20 DE AGOSTO: UM DIA PARA CHAMAR DE NOSSO
- Maçonaria com Excelência
- 20 de ago.
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Por Vanderlei Coelho
POR QUE 20 DE AGOSTO É O DIA DO MAÇOM? E QUAIS SÃO AS CONTROVÉRSIAS SOBRE O TEMA?

Introdução
Para a maioria dos maçons brasileiros, 20 de agosto é o Dia do Maçom. Mas por que, exatamente, essa data foi escolhida? E mais importante: será que essa escolha resiste ao crivo da história, ou repousa sobre interpretações controversas?
Neste artigo, vamos explorar os bastidores dessa celebração, revisitar os eventos que justificam a data, e abrir espaço para o debate, afinal quando realmente aconteceu a reunião presidida por Gonçalves Ledo que supostamente foi aprovada a Independência do Brasil?
20 de agosto seria um equívoco?
No Brasil, o Dia do Maçom é tradicionalmente comemorado em 20 de agosto. Embora não exista uma lei federal que oficialize, em muitos estados da federação e municípios brasileiros a data é oficialmente reconhecida.
Antes da criação da Confederação da Maçonaria Simbólica do Brasil (CMSB), as Grandes Lojas se reuniam nas chamadas Mesas Redondas. Na V Mesa Redonda, realizada entre os dias 17 e 22 de junho de 1957, discutiu-se, entre outros temas, a instituição do Dia do Maçom, a ser comemorado em 20 de agosto.
Segundo o Irmão Kennyo Ismail[1], essa data é um equívoco:
O GOB já cometia o equívoco de comemorar o dia 20 de agosto como data maçônica desde, pelo menos, a década de 20. E as Grandes Lojas passam a, conjunta e formalmente, cometer o mesmo equívoco a partir de 1957. (ISMAIL, 2021).
Corrobora essa tese o Irmão Almir Sant’Anna Cruz[2]:
Todavia, essa data se baseia em um erro histórico cometido pelo ilustre brasileiro José Maria da Silva Paranhos Junior, o Barão do Rio Branco, ele mesmo Maçom e filho do Grão-Mestre Visconde do Rio Branco, que por sua sapiência, honradez e grande historiador e diplomata, foi seguido por inúmeros eruditos historiadores nacionais.
Seu erro foi não conhecer o calendário maçônico usado na época pelas Lojas.
A sessão que teria sido realizada em 20 de agosto (“20 dias do 6º mez do anno da V.'. L.'. 5822” = 20/08/1822) na verdade aconteceu em uma segunda-feira, 9 de setembro de 1822.
O calendário que vinha sendo usado iniciava o ano maçônico não no dia primeiro de março e sim no dia vinte e um de março.
A reunião que decidiu a Independência do Brasil
20 de agosto foi escolhido em razão da propagada reunião presidida por Gonçalves Ledo, na qual os maçons presentes teriam aprovado a Independência do Brasil — ou, em outra versão, a Maçonaria teria se posicionado a favor da Independência. Essa reunião foi datada, segundo a ata do então Grande Oriente Brasílico, no 20º dia do 6º mês do ano de 5822 da Verdadeira Luz.
Castellani, apud Ismail, revela que:
O 20º dia do 6º mês da Verdadeira Luz não foi dia 20 de agosto de 1822, erro histórico esse atribuído ao Barão do Rio Branco. Castellani indica como data correta o dia 9 de setembro, ou seja, posterior ao Grito de Independência.
Calendários maçônicos
Ismail (2020) alerta:
A Maçonaria possui diferentes tipos de calendários, usados nos mais diversos ritos e épocas, cada um com sua própria lógica e significados. Porém, isso tem gerado certas confusões históricas, principalmente no Brasil, com sua pluralidade de Ritos carência de registros legais disponíveis, de bibliotecas maçônicas e, principalmente, de literatura maçônica de qualidade.
Ele recomenda que:
A Maçonaria Simbólica, ou seja, as Obediências Maçônicas e suas Lojas, deve adotar o Anno Lucis (Ano da Luz), abreviado como A.'. L.'.. Sua data é calculada acrescentando 4000 anos à data do ano civil corrente. A adoção do Anno Lucis na Maçonaria Simbólica foi iniciativa de James Anderson, que acreditava que a Maçonaria deveria ter uma forma própria de marcar as datas, diferente de calendários religiosos como o judaico e o gregoriano. Ele tomou por base os cálculos de um arcebispo anglicano irlandês, James Ussher, que determinou, com base nos registros bíblicos, que o mundo teve origem no ano de 4.004 a.C. Para facilitar a utilização, Anderson arredondou a criação do mundo para 4.000 a.C.
Daza (1997), apud Ismail, afirma: “No Rito Francês ou Moderno, o primeiro dia do ano foi tido como 1º de março e os meses passaram a ser contados pelo número ordinal”.
