CARTA AO NEÓFITO

Por Geraldo Marcelo Lemos Gonçalves 


INICIAÇÃO MAÇÔNICA: CARTA AO NEÓFITO

 

INICIAÇÃO MAÇÔNICA: CARTA AO NEÓFITO
Imagem ilustrativa gerada por IA

Meu estimado Júlio, meu cunhado, meu compadre e agora Irmão.

 

Hoje, ao ingressar no seio da Maçonaria, você inicia não apenas um novo ciclo de convivência fraterna, mas uma verdadeira jornada interior. A Iniciação que vivenciou, longe de ser uma mera formalidade ou um ritual antigo, é antes de tudo, um marco simbólico que separa o que você foi até ontem daquilo que poderá vir a ser a partir de hoje.

 

Neste momento, você é chamado de neófito. Essa palavra, que vem do grego neóphytos, significa: “nova planta” ou “novo broto”. Na Antiguidade, era utilizada para designar aquele que, tendo sido plantado em um novo solo, deveria criar raízes e crescer até alcançar a maturidade. Na dimensão filosófica, o neófito representa o espírito que, saindo da ignorância, se abre à Luz do conhecimento e da verdade. A semente ao romper a casca, se esmera pela terra fecunda com o desafio de buscar a “Luz”.

 

A Maçonaria é o solo fértil onde sua jornada se inicia; seu padrinho é a água que irriga, e você é a semente que rompeu a terra em busca da Luz do Sol. Cabe a você, por meio do “geotropismo” espiritual, crescer sempre na direção natural daqueles que desejam evoluir na Arte Real. Recorde-se de que, assim como recebeu cuidado e amparo para germinar do seu padrinho, também precisará oferecer novas mudas, perpetuando o ciclo do aprendizado. A continuidade da Maçonaria depende, em grande parte, de que sempre haja irmãos dispostos a permanecer firmes no topo da Coluna do Norte, sustentando com exemplo e dedicação o progresso da Ordem.

 

A filosofia da Câmara de Reflexão, etapa inicial da Iniciação, é uma poderosa metáfora da morte simbólica e do renascimento espiritual. Ali, em meio ao silêncio, à penumbra e aos símbolos de transitoriedade da vida, o neófito é convidado a refletir sobre sua própria existência, suas virtudes e suas falhas, seu passado e suas esperanças.

Trata-se de um mergulho interior, onde o homem se vê despido das máscaras sociais e colocado diante de sua essência. O propósito, em vez de causar medo, é inspirar coragem: de se confrontar, de reconhecer a finitude da vida profana e de aceitar a oportunidade de renascer como um ser transformado, disposto a trilhar o caminho da “Luz”.

 

A Maçonaria, que surgiu nas brumas do tempo, carrega consigo conceitos que visam ao aperfeiçoamento moral, intelectual e espiritual do homem. Sua metodologia, transmitida de geração em geração, é um segredo reservado àqueles que, com sinceridade de propósito, cruzam o umbral do Templo e contemplam a verdadeira “Luz”, cabe a você continuar essa trajetória secular.

 

A intensidade da “Luz” que hoje lhe foi concedida permitirá que enxergue novas cores em sua existência. Assim como um míope que ao colocar óculos pela primeira vez e, maravilhado, pergunta-se: “Como vivi sem esta clareza até agora?”. Assim também ocorre na Iniciação: enquanto você coloria sua vida com matizes inéditos, cada um de seus Irmãos revivia o momento primordial de sua própria jornada, dando um novo frescor e vitalidade ao que já trazia no coração, “re-colorindo” simbolicamente suas próprias Iniciações.

 

Como disse Sócrates, “o verdadeiro conhecimento está em reconhecer a própria ignorância”. Ao adentrar em nossos augustos mistérios, verá que mais importante do que encontrar respostas prontas é aprender a formular as perguntas certas, aquelas que iluminam o caminho e, não apenas o destino.

 

A Maçonaria se propõe a lapidar o ser humano como o lapidário trabalha a pedra bruta com paciência, constância e propósito. Essa lapidação não é física, ela é moral e espiritual. Ela não impõe, mas convida, não aprisiona, mas liberta. Esse processo depende única e exclusivamente de você.

