O BIBLIOTECÁRIO: MUITO MAIS ALÉM DE UM GUARDIÃO DE LIVROS
- Maçonaria com Excelência
- 14 de ago.
- 9 min de leitura
Por Mario Cristino Bandim Vasconcelos
O artigo abaixo é um trecho do livro GESTÃO MAÇÔNICA INSPIRADORA: BOAS PRÁTICAS PARA O SUCESSO DE UMA LOJA, a obra aborda a estrutura da Loja Maçônica, seus Cargos, Funções e Planejamento Estratégico.
O livro é essencial ao maçom que busca aperfeiçoar-se na Arte Real. Todo lucro do autor, com a venda do livro (versão digital), será destinado ao Grupo Espírita Casa da Prece. Para adquirir o livro, basta clicar no botão abaixo.
O BIBLIOTECÁRIO: MUITO MAIS ALÉM DE UM GUARDIÃO DE LIVROS
Não por acaso iniciamos a viagem da leitura do livro por este cargo, pois entende-se como uma atividade das mais essenciais de estímulo intelectual aos pretensos Livres Pensadores que devem, sim, meus Irmãos, afirmo com veemência: devem se dedicar à leitura[1]. Contudo, esta seria uma visão por demais simplista, pois entende-se que esta função vai muito, mas muito mais além do que se restringir à guarda das obras literárias que compõem o acervo da literatura física ou digital.
Por isto, traçamos abaixo duas visões sobre este cargo, a visão ordinária, onde, praticamente, a grande maioria dos Bibliotecários das Lojas Maçônicas devem se encontrar. Em contraponto, de modo clínico, sob uma expectativa de melhoria contínua, indicamos um caminho evolucionário para a função, o que denominamos de visão extraordinária. Nesta abordagem, é esperado que se ofereça um “algo a mais”, o que, de certo, trará o diferencial aos que se dedicam a esta bela função de engrandecer o conhecimento na Maçonaria.
Geralmente o Venerável Mestre, com sua necessária sabedoria e conhecimento das características dos Irmãos do Quadro, vai atribuir esta tarefa a um Irmão que, minimamente, tenha gosto pela leitura e alguma afinidade com controle e organização.
Certamente, não é uma condição eliminatória, mas muito desejável, ficando claro que não se quer buscar, de modo imediato, obreiros do nível de um Manoel Rodrigues da Silva Abreu, o primeiro bibliotecário da Biblioteca Pública de Braga (Portugal), que era maçom (SEQUEIROS, 2020, p. 130). Porém, deixa-se a recomendação de que a sua trajetória pode e deve inspirar quem desempenha a função de Bibliotecário em uma Oficina Maçônica.
A JÓIA DO CARGO

O seu símbolo, na liturgia maçônica, é estruturado com uma pena colocada sobre um livro aberto. A pena simboliza a escrita necessária para o controle dos registros de entrada, saída e outras atividades dignas de que sejam registradas, inerentes ao acervo existente. Já o livro aberto simboliza a base de informação que está acessível a todos os irmãos.
VISÃO ORDINÁRIA
A função tradicional ou, como denominamos, ordinária do Bibliotecário é doar o seu tempo à Loja Maçônica para responsabilizar-se pelo controle, organização e preservação do acervo de obras acadêmicas existentes que podem ser impressos, em mídia digital e ou em outros meios que não param de surgir advindos do crescimento exponencial dos recursos tecnológicos.
A função de Bibliotecário, parece ser esquecida na grande maioria das Lojas e até inexistente na maioria dos Ritos, pode se revestir de extrema utilidade para o enriquecimento cultural e a formação dos obreiros das Lojas. Como por exemplo, na legislação da GLESP[2] encontramos a citação a este cargo apenas na Constituição (Grande Bibliotecário) e, no Regulamento Geral, na enumeração dos cargos do Rito Escocês Antigo e Aceito. Mesmo assim, não há referência legal expressa às suas atribuições, o que tende a indicar um sintoma de uma pouca importância atribuída a esta função pelo próprio legislador.
Isto posto, vejamos o que um Bibliotecário Maçom pode fazer para transcender o básico e “entregar” aos seus Irmãos um serviço temperado pela dedicação, de modo a colaborar no enriquecimento cultural da Loja.
