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INTRODUÇÃO À HISTÓRIA DA FILOSOFIA: DOS PRIMÓRDIOS À PLATÃO

Atualizado: 4 de dez. de 2024

AUTOR: IRMÃO MARIO CRISTINO BANDIM VASCONCELOS

ARLS Waldomiro Buozi - 612

ARL de Pesquisa Maçônica Quatuor Coronati São Paulo - Nº 333


INTRODUÇÃO À HISTÓRIA DA FILOSOFIA: DOS PRIMÓRDIOS À PLATÃO


Resumo. Este trabalho pretende ilustrar, em nível introdutório e superficial, a trajetória do pensamento ocidental desde os chamados pré-socráticos até Platão. O objetivo é fomentar o estudo da filosofia no seio de nossa Ordem e estimular os Irmãos a buscarem o aprofundamento nos diversos caminhos que a filosofia nos oferece.


INTRODUÇÃO

Caros e Queridos Irmãos e amigos, pergunto-lhes: para quê estudar Filosofia?

Para os que percorrem o caminho do autoconhecimento, do lapidar da Pedra Bruta, considero um dever, uma ferramenta necessária aos que se propõem a ser Livre Pensadores, Construtores Sociais, Pescadores de Homens. No entanto, para quem já bebeu desta fonte e sentiu seus efeitos benfazejos na clarificação da consciência, ouso declarar que se trata mais de uma grande oportunidade do que uma obrigação.

Podemos relacionar diversos e saborosos frutos do mergulho nas águas tépidas da filosofia. De pronto e apenas a título ilustrativo citamos alguns:


Múltiplas visões de mundo

É importante, ao estudarmos filosofia, termos em mente que não vamos escolher este ou aquele filósofo para seguir. A Filosofia é uma área de estudo inconcluso. Não importa o fim, mas o caminhar. Mas ao tomarmos contato com as visões de mundo de cada um dos seus pensadores, não descuidando do contexto histórico-social no qual viveram, ganhamos substância para desenharmos também nossas próprias visões, nossas próprias teorias.


Melhoria da capacidade argumentativa

Quantas vezes temos aquela ideia a qual consideramos muito positiva, mas, por falta de um adequado encadeamento lógico de argumentos, não obtemos sucesso em tocar os corações dos nossos ouvintes? A Lógica e a Retórica são filhas da Filosofia e dentre seus objetos de estudo está a Argumentação.


Melhoria da capacidade analítica

Segundo Albert Einstein, “Tudo aquilo que o homem ignora, não existe para ele. Por isso o universo de cada um se resume no tamanho de seu saber”. Isto posto, quando avaliamos um determinado objeto, seja ele uma ideia, um conceito, um valor etc., só temos como ferramentas auxiliares de análise a nossa própria base de conhecimentos, valores, conceitos, preconceitos etc. Quando ampliamos esta base cognitiva, nossa capacidade de analisar o mundo ganha poder.


Formação de Lideranças

Nossa Ordem é (pelo menos se propõe a ser) um berço de formação e aperfeiçoamento de líderes. E temos dois públicos muito importantes que podem se beneficiar do nosso aperfeiçoamento filosófico: os próprios Irmãos que, em sua maioria, já desempenham funções de liderança em diversas áreas de suas vidas profanas e as diversas entidades paramaçônicas que congregam membros de diversas faixas etárias. Imaginem, por exemplo, o solo fértil que é um Capítulo DeMolay ou um Bethel das Filhas de Jó! O quanto podemos colaborar na formação destes jovens!!


Maior Aproveitamento dos Conhecimentos Ritualísticos

Costuma-se dizer que a Maçonaria é um “Sistema de Moralidade velado por alegorias e ilustrado por símbolos”. Se é velado, para conhecermos seus mistérios e ensinamentos, precisamos desvelar, tirar o véu destas alegorias. E, tanto as alegorias como os símbolos, em sua vasta maioria, guardam relação e fazem referências a conhecimentos filosóficos de diversas épocas além, é claro, do significado que lhe conferem os diferentes Ritos.

Estes são apenas alguns dos inúmeros “efeitos colaterais positivos” desta mágica poção chamada Filosofia.


Feita esta brevíssima introdução, há que se clarificar as intenções deste trabalho que ora se inicia: estimular os Irmãos ao estudo mais aprofundado dos diversos ramos da Filosofia sem, obviamente, a pretensão de ser exaustivo pois seria uma missão literalmente impossível. A Filosofia é um valioso cinzel capaz de aparar nossas mais incômodas arestas e nos ajudar na busca eterna da Pedra Perfeitamente Polida.

Então, sejam bem-vindos, Irmãos e amigos, a esta maravilhosa estrada do pensamento humano.


CONCEITOS FUNDAMENTAIS

Antes de iniciarmos nosso estudo, faz-se necessária a apresentação de alguns conceitos para melhor entendimento sobre o pensamento filosófico-científico, quais sejam:


PHYSYS – Mundo Físico (ou natural). Segundo a visão dos chamados Physiólogos , a compreensão do mundo natural encontra-se neste próprio mundo e não fora dele.


CAUSALIDADE – O princípio pelo qual tudo sempre teve uma causa anterior e o que distingue a explicação mítica da filosófico-científica é a referência desta apenas a causas naturais enquanto aquela fundamenta em origens imateriais, divinas, mágicas etc. O problema da causalidade é que resulta em uma regressão ao infinito e busca-se uma causa primordial (não criada) que recebeu o nome de arque. Esta seria a causa primordial perseguida por inúmeros pensadores.


COSMOS – Traduz a ideia de ordem, harmonia e beleza e opõe-se ao CAOS que seria precisamente a ausência de ordem, um estado anterior à sua organização . Deste conceito deriva o tempo “cosmologia” como sendo o estudo dos processos, forças e fenômenos naturais que integram o universo.


LOGOS – Em grego tem o significado de discurso, mas devemos entendê-lo como uma explicação fundamentada por explicações, por argumentos. Daí deriva o termo “lógica”. Na visão dos primeiros filósofos, segundo MARCONDES (2002) “é a correspondência entre a razão humana e a racionalidade do real, o que tornaria possível um discurso racional sobre o real”.


CARÁTER CRÍTICO – Diferente do pensamento mítico, naturalmente dogmático, o pensamento filosófico-científico tem, na dúvida e na crítica constante, seu motor de propulsão. O questionamento era estimulado na Escola de Mileto e outras desde que justificado. Ou seja, uma tese era contraposta por uma antítese e do confronto racional entre os argumentos de uma e de outra, nascia a síntese. Esta, elevada ao patamar de nova tese, estava agora passível de ser contraposta por nova antítese e assim o processo dialético se perpetua em busca do lugar mais próximo das verdades.


OS PRIMÓRDIOS

Tales de Mileto (624-546 a.C) é reconhecido por Aristóteles, 200 anos após sua morte, como tendo sido o primeiro filósofo. Era uma época em que, por força do incremento das relações comerciais entre os povos e contato entre diferentes culturas, a força dos Mitos começava a ceder lugar a uma busca mais metódica de explicações sobre a Physis (Mundo Natural) com se pode depreender do trecho abaixo:

“A partir da observação, Tales deduziu que condições específicas de tempo, e não súplicas aos deuses, levavam a uma boa colheita. Dizem que ele, prevendo uma alta produção das oliveiras em certo ano, comprou as moendas de azeitonas da região, obtendo grandes lucros depois, ao alugá-las para satisfazer a demanda crescente.”


Ele também buscava encontrar a substância fundamental (arché) que, segundo suas concepções, deveria ser a base de tudo, ser essencial à vida, capaz de se mover e capaz de mudar, chegando então a definir a água como esta substância básica da constituição do Mundo Natural. Saliente-se que a cultura grega contemporânea a Tales ainda sofria (e assim seria por um bom tempo) influência das epopeias Homéricas (Ilíada e Odisseia) e da Teogonia de Hesíodo e, sob esta influência, o Deus Oceano (mais velho dos Titãs) era de onde tudo provinha. Entendemos, considerada esta influência, como absolutamente natural, esta teoria da origem aquática do mundo.


Tales era, acima de tudo, um professor, o primeiro da chamada Escola de Mileto (ou Jônica). Anaximandro (610-546 a.C.), seu discípulo, expandiu suas teorias e depois tornou-se mentor de Anaxímenes (585-528 a.C.), que considerava que a substância primordial era o ar (pneuma) uma vez que este é incorpóreo e se encontra em toda parte. Anaximandro, por sua vez, entendia que este princípio deveria ser “infinito espacialmente e indefinido qualitativamente: conceitos, estes, que em grego se expressam com o único termo, ápeiron(grifei).


As Teorias de Heráclito de Éfeso (535-475 a.C.) vieram de encontro ao pensamento da Escola de Mileto. Ele entendia o Universo como um único e fundamental processo de mudança governado por um logos divino. A Natureza estaria em constante mudança e é clássica a sua máxima “panta rhei” (“Tudo Escorre” ou “Tudo Muda”). A Physis estaria governada pela chamada “Harmonia dos Contrários”. Exemplificando: a fome torna prazerosa a saciedade; o cansaço nos faz valorizar o descanso; a luz e as formas não seriam distinguíveis sem as sombras. E, por isso, ele atribui ao fogo o status de substância primordial visto que ele opera constantes mudanças de estado nas substâncias.


Falamos da água (Tales), do ar (Anaxímenes), do fogo (Heráclito) e penso que convém, antes de prosseguirmos, citarmos Leucipo (início do Séc. V a.C.) e Demócrito (460-371 a.C.). Ambos fizeram parte da conhecida escola atomista, a qual propunha a realidade composta por átomos e espaços vazios que, juntos, permitiam o movimento das substâncias. Estes átomos seriam indivisíveis e, portanto, a base de tudo que existe.


Percebam que vai se formando, através do tempo, uma teoria muito citada nas em algumas simbologias de nossa augusta Ordem: a Doutrina dos Quatro Elementos. E, o primeiro que se notabilizou por esta linha teórica foi Empédocles de Agrigento (490-430 a.C) e sua teoria manteve-se robusta e aceita por séculos até a modernidade, fundamentando inclusive bases místicas do conhecimento alquímico e hermético.


Platão nos apresenta também esta teoria em diversas partes do seu diálogo Timeu-Crítias:

“Foi por isso que, tendo colocado a água e o ar entre o fogo e a terra, e, na medida do possível, produzido entre eles a mesma proporção, de modo a que o fogo estivesse para o ar como o ar estava para a água, e o ar estivesse para a água como a água estava para a terra, o deus uniu estes elementos e constituiu um céu visível e tangível. Foi por causa disto e a partir destes elementos – elementos esses que são em número de quatro – que o corpo do mundo foi engendrado”. (PLATÃO, 2011)


SÓCRATES (469 a 399 a.C)

Este nome é, sem dúvida, um dos principais, senão o maior marco do pensamento. Considerado o fundador da Filosofia Ocidental nada deixou de escrito, não organizou nem fundou nenhuma escola, mas escreveu seu nome na História por sua postura questionadora e, por que não dizer, provocativa entre o povo ateniense. Filho de um pedreiro e de uma parteira, Sócrates considerava que a vida só valeria a pena ser vivida se pautada pela virtude, mas, para isso, era preciso distinguir o bom e o mau proceder.


No entanto, ao contrário de boa parte do pensamento contemporâneo, Sócrates acreditava que os conceitos de bom e mau eram absolutos e, para distingui-los era necessário um processo de questionamento temperado pela razão. Sócrates, através de uma técnica conhecida por “Maiêutica Socrática” ou, tecnicamente, o “Método da Análise Conceitual”, exercia a arte de fazer parir, não crianças como sua mãe, mas ideias. Ou seja, através de uma sequência bem direcionada de perguntas ele levava as pessoas a colocarem para fora seu próprio conhecimento. Platão, em seu diálogo Teeteto, transcreve o que seu mestre teria dito a respeito. Vejamos:

A minha arte obstétrica tem atribuições iguais às das parteiras, com a diferença de eu não partejar mulher, porém homens, e de acompanhar as almas, não os corpos, em seu trabalho de parto. Porém a grande superioridade da minha arte consiste na faculdade de conhecer de pronto se o que a alma dos jovens está na iminência de conceber é alguma quimera e falsidade ou fruto legítimo e verdadeiro. Neste particular, sou igualzinho às parteiras: estéril em matéria de sabedoria, tendo grande fundo de verdade a censura que muitos me assacam, de só interrogar os outros, sem nunca apresentar opinião pessoal sobre nenhum assunto, por carecer, justamente, de sabedoria.