A afirmação de que a sessão ocorreu em 20 de agosto estaria correta caso se considerasse o calendário maçônico francês. Nesse sistema, o 20º dia do 6º mês do ano maçônico de 5822 corresponde, de fato, ao dia 20 de agosto de 1822.
Já o Calendário Maçônico Gregoriano, defendido por Castellani como o sistema utilizado nas primeiras atas maçônicas brasileiras, fixa o Equinócio Vernal em 21 de março como o 1º dia do ano. Assim, o 20º dia do 6º mês de 5822 seria 9 de setembro de 1822.
Ismail contesta a teoria de 9 de setembro, defendida por Castellani, apontando inconsistências históricas:
A teoria de 9 de setembro, defendida por Castellani, em minha opinião esbarrava em algumas questões. O calendário com início em 21 de março é tido como um calendário historicamente adotado pelo Rito Adonhiramita, rito esse no qual a Loja “Comércio e Artes” teria trabalhado inicialmente e, por isso, defendido por Castellani. Porém, os registros indicam que em 1822 as três Lojas fundadoras do Grande Oriente do Brasil já trabalhavam no Rito Moderno, oficial no Grande Oriente da França e no Grande Oriente Lusitano, como o próprio Castellani também evidenciou em sua obra “Fragmentos da Pedra Bruta” (2003). Havia então certa contradição.
E Ismail ainda indaga:
Outro ponto interessante é que o Calendário com início em 21 de março foi abolido pelo Grande Oriente da França ainda em 12/10/1774, o que levava à conclusão de que o Grande Oriente Lusitano nunca chegou a adotá-lo. Se, em 1822, a França e Portugal não mais o utilizavam, o qual estava em desuso desde 1774, por que o Brasil o teria usado?
Parece que chegamos a um consenso... ou não
Após contestar a data de 20 de agosto, o Irmão Kennyo Ismail parece se convencer de que a reunião realmente tenha ocorrido nesse dia. Em seu site[3], afirma:
Considerando o formato utilizado ao datar a ata da referida reunião, minha conclusão inicial era de que se tratava do calendário maçônico usual da época nos países latinos, ou seja, a reunião teria mesmo ocorrido no dia 20 de agosto de 1822, com tempo de sobra para que a notícia tenha corrido entre os líderes populares e intelectuais da época, a ponto de provavelmente influenciar José Bonifácio e Dona Leopoldina no teor de suas cartas, que alcançaram D. Pedro no dia 7 de setembro de 1822, motivando-o a bradar o histórico Grito de Independência.
Só que não...
Ismail volta a questionar a data, afirmando que Castellani estaria correto ao dizer que o 20º dia do 6º mês de 5822 seria, na verdade, 9 de setembro de 1822, com base no uso do Calendário Maçônico Gregoriano. Ele cita:
Ao se analisar a ata de fundação do Grande Oriente Brasílico, transcrita na revista Astréa, edição de abril de 1928, constata-se que a teoria de Castellani está correta. A ata registra a fundação ‘aos 28 dias do 3º mez do anno da Verdadeira Luz de 5822’. Sabe-se que o Grande Oriente Brasílico foi fundado em 17 de junho de 1822, próximo ao dia de São João Batista. Um cálculo simples comprova o uso do Calendário Maçônico Gregoriano.
Conclusão
Afinal, qual é a data correta: 20 de agosto ou 9 de setembro?
É consenso entre os pesquisadores que a escolha do Dia do Maçom está ligada à reunião presidida por Gonçalves Ledo, na qual a Maçonaria teria se posicionado a favor da Independência do Brasil. O que permanece em debate é o dia exato em que essa reunião ocorreu: teria sido 20 de agosto, como tradicionalmente se acredita, ou 9 de setembro, como sugerem análises mais recentes do calendário maçônico?
Independentemente da precisão cronológica, o que se consolidou ao longo das décadas foi o valor simbólico da data. Tradicionalmente, desde a década de 1920, a Maçonaria brasileira considera 20 de agosto como o Dia do Maçom: um dia para chamar de nosso.
FELIZ DIA DO MAÇOM!

Fontes Pesquisadas:
ISMAIL, Kennyo. Ordem sobre o caos. Brasília: No Esquadro, 2020.
ISMAIL, Kennyo. Maçonaria Brasileira: a história ocultada. Brasília: No Esquadro, 2021.
NO ESQUADRO. Aula extra – Dia do Maçom. Disponível em: https://noesquadro.com.br/?s=dia+do+ma%C3%A7om. Acesso em: 19 de agosto de 2025.
Notas de rodapé
[1] Maçonaria Brasileira: A História Ocultada, p. 142.
[2] Texto publicado no grupo de WhatsApp da Academia Maçônica Virtual Brasileira de Letras (AMVBL), em 20 de agosto de 2025. Comunicação pessoal.




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