VISÃO EXTRAORDINÁRIA DESEJADA PARA A REALIDADE CONTEMPORÂNEA
O irmão, na função de Bibliotecário, com visão extraordinária, possui a finalidade de ser responsável pela guarda e gestão de um acervo da Oficina, que não é somente literário. Dentro deste acervo, além de obras literárias, estão relacionadas outros itens importantes, tais como: medalhas, pinturas, correspondências enviadas e recebidas, diplomas, cartas, paramentos, regimentos internos, recortes de jornais, boletins específicos, livros de atas, livros de ingressos, livros de tesouraria, livros de inquéritos, registros fotográficos, desenhos, projetos e outros documentos ou, ainda, objetos que possam ser considerados como parte do patrimônio da Oficina, que podem contar a trajetória histórica da Loja desde a sua fundação até o momento atual.
Por conseguinte, fundamentalmente, possui a atribuição principal de seguir um modelo de ação de zelar pelo patrimônio existente, com o atributo de preservar o sigilo necessário, dentro de uma linha de pensamento de “preservar as diversas coleções de caráter histórico- simbólico”, defendida por Fernando e Lopes (2020, p. 2). Além disto, neste contexto, deve estar atento para indicar a necessidade de restauração de itens, quando aplicável, e ter o vigor necessário para buscar novas contribuições para um crescimento organizado e planejado dos arquivos da Biblioteca da Oficina. Contudo, é importante ressaltar este controle e organização, para trilhar o caminho oposto do que é encontrado, na prática, conforme Silva (2019, p. 3) que verificou em sua pesquisa de campo que “quase sempre tais arquivos não obedecem a protocolos arquivistas e de conservação”.
Estimular os Irmãos a doarem seus livros para o acervo da Oficina ou colocarem os mesmos à disposição dos Irmãos. Um livro maçônico guardado em casa só ocupa espaço ou chama a atenção de olhos profanos, nem sempre preparados para compreender o pensamento Maçônico e, por isso, passíveis de gerar interpretações equivocadas. Já na biblioteca da Loja ele estará disponível tanto ao dono original do livro quanto aos demais Irmãos. O que um livro nos proporciona alimenta nossas almas e trata-se de um exercício de desapego ofertar a obra para que outros Irmãos possam dela desfrutar.
Esta mesma abordagem pode ser dada aos objetos de valor histórico para a Loja.
Dentro do conceito desenvolvido por Zahlouth (2016), ao conceituar o Bibliotecário como um profissional da informação dos tempos modernos, deve existir um fomento a atividades de divulgação deste acervo que envolvam meios multimídia, preservando o sigilo necessário, como, por exemplo, pelo uso de grupos fechados no Facebook, WhatsApp, Telegram, Signal, Instagram, pois a Cultura pode ser estimulada por estas diversas mídias, principalmente, após o estímulo indireto pelas adversidades trazidas pela Pandemia 2020.
Neste período, os encontros virtuais de estudos maçônicos por plataformas digitais por meio da internet, tais como Google Meet, Zoom e outras se disseminaram de tal forma que se tornou até difícil escolher, dia a dia, a que palestra assistir. Toma-se isto como um fruto positivo advindo de uma catástrofe de âmbito global, ou seja, uma flor de lótus que conseguiu brotar em meio à lama.
Ainda se recomenda, instruir-se e orientar os Irmãos, através de palestras, trabalhos ou outros veículos, sobre as formas corretas de apresentação de trabalhos e pesquisas, pois o que se vê, na prática, são trabalhos se repetindo ao infinito com trechos copiados e colados, geralmente da Internet, sem referências ou citações. Trata-se de um conhecimento muito útil até mesmo para a vida profana: os padrões ABNT de cada tipo de documento (Artigo, Livro etc.), a importância ética de citação das fontes e de correta referenciação das obras ou de trechos destas etc. Seria uma ótima oportunidade de engrandecimento cultural e um bom termômetro sobre a qualidade dos trabalhos, além de ser um norte para os Irmãos que desejem aprofundar os estudos. Com isto, tem-se a pretensão de se fazer a correta referência e correta citação da bibliografia consultada como uma prática de consideração aos autores, aliando-se ao dever legal da legislação específica sobre direito autoral e plágio.
