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A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E A LITERATURA COMO INSTRUMENTOS DE TRABALHO DO MAÇOM CONTEMPORÂNEO – IV

 

Lucas V. Dutra[1]

Ivan A. Pinheiro[2]


Este artigo é uma continuação. Leia também a primeira, a segunda e terceira parte clicando nos botões abaixo:




A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E A LITERATURA COMO INSTRUMENTOS DE TRABALHO DO MAÇOM CONTEMPORÂNEO – IV

 

Para a melhor compreensão deste texto recomenda-se a leitura prévia dos anteriores (Dutra e Pinheiro, 2025a, b, c) da mesma Série. Evitamos, assim, repetir e estender este texto em demasia. Assim, em resposta ao mesmo prompt submetido à Gemini e à DeepSeek, a seguir:

 

Elabore um ensaio de até 3 páginas sobre a obra literária “A Morte de Ivan Ilicht”, contendo duas partes. A primeira deve conter e justificar as cinco principais noções que determinam a importância da obra. A segunda deve realizar uma integração das noções contidas na primeira parte, que poderiam tornar esta obra literária uma ferramenta pessoal de aperfeiçoamento e conscientização para o Maçom, no que tange aos preceitos e valores da Ordem.

 

A Grok respondeu com o seguinte ensaio:

 

Ensaio sobre “A Morte de Ivan Ilitch” de Liev Tolstói

 

Introdução

“A Morte de Ivan Ilitch”, publicada por Liev Tolstói em 1886, representa uma das mais incisivas explorações literárias sobre a condição humana, a finitude e a busca por uma existência autêntica. A narrativa acompanha Ivan Ilitch, um magistrado russo que, ao enfrentar uma doença terminal, reflete sobre a superficialidade de sua vida convencional. Este ensaio, limitado a até três páginas, divide-se em duas partes. A primeira identifica e justifica cinco noções principais que conferem importância à obra, enfatizando seu valor literário, filosófico e social. A segunda integra essas noções como instrumento de aperfeiçoamento pessoal e conscientização para o maçom, alinhando-as aos preceitos maçônicos, tais como liberdade, igualdade, fraternidade, tolerância, justiça, verdade, honra, humildade, progresso e ética moral.

 

Parte I: As Cinco Principais Noções que Determinam a Importância da Obra

A relevância de “A Morte de Ivan Ilitch” decorre de sua habilidade em revelar verdades universais sobre a existência, transcendendo o contexto histórico para fornecer perspectivas eternas. A seguir, apresentam-se cinco noções centrais, cada uma justificada pela narrativa e por sua significância cultural e filosófica.

 

1. A Ilusão de uma Vida Significativa Baseada em Normas Sociais: Tolstói descreve Ivan Ilitch como indivíduo que edifica sua existência em torno de convenções burguesas, como ascensão profissional e status social, sem questionar o vazio subjacente. Essa noção é essencial porque critica o conformismo, posicionando a obra como advertência contra existências superficiais. Sua importância justifica-se pela influência em filosofias existencialistas, como as de Kierkegaard e Camus, que priorizam a autenticidade sobre aparências sociais.

 

2. A Confrontação com a Mortalidade: A trama culmina na aceitação da morte por Ivan, que inicialmente a rejeita. Essa ideia confere importância à obra ao examinar o temor à finitude, servindo como meditação sobre a transitoriedade da vida. Justifica-se por sua semelhança com textos filosóficos, como “Sobre a Brevidade da Vida” de Sêneca, incentivando reflexões éticas sobre como conduzir uma existência plena.

 

3. Autenticidade versus Conformidade: Ivan, em seu leito de morte, percebe que sua vida foi uma fachada de convenções. Essa noção justifica a relevância da obra ao opor o ser genuíno ao conformismo, atuando como crítica à hipocrisia burguesa. Sua importância reside em inspirar movimentos literários realistas que enfatizam a introspecção, influenciando análises sociais sobre alienação.

 

4. O Valor da Compaixão e da Conexão Humana: Por meio do personagem Gerasim, um camponês que oferece conforto autêntico a Ivan, Tolstói destaca a empatia como remédio ao isolamento. Essa noção é fundamental por humanizar a narrativa, justificando a obra como apelo à solidariedade. Sua importância manifesta-se em debates éticos contemporâneos sobre relações interpessoais e cuidado mútuo.