O papel dos filósofos, na visão de Sócrates, não era o de transmitir conhecimento, mas fazer com que o outro dê a luz às suas próprias ideias. Além disso os Diálogos Socráticos, trazidos à luz do mundo por seu mais dedicado discípulo (Platão), eram considerados aporéticos ou, melhor explicando, inconclusos.


Há ainda determinadas correntes de estudiosos que defendem ter sido o Elenchus e não a Maiêutica o método utilizado por Sócrates para investigar as supostas verdades de seus interlocutores. O argumento, em resumo, é que parir uma ideia pressupõe que esta ideia já existia, pronta, dentro da mente do interlocutor enquanto, através do Elenchus, Sócrates partia da afirmação inicial de seu debatedor e, por meio de perguntas simples e objetivas, conduzia o diálogo até refutação total daquela afirmação pretensamente verdadeira.

A aplicação do elenchus produz uma série de efeitos no interlocutor de Sócrates: parte deles são desejados pelo próprio Sócrates, enquanto outros são, por assim dizer, efeitos colaterais indesejados. Entre esses efeitos indesejados está o embaraço em que o interlocutor muitas vezes se encontra após o elenchus, o que pode gerar um profundo ódio da parte desse último. Na Apologia (21 c- d- e; 23 a), Sócrates reconhece que sua impopularidade se deve justamente a tais efeitos indesejados da aplicação do elenchus. Isso revela que o elenchusnão somente afeta o interlocutor racionalmente como também põe a descoberto a inconsistência dos princípios que regem suas ações no mundo, abalando-o também emocionalmente. (DINUCCI, 2010)


Sócrates, ao contrário de seus predecessores, preocupava-se não tanto com a Natureza e suas leis, mas com a questão ético-política e esta preocupação é fruto das mudanças pelas quais passava a sociedade da sua época tais como o surgimento da democracia; o fortalecimento das cidades-estados; o desenvolvimento do comércio e consequente aumento na interação com outras civilizações, culturas e crenças; as reformas políticas que já vinham se processando desde os governos de Sólon e Clístenes; o surgimento do teatro e das tragédias gregas (Ésquilo e Sófocles); os relatos históricos e geográficos (Heródoto, Tucídides, Xenofonte).


Todos estes fatores contribuíram, por exemplo, para deslocar o que se entendia por ciência para longe das práticas mágicas ou sobrenaturais e aproximá-la de uma visão mais secular (laica) da realidade.


Sócrates tinha como “adversários” intelectuais um grupo de pensadores chamados Sofistas. Ele os acusava de não buscarem a verdade e sim, através do domínio da retórica e da oratória, vencerem contendas argumentativas, ganharem debates em defesas de causas ou acusações contra cidadãos. Mal comparando e com todo o respeito a que faz jus esta nobre categoria seriam os advogados de Atenas.


Mas a influência dos Sofistas se fez presente muito além desta visão socrática de suas atividades. Alguns merecem destaques e citaremos dois deles. O primeiro, Protágoras de Abdera (490 a 421 a.C) é o autor de uma conhecida frase: “O Homem é a medida de todas as coisas. Das que são como são e das que não são como não são.” Ele defendia que todo processo decisório passa pela superação das diferenças através do uso da dialética e com o objetivo de se atingir o consenso.


Já Górgias nos relata: “mais importante que o verdadeiro é o que pode ser provado ou defendido”. Posso citar um exemplo para ilustrar esta frase: não conheço a essência da gravidade, mas sei como ela funciona. Isso me basta e bastou para levar o homem à Lua.

Sócrates teve um fim trágico justamente por seu empenho na busca das verdades e estímulo à uma consciência libertadora dos cidadãos. Acusado de desrespeitar as tradições e corromper a juventude, foi-lhe oferecida a opção entre beber veneno (cicuta) ou ser exilado para sempre. Escolheu a primeira opção pois, além da condição de viver o resto da vida como estrangeiro ser terrível, fugir seria negar tudo que acreditava como correto.


Mas a grande verdade é que, ao longo da vida, Sócrates colecionou inimigos à medida em que desmascarava os pretensos sábios, provando, através da sua prática dialética, que eles além de não saberem tanto o quanto supunham também desconheciam os limites da própria ignorância.