Capacitar-se em Pesquisa Maçônica e buscar interação da Oficina com Lojas de Pesquisa, pois o acervo existente pode conter obras importantes para o mundo maçônico, como defende Fernandes (2021, p. 14) em “instituições relacionadas à maçonaria abrigam acervos de interesse histórico”. No capítulo “O Papel da Informática” ofertamos, aos Irmãos, uma série de opções de sites para pesquisa e estudo. Ter a integração necessária com outras Lojas, órgãos maçônicos ou públicos para a contribuição, compartilhamento, disseminação ou aprendizagem por meio de sinergias entre acervos históricos relacionados à maçonaria, abordando temas pertinentes à Ordem, que envolvam aspectos fundamentais no exercício desta função defendidos por Zahlouth (2016, p. 15), tais como “ética informacional, disseminação da informação e gestão de conhecimento” na organização maçônica. De certo, será ofertado aos Irmãos um repertório muito mais amplo e de fácil acesso à literatura maçônica, sobretudo para determinados temas mais específicos fora do dia a dia maçônico.
A função pode ser robustecida para que tome o papel de um orientador ou mentor cultural, um compartilhador de informações, um apontador de caminhos, um pesquisador, ou seja, um fomentador de cultura de modo geral para a instituição maçônica. Corrobora esta argumentação a visão de Zahlouth (2016, p. 13):
“A importância está em assessorar os irmãos maçons, pois naquele ambiente de trabalho, do profissional Bibliotecário, é um pouco diferente das outras unidades de informação, pois, apesar da essência ser a mesma de outro local, sua atuação requer um pouco mais de conhecimento específico, pois, trata-se de uma organização em que existem rituais e normas que são diferenciadas de outros locais de atuação do profissional Bibliotecário.”
Por conseguinte, ao estar investido desta mentalidade em sua missão, pode trazer muitos esclarecimentos importantes para os Irmãos e orientá-los em direção ao alimento da alma: a Cultura e o Conhecimento aplicado ao seu bem e à sociedade. Alinhando-se ao que Silva (2020, p. 15) verifica que as Lojas podem ser tomadas como “espaços educacionais utilizados para a transmissão da filosofia maçônica”.
Deve existir um foco no compartilhamento e democratização da informação, estimulando a “circulação e intercâmbios das coleções, além da produção de conhecimento elaborado a partir de sua constituição” (FERNANDES, 2021, p. 20), pois conhecimento não socializado, é um conhecimento morto. Compartilhar informações culturais é um ato de generosidade fraternal pois, muitos estão sedentos de saber com latas de água em suas cabeças, ou seja, tendo as fontes ao alcance, faltando um mínimo de informação, uma dica, uma tênue luz para acesso a recursos potencialmente realizadores.
Caso a Loja não possua biblioteca, convém estudar a possibilidade de implementação de uma que pode ser física, digital ou ambas, bem como um local comum para disponibilização do acervo físico. Se não for a proprietária do Templo, cabem tratativas com a(s) outra(s) Loja(s) para, eventualmente, criar-se ou manter-se um acervo conjunto, caso em que também é apropriada a formação de uma comissão com bibliotecários das Lojas.
Além disso, recomenda-se como boa prática propor à Loja, a aprovação de um percentual mínimo sobre a receita, para investimento em aquisição de obras sugeridas pelos Irmãos. Pode-se estabelecer um limite mensal de até dois ou três livros a serem adquiridos dentro do limite financeiro aprovado. É importante dizer que a natureza das aquisições deve ter relação direta ou indireta com os propósitos da Ordem, cuja análise preliminar deve ser avaliada pelo Irmão Bibliotecário e, se necessário, com a ajuda da Administração da Oficina.
Outro ponto que merece destaque seria utilizar um software de gestão de acervo, pois é necessário um rigor na identificação, catalogação, arquivamento e controle do acervo. Há aplicativos específicos para organização de biblioteca e do acervo, assim como algumas ferramentas incorporadas em outras soluções mais completas de gestão administrativa de Loja Maçônica. Trataremos disso com mais detalhes no capítulo “O Papel da Informática”, onde o leitor encontrará também uma série de sites relacionados ao tema para os que desejarem se aprofundar nesta seara e, mais além, na pesquisa de modo geral.