5. O Despertar Espiritual Através do Sofrimento: O sofrimento físico de Ivan propicia uma iluminação espiritual, questionando o propósito de sua vida. Essa ideia justifica a obra como jornada de redenção, alinhando-se a tradições religiosas e filosóficas, como o cristianismo tolstoiano. Sua relevância reside em transformar a dor em catalisador de crescimento, influenciando a psicologia existencial, como em obras de Viktor Frankl.

 

Essas noções, interconectadas na estrutura narrativa, elevam “A Morte de Ivan Ilitch” a um clássico da literatura, por sua profundidade filosófica e crítica social.

 

Parte II: Integração das Noções como Ferramenta Pessoal para o Maçom

A Maçonaria, como ordem filosófica e progressista, promove valores como liberdade de pensamento, igualdade fraterna, fraternidade, tolerância, justiça, verdade, honra, humildade, ética moral e compromisso com o aperfeiçoamento contínuo. Integrando as cinco noções da primeira parte, “A Morte de Ivan Ilitch” pode servir como ferramenta pessoal de aperfeiçoamento e conscientização para o maçom, aplicando-se simbolicamente à jornada maçônica, onde a narrativa tolstoiana atua como espelho para o autoexame.

 

A noção de ilusão de uma vida significativa e autenticidade versus conformidade integra-se aos preceitos de verdade e honra na Maçonaria. O maçom, orientado por símbolos como a esquadria e o compasso, busca retidão moral, rejeitando o conformismo superficial criticado em Ivan. Essa integração permite que a obra funcione como instrumento para questionar máscaras sociais, fomentando autenticidade essencial à igualdade e à liberdade de consciência, promovendo uma existência alinhada ao Grande Arquiteto do Universo.

 

A confrontação com a mortalidade e o despertar espiritual através do sofrimento alinham-se aos rituais maçônicos, particularmente ao grau de Mestre, que contempla a finitude para cultivar humildade e preparação espiritual. A negação inicial de Ivan reflete a cegueira que a Maçonaria combate via iniciação. Assim, a narrativa torna-se ferramenta de conscientização, incentivando o maçom a abraçar o sofrimento como via para iluminação, reforçando tolerância e justiça ao promover empatia e ética moral.

 

O valor da compaixão e da conexão humana integra-se à fraternidade maçônica, que enfatiza apoio mútuo e filantropia. Exemplificado por Gerasim, esse aspecto pode ser usado pelo maçom para combater isolamento, alinhando-se ao progresso social e à igualdade. A obra, portanto, conscientiza sobre a importância de relações genuínas em Lojas, evitando a superficialidade retratada na família de Ivan.

 

Essa integração holística transforma “A Morte de Ivan Ilitch” em um recurso simbólico para o maçom, facilitando o aperfeiçoamento contínuo. Ao refletir sobre as noções, o maçom pode questionar diariamente sua conduta, alinhando-a à verdade, honra e fraternidade, resultando em uma vida consciente e ética.

 

Conclusão

Este ensaio demonstra que “A Morte de Ivan Ilitch” oferece lições profundas sobre a existência. Na primeira parte, as cinco noções justificam sua importância existencial. Na segunda, sua aplicação aos valores maçônicos a posiciona como ferramenta de transformação pessoal, enriquecendo a tradição maçônica com reflexões literárias.

 

E pelos mesmos motivos foi repetida a pergunta: “Quais as referências bibliográficas utilizadas na elaboração deste ensaio?”. E a resposta foi:

As referências bibliográficas utilizadas na elaboração do ensaio baseiam-se principalmente na obra primária analisada e em fontes secundárias clássicas de filosofia, literatura e psicologia existencial, citadas de forma implícita para embasar as justificações das noções e integrações. Não foram empregadas consultas externas adicionais além do texto original de Tolstói e de conhecimentos consolidados em estudos literários e maçônicos. A seguir, lista-se as principais referências, organizadas por categoria:

Obra Primária: Tolstói, Liev. A Morte de Ivan Ilitch. Tradução variada (edições em português, como a da Editora Martin Claret ou Companhia das Letras). Publicada originalmente em 1886. Essa é a fonte central da narrativa, com análise direta dos capítulos e temas como a trajetória de Ivan Ilitch, o papel de Gerasim e o despertar final.

Fontes Filosóficas e Literárias para Justificativa das Noções: Sêneca, Lúcio Aneu. Sobre a Brevidade da Vida (De Brevitate Vitae). Escrito no século I d.C. Referenciado para paralelismo com a confrontação à mortalidade e a transitoriedade da existