OS NÚMEROS MISTERIOSOS DO COMPANHEIRO
- 3 de ago.
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Por Carlos Roberto Pakuczewsky
OS NÚMEROS MISTERIOSOS DO COMPANHEIRO
SIMBOLISMO E INTERPRETAÇÃO ESOTÉRICA
O nosso sistema numérico, denominado indo-arábico, é de origem hindu, tendo sido introduzido na Europa no século XII. Este sistema, acabou sendo adotado em todo o mundo devido a simplicidade de compreensão e representação e pela facilidade para se fazer cálculos quando comparados com sistema numérico romano dominante na Europa naquela época.
A função precípua dos números é representar quantidades, sejam inteiras ou fracionárias, concretas (quatro laranjas) ou abstratas (quarta dimensão), reais (3x4=12) ou imaginárias (infinito, zero, Pi, etc.). No decorrer da evolução humana, porém, o homem passou a utilizar esses mesmos símbolos numéricos (1, 2, 3, ...), para finalidades completamente adversas da sua função principal dando a eles sentidos sagrados, misteriosos, esotéricos, etc. Esse estudo não científico dos números é denominado numerologia que se perde na aurora do tempo. Existem várias correntes ou escolas de numerologias, entre as quais podemos citar a numerologia oriental, hebraica, romana, orixá, etc.
É atribuída à Pitágoras, a criação dos fundamentos da moderna numerologia e tanto esta como a numerologia hebraica, assim como outros vieses da Escola Pitagórica, da Cabala, da astrologia, etc., foram adotados pela Maçonaria não como ciência, é óbvio, mas como fonte de inspiração e instruções onde os Irmãos podem retirar bons exemplos de ensinamentos na forma de alegorias. A numerologia e essas demais práticas, nos dão ainda uma demonstração clara de quanto as ciências evoluíram no decorrer da história, partindo-se do princípio que no passado elas eram “ciência de ponta”, que regulavam a vida das pessoas e o destino das nações. Ainda hoje o horóscopo, a astrologia, a leitura de cartas, etc. são exemplos vivos remanescentes dessas práticas completamente alheias aos nossos estudos maçônicos.
Em Maçonaria, os mistérios dos números 1, 2 e 3, são estudados pelos Aprendizes que também estudam um vislumbre do número 4 que serve para demonstrar a continuidade para o Grau seguinte. Os Companheiros, por sua vez, estudam a simbologia dos números 4, 5 e 6 e um vislumbre do número 7.
“A numerologia de uma forma geral é muito ampla, assim também como é amplo o estudo dos números misteriosos de cada Grau.”
O Número Quatro - Quaternário
Para Pitágoras, o quarto (4), simbolizado pelo quadrado ou cubo representa o concreto, o sólido. Recapitulando: o um, simbolizado pelo ponto (início de tudo), ou pelo ou círculo (sem começo nem fim), representa a unidade; o dois, simbolizado pela linha (junção de dois pontos) e também por uma cruz (duas linhas cruzadas), representa a dualidade das coisas e o três, simbolizado pelo triângulo, representa a unidade perfeita (unidade trina) e o sentido teórico das coisas.
Ao representar o sólido, o quaternário também representa a forma concreta, e a Obra feita.
O quatro, portanto, como primeiro número a ser estudado pelo Companheiro faz-lhe um convite para ele sair do plano teórico representado pelo três e avançar até o quatro para executar e construir a obra efetivamente, isto é, um convite para o Trabalho planejado que o Companheiro deve começar a executar após os seus estudos introspectivos de Aprendiz. O Ternário já não basta, é preciso o Quaternário. É preciso sair do subjetivo e partir para o objetivo; sair do teórico (abstrato) e partir para a prática; executar, fazer, trabalhar (concreto); enfrentar as dificuldades para concluir a Obra. Esse portanto, é o sentido do Quaternário para o Companheiro.
O Quaternário serve ainda de representação alegórica para: as quatro estações do ano; os quatro elementos (terra fogo, água e ar); as quatro direções (norte, sul, leste, oeste), etc.
Sob o ponto de vista da numerologia hebraica e da Cabala, o Quaternário representa o “Tetragrama Sagrado” simbolizado pelas quatro letras hebraica que representa a palavra sagrada que é o nome do Ser dos seres, cuja pronúncia é proibida.