A definição da responsabilidade do Bibliotecário para a realidade contemporânea é abrilhantada com uma visão temperada de conceitos de Museologia e de Arquivologia, pois o prisma que se traz à luz é a gestão do acervo, o que, objetivamente, vai além do simples controle dos livros físicos, impressos ou digitais. Trata-se, certamente, de uma tarefa hercúlea, pois a falta de gosto pela leitura, em conjunto com a gestão do passado, é um problema crônico não do maçom, mas do brasileiro de modo geral, para o aprimoramento intelectual. A desinformação é grande em nossa Ordem, meus Irmãos!
De certo, no papel de agente da informação, estimula a dinâmica para que Irmãos que chegam ao grau de Mestre Maçom apresentem uma maior robustez de conhecimentos e informações básicas que devem ser construídos ao longo de sua formação simbólica na seara maçônica.
É um cargo que, mesmo não figurando na simbologia de alguns ritos Rito, pela sua importância para o fomento e incentivo à cultura dos Irmãos, pode perfeitamente ser implementado regimentalmente pela Administração da Oficina por meio de previsão em seu Regulamento Interno e, preferencialmente, atendendo ao planejamento e gestão de suas tarefas, sob a supervisão do Venerável Mestre.
Note-se que o trabalho desenvolvido pelo Bibliotecário deve ser tomado de modo construtivo, organizado dentro de uma metodologia evolucionária adotada pelos envolvidos em novas Administrações. Não se sugere um modelo disruptivo, ao contrário, ou seja, o desejado e o esperado é que seja um processo construtivo de melhoria contínua para todas as ações que emergirem, o que, de certo, se traduzirá em ganhos substanciais para os obreiros, a Loja e Maçonaria.
Sites relevantes sobre o tema
Arquivo Nacional: http://sian.an.gov.br/sianex/consulta/login.asp
Arquivo Nacional da Torre do Tombo (Portugal): http://antt.dglab.gov.pt/
Arquivo Público do Estado de São Paulo: http://www.arquivoestado.sp.gov.br/site/
Arquivo Público Mineiro: http://www.siaapm.cultura.mg.gov.br/
Biblioteca da Confederação da Maçonaria Simbólica do Brasil: https://cmsb.org.br/biblioteca/
Biblioteca Digital Luso brasileira: http://bdlb.bn.gov.br/ Biblioteca Digital Mundial: https://www.wdl.org/pt/ Biblioteca Digital de Obras Raras: https://bdor.sibi.ufrj.br/ Biblioteca Nacional Digital do Brasil:
Biblioteca Nacional Digital de Portugal: http://bndigital.bnportugal.gov.pt/
Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro: https://www.bn.gov.br/
Biblioteca Senado Federal: https://www12.senado.leg.br/institucional/biblioteca
Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea Brasileira: http://cpdoc.fgv.br/
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro: https://ihgb.org.br/
Loja de Pesquisa do Maine (EUA): maine lodge of research
Loja de Pesquisa do Missouri (EUA): missouri lodge of research
Loja de Pesquisa do Nordeste da Califórnia (EUA): northern california research lodge
Loja de Pesquisa de Ohio (EUA): ohio lodge of research Loja de Pesquisa Villard de Honnecourt (Grande Loja
Nacional de França): loge de recherche villard de
Loja Quatuor Coronati nº 2076 (Inglaterra): quatuor coronati lodge #2076 (england)
Organização do Acervo da Biblioteca: https://deltasge.com.br/site/organizacao-do-acervo-da- biblioteca/
Portal do Bibliotecário: https://portaldobibliotecario.com/ Sociedade de Pesquisa do Rito Escocês:
Notas de rodapé
[1] Suplicamos aos queridos Irmãos que, por favor, não tomem esta imperatividade como arrogância. Até porque se o caro Irmão leitor está aqui junto conosco, muito provavelmente já entendeu plenamente esta necessidade. É mais um apelo a que todos nós que valorizamos este processo de melhoria intelectual sejamos fatores multiplicadores deste gosto pela leitura. Nossa Fraternidade precisa ter estes diferenciais. Contamos com vossa fraternal compreensão.
[2] Grande Loja Maçônica do Estado de São Paulo





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