 

A autorresponsabilidade é um fenômeno pessoal, não impute ao Venerável Mestre de sua loja e aos respectivos confrades o seu aprendizado e crescimento, esse caminho é solitário e egoísta, depende apenas de você. Nós, como seus irmãos, somos meros coadjuvantes, estamos sempre dispostos a lhe ajudar, mas o principal responsável pelo seu sucesso e fracasso é, em última instância, apenas você.

 

É nessa jornada que entendemos o princípio, ela ensina que a presença do Grande Arquiteto do Universo, que é o Deus do seu coração, pode ser percebida não apenas nos grandes feitos ou nas figuras de destaque, mas também no olhar simples do humilde, na palavra sincera e no gesto silencioso de bondade, pois é na essência pura que o “Divino” se manifesta de forma mais clara.

 

Que cada símbolo, cada palavra e cada silêncio no templo lhe sejam como degraus que conduzem a uma compreensão mais elevada de si mesmo, do mundo e do Criador. Lembre-se de que a “Luz” que buscamos não é apenas a que dissipa as trevas exteriores, mas aquela que nos permite enxergar as sombras que habitam o próprio coração, para então transformá-las.

 

Não permita que conjecturas, dogmas e especulações do mundo profano adentrem a Maçonaria. Espero que faça o contrário, procure levar para fora de nossos “Templos” maçônicos a filosofia e os valores que aqui aprender, irradiando-os por meio de seu exemplo, de suas palavras e de suas ações, para que possam contribuir para a elevação moral e espiritual da humanidade.

 

Quando desejar se manifestar em Loja, siga um protocolo cuidadoso: pesquise o tema em diversas fontes primárias e secundárias, confronte-o com a legislação maçônica oficial da sua Potência Maçônica e a normativa de sua Loja e, converse com seu padrinho, e por fim, ensaie sua fala diante do espelho, certificando-se de que ela se enquadra no Trivium: Gramática, Retórica e Lógica. Pergunte a si mesmo se sua oratória pode ser considerada um “trabalho bom”, um “trabalho fiel” e por fim um “trabalho perfeito”. Se a resposta for afirmativa em todos os aspectos, então esteja pronto para levá-la às colunas.

 

E do fundo do meu coração, após tão dedicada preparação, desejo-lhe algo paradoxal: que ao menos um irmão discorde de você. Pois não crescemos no eco de ressonâncias, mas no desafio desconfortável da dissonância. Será ao ouvir o contraditório, em silêncio e às vezes sem direito a tréplica, que você viverá uma das lições mais profundas de sua jornada. E então, no ágape fraternal você se levantará, oferecerá a esse irmão um Tríplice Fraternal Abraço e lhe dirá, com sinceridade: “Obrigado”. Pois é na diversidade de pensamentos que se forja a verdadeira sabedoria.

 

Siga, portanto, com humildade e firmeza. Permaneça fiel a tríade da maçonaria “latina”: Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Mas também a da sua coirmã “anglo-saxã”: Amor Fraternal, Amparo e Verdade. Não as veja como meras expressões formais, mas como virtudes vivas, refletidas em cada atitude e decisão. Quando a dúvida se apresentar, questione-se: Isto é justo? Se a resposta for afirmativa, avance e pergunte: É perfeito? E, se novamente obtiver um “sim” sincero, então prossiga e realize-o.

 

Lembre-se de que, quando um homem inicia na Maçonaria, sua família inicia com ele. A Ordem jamais deve ser motivo de divisão, mas sim de fortalecimento dos laços familiares. A família maçônica se estende por toda a costa terrestre, unindo corações e mãos em uma fraternidade que ultrapassa fronteiras, línguas e culturas, somando-se à família de sangue para construir uma rede de apoio, amizade e valores.

 

Que seu trabalho como maçom se reflita em obras que resistam ao tempo, não pela grandiosidade, mas pela integridade.

 

Receba meus sinceros votos de uma caminhada longa, edificante e repleta de sabedoria.

 

Fiel e Sinceramente,

 

Ir.'. Geraldo Marcelo Lemos Gonçalves

CIM: 16786

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