Iod, primeira letra lida da direita para a esquerda, é a menor do alfabeto sagrado. Assemelha-se a uma vírgula e representa o gerador masculino, o sêmen paterno, onde está concentrada toda a virtude expansiva daquele que deverá nascer e desenvolver-se a partir dela. Representa o princípio ativo, ou seja, o ser que pensa, que quer, que manda (livre arbítrio). Simboliza o fogo realizador (arqueu), que se manifesta pelo artista, obreiro, operador, criador ou gerador. Observe que esses são atributos do Companheiro.

He, segunda letra do Tetragrama a partir da direita, corresponde ao sopro animador que, saindo do interior se espalha ao seu redor. Esta letra simboliza a vida emanada do Iod, para propagar-se, através do espaço, sob a forma de irradiação vital. He, significa em suma, a vida que não é mais do que a atividade exercida pelo princípio criador e ativo. Sem He, Iod não seria ativo e não poderia exercer o ato de pensar, querer e mandar, porque He é a expressão do trabalho, a operação ou o verbo, tomado no sentido gramatical.
Vau, em hebraico, tem a mesma função da nossa conjunção “e”. É o símbolo do que liga o abstrato ao concreto, o individual ao coletivo. Ora, aquilo que liga, que estabelece a união, denominamos meio, ambiente, atmosfera ou relação entre a causa e o efeito. Vau, portanto, refere-se à lei, segundo a qual se exerce a atividade, isto é, a arte e as regras ou condições de trabalho.
He, no final do Tetragrama, repete-se para exprimir a obra acabada, o resultado final da atividade ou o trabalho executado. Em relação ao princípio pensante, que quer e que manda (Iod), o segundo He é a ideia concebida, a determinação dada ou a ordem formulada.
As mentes menos esclarecidas somente estão interessadas na obra acabada e são incapazes de compreender as causas e os efeitos encadeado na forma Quaternária resultante de toda e qualquer ação: 1) Princípio ativo (sujeito ou agente); 2) Atividade desenvolvida por esse princípio ativo (ação ou verbo); 3) Aplicação da atividade, que se regula e se adapta conforme o objetivo (características); e, 4) Resultado produzido (objeto ou efeito).
Em Loja o Quaternário está representado pelo Delta Sagrado com a letra Iod no centro, pendente no dossel sobre o Trono do Venerável Mestre, e também pelo tetragrama sagrado hebraico ou apenas o Iod que aparece sobre o portal do Templo no Painel do Aprendiz.
O Número Cinco - Pentagrama
Para Pitágoras, o cinco é simbolizado pelo pentagrama. Suas formas e medidas escondem vários segredos místicos e da matemática. O tetragrama tomou tal importância que é chamado de “Pentagrama Sagrado”, e tornou-se símbolo da Escola Pitagórica.

O Cinco representa sobretudo, o quinto elemento da matéria, a “quintessência”. A terra, o fogo, o ar e a água são representados no pentagrama pelas pontas inferiores porque representam os quatro elementos que constituem a matéria, mas a “Quintessência”, toma a ponta superior da estrela que está mais perto do céu e representa o “espiritual”. Nesse sentido, o cinco convida o Companheiro a sair dos quatro elementos (terra, fogo, água e ar) representado pelo quatro e partir para o estudo, a compreensão e a prática da espiritualidade representado pela quintessência. O cinco se impõe sobre o quatro, assim como o espírito se sobrepõe sobre a matéria; a quintessência se sobrepõe sobre os quatro elementos, o homem domina a matéria e os demais seres vivos, e agora com o conhecimento da Quintessência, parte para o metafísico e para o espiritual.
A quintessência e o cinco, também representa a “Ação do Ser” e o Ser se manifesta unicamente pela ação; não-agir equivale a não-existir, porque aquele que existe está em perpétuo trabalho. Nada é inerte, nada é morto, tudo vive: os minerais e os corpos celestes, os vegetais e os animais. Neste sentido, o cinco convida o Companheiro para o Trabalho contínuo, para a ação, para a obtenção de resultados concretos. Em resumo, o cinco é a introdução do espírito na matéria bruta do quatro. No esoterismo, o Pentagrama que é chamado de “Estrela Flamejante ou Flamígera”, simboliza um homem com os braços e as pernas abertas com a cabeça na ponta superior da estrela e representa o microcosmo humano, isto é, o homem considerado como um mundo em miniatura. Importante frisar que o pentagrama pitagórico e o exotérico que são os objetos do nosso estudo, tem uma única ponta voltada para cima. Esse mesmo símbolo invertido (com uma ponta voltada para baixo e duas para cima), tem simbologia mística completamente diferente, interpretações adversas e não são objeto de estudo na Maçonaria.