PLATÃO (428 a 348 a.C)

Filho de uma família da aristocracia Ateniense, seu nome verdadeiro era Arístocles. O apelido Platão, que significa “amplo” ou “de ombros largos” foi-lhe atribuído por sua compleição física privilegiada, fruto de práticas atléticas.


Foi o fundador da célebre Academia que tem seu nome proveniente de uma homenagem ao Herói Grego Academus . Curiosamente a palavra Academus ou Hecademus, via latim, etimologicamente, origina-se do grego jekas (aquele que age longe) + dêmos (povo), o que, em tradução livre, significa “aquele que age livremente, fora das pressões do povo” . Isso nos diz muito sobre o pensamento platônico e a busca de uma verdade distante do senso-comum e trabalhada através da pura dialética, ciência que Platão considerava sagrada e, até certo ponto, “perigosa”. O poder da palavra e do convencimento sempre foram tidos, Por Platão, como ferramentas divinas, se utilizadas para o bem, e terríveis, se manipuladas por mentes mal-intencionadas ou inábeis.


Foi educado para um futuro político, mas tornou-se discípulo de Sócrates e produziu inúmeros diálogos onde reproduz as interações do mestre com outros personagens atenienses. Há controvérsias sobre o limite da reprodução genuína e a influência das próprias ideias e, considerando-se estas questões, podemos dividir estes diálogos em quatro fases temporais: Diálogos autênticos (399 a 390 a.C.); Diálogos Intermediários (389 a 388 a.C.) onde encontramos a Teoria das Formas e os princípios do Platonismo e da Metafísica Clássica; Diálogos da Maturidade onde ele já faz uma crítica aos limites da Teoria das Formas e os Diálogos de sua fase final. A Tabela 01 ilustra esta divisão (MARCONDES, 2002) a qual nos parece ser extremamente útil até mesmo como referência para estudos posteriores, visto que relaciona os diálogos com os seus respectivos temas principais.


Tabela 1. Obras de Platão

Tabela 1. Obras de Platão

Então não podemos classificá-lo, em absoluto, como um simples escriba das ideias de seu mestre Sócrates. Provavelmente, sem o seu trabalho, o mundo não viesse a tomar contato com a riqueza do pensamento Socrático, mas sua genialidade é bastante própria e ele, por sua vez, tornou-se um grande mestre, gerando pupilos igualmente geniais, dos quais podemos citar o grande Aristóteles.

É assim que Platão assume a herança de Sócrates e se encarrega da direção da luta crítica com as grandes potências educadoras de seu tempo e com a tradição histórica de seu povo; com a sofística e a retórica, o Estado e a legislação, a Matemática e a Astronomia, a ginástica e a Medicina, a poesia e a música. Sócrates apontara a meta e estabelecera a norma para o conhecimento do bem. Platão procura encontrar o caminho que conduz a essa meta, ao colocar o problema da essência do saber. Passando pelo fogo purificador da ignorância socrática, sente-se capaz de chegar mais longe que ela, ao conhecimento do valor absoluto que Sócrates buscara, e de por meio dele restituir à ciência e à vida a unidade perdida. (JAEGER, 2013).


Podemos dizer, sem hesitação, que seu mais importante e conhecido diálogo é a República, onde ele desenha um ideal de cidade-estado com uma bem definida estratificação de funções e onde o governo seria exercido por sábios. A este líder ele chamou de Rei-Filósofo. Platão faz uma crítica à democracia pois, neste sistema, o voto de uma pessoa ignorante teria o mesmo peso de um sábio.


É também na República que ele apresenta seu célebre Mito da Caverna onde, simultaneamente, ele aborda a Teoria das Formas e faz uma metáfora relacionada ao assassinato de Sócrates pelo governo Ateniense.


MITO DA CAVERNA

Resumidamente o Mito da Caverna pode ser assim descrito:

Prisioneiros criados presos, dentro de uma caverna inatingível pela luz do Sol, e voltados para uma parede, sem condição de olhar para outro lado, passam a vida a enxergar as sombras projetadas na parede por um foco de luz sobre alguns objetos, pessoas ou animais que transitam sobre um muro, posicionado atrás deles e do qual eles também não têm visão ou consciência. Para eles o mundo real é o mundo das sombras pois não conhecem outra realidade nem conseguem explicar a origem (princípio criador) destas sombras.


Em um determinado momento, um deles consegue se libertar e, além de tomar ciência do aparato que projeta as sombras, vai mais além, sobe pelo túnel que liga a caverna ao mundo exterior e toma contato com a origem da Verdadeira Luz, o Sol, a Natureza, os animais em suas formas verdadeiras.

Figura 1 - Jan Saenredam: Il mito della caverna (1604)

Figura 1 - Jan Saenredam: Il mito della caverna (1604)


Este homem, volta para avisar seus companheiros de que há muito mais a se conhecer do que seus limitados pontos de vista permitem. Eles, achando que ele está louco e tentando destruir tudo que eles acreditam como verdade, o matam.


CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Filosofia nos estimula a buscar formas de compreender o mundo e tornar o mais agradável possível a nossa passagem por este plano. Aliado aos objetivos de nossa Fraternidade enquanto escola de moralidade e ferramenta para tornar feliz a humanidade, o estudo da Filosofia é, ou deve ser, um facilitador nesta missão.


Isto posto, de tudo que abordamos até agora sob um viés histórico, tomo a liberdade de selecionar o célebre mito do grande Platão e dar a minha leitura pessoal de um de seus elementos, mas os Irmãos podem e devem se sentir à vontade para tomar contato com o texto original da República e buscar suas próprias interpretações.


Podemos visualizar as correntes como os conceitos que nos amarram deste a infância. Nossa educação familiar e tradicional tem um papel importantíssimo na nossa formação, mas, sem dúvida, constrói também algumas correntes, ou seja, limitadores que precisam ser rompidos pelo questionamento, pela reflexão, enfim, pelo exercício da razão.


A nossa Fraternidade, que tem como um dos objetivos a livre investigação da verdade, não tem espaço para dogmas. Uma sociedade de Livres Pensadores precisa ter a liberdade e o dever de questionar tudo. Exercer o processo dialético à exaustão e buscando a excelência do pensamento. E aos que ousam levantar a voz para apontar que “O Rei está nu” eu direciono minhas mais positivas energias e estímulo a que jamais se calem. A Humanidade já viveu e ainda vive tempos trevosos, onde o obscurantismo grassa entre as massas e, pasmem, contamina mentes (em tese) muito bem formadas sob o ponto de vista acadêmico. Sempre haverá os que tentarão matar, simbólica ou realisticamente, o direito de pensar diferente.


A humildade de submetermos nossas crenças incansavelmente ao escrutínio da razão não é garantia de atingirmos a Verdade, mas é o único caminho de nos aproximarmos cada vez mais dela.


Este trabalho pretende ser o início de um despretensioso passeio pela história e alguns conceitos da Filosofia. Se o Grande Arquiteto do Universo assim o permitir, tencionamos, em peças posteriores, dar continuidade a esta caminhada de fomento ao estudo da filosofia não como mera e estereotipada ferramenta de divagações, mas como algo que deve e pode ser trazido para nossa vida diária. Afinal, parafraseando o grande Mestre Sócrates:


“Uma vida não refletida não vale a pena ser vivida”.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS E OBRAS CONSULTADAS

DINUCCI A. L. O ELENCHUS COMO O PRINCIPAL INSTRUMENTO DA PEDAGOGIA

SOCRÁTICA. Saberes: Revista interdisciplinar de Filosofia e Educação, [S. l.], v. 1, n. 1, 2010. Disponível em: https://periodicos.ufrn.br/saberes/article/view/547. Acesso em: 17 maio. 2022.

JAEGER Werner. PAIDEIA: A formação do homem grego.6ª ed. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes. 2013.

MARCONDES, Danilo. INICIAÇÃO À HISTÓRIA DA FILOSOFIA: Dos Pré-Socráticos a Wittgenstein. 7ª ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2002.

PLATÃO. TIMEU-CRÍTIAS. Coleção Autores Gregos e Latinos: Série Textos. 1ª ed. Trad. do Grego, Introd. E Notas Rodolfo Lopes. ECH ed. Coimbra – Portugal, 2011.

REALE G. e ANTISERI D. HISTÓRIA DA FILOSOFIA – Vol. 01 – filosofia pagã antiga. 3ª ed. Ed. Paulus: São Paulo, 2007.

VÁRIOS COLABORADORES. O LIVRO DA FILOSOFIA. Tradução Douglas Kim. São Paulo: Globo. 2011.


 
 
 

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