Em Loja, o cinco é representado pela Estrela Flamígera, estando também presente no Painel Simbólico do Companheiro em posição de destaque entre o Compasso e o Esquadro.
O Número Seis - Hexagrama
O número seis é simbolizado por um hexagrama composto por dois triângulos equiláteros invertidos, formando uma estrela vazada com seis pontas que encerra inúmeras interpretações simbólicas, exotéricas, místicas, religiosas e culturais. É mais conhecido como o símbolo nacional do Estado de Israel, sendo ainda conhecido como “Estrela de Davi” e “signo de Salomão” por ter sido adotado pelos primeiros reis de Jerusalém (pai e filho).
Os dois triângulos que formam o hexagrama (seis) é a junção da dualidade (dois) e da unidade perfeita (triângulo). Sob o ponto de vista místico; seis é a soma dos três primeiros números (1+2+3) caso singular que representa a união do homem com Deus, com os outros homens e com a natureza. No hermetismo e na alquimia, um triângulo apontando para cima simboliza o fogo e apontando para baixo, simboliza a água. A junção desses dois triângulos formando o hexagrama é denominado de “água ígnea” ou água vaporizada pelo fogo, representando o fluído vital que carrega as energias ativas.

O triângulo apontando para baixo nas culturas romanas, gregas e indianas, representam a mulher (o púbis ou órgão sexual feminino) enquanto o homem é representado pelo triângulo apontando para cima (falo). Nesse sentido, o hexagrama representa a união carnal do masculino com o feminino, o coito, a fertilidade, a procriação, o ativo e o passivo. No esoterismo, o hexagrama representa a estrela do macrocosmo, ou seja, do mundo em toda a sua extensão infinita. O hexagrama aparece irradiante na parte superior do Painel Alegórico do Companheiro. Ele ainda é representado em Loja na forma com que circulam a Bolsa de Proposta e Informações e o Tronco de Beneficência.
O Número Sete - Setenário
O sete representa a harmonia, o equilíbrio estabelecido por elementos diferentes porque se somarmos sucessivamente os extremos da sequência 1, 2, 3, 4, 5 6, ou seja: 1+6, 2+5 e 3+4, o resultado sempre será sete. Dessas a combinação o 3+4, é o maior objeto de estudo na Maçonaria por representar o três (triângulo) mais o quatro (tetragrama) cuja combinação é simbolizada pelo Delta Sagrado, isto é, as quatro letras que formam a palavra sagrada, inseridas num triângulo. Em Loja, o Tetragrama pode ser substituído pelo “Olho Que Tudo Vê”.
Assim como o Aprendiz faz um prévio estudo do quatro que é um número do Companheiro, aqui também fazemos prévio estudo do sete para dar sentido de continuidade para o próximo Grau. Assim sendo, nada mais se pode estudar sobre o sete no Grau de Companheiro, já que o sete na verdade, é um número de domínio do Mestre.
A numerologia de uma forma geral é muito ampla, assim também como é amplo o estudo dos números misteriosos de cada Grau. É isso o que nos ensina a tradição sobre a simbologia numérica do Grau de Companheiro. Neste artigo, fazemos apenas uma breve introdução ao assunto com o objetivo de gerar ânimo ao Companheiro para que ele se aprofunde no simbolismo e na interpretação esotérica dos números misteriosos do seu Grau.
Que estes sábios ensinamentos tenham penetrado profundamente em vosso espírito, para que compreendas a obra que deveis executar enquanto Companheiro Maçom.
Ir. Carlos Roberto Pakuczewsky - CIM 3955 - M. I. - Rito: R.E.A.A.
Loja: A.R.L.S. Templários da Arca Sagrada nº 90 - GOSC
Participou do Concurso de Literário alusivo aos 50 anos de fundação da COMAB em ago 2023.
Contato: (47) 99993.4847 robertopaku@gmail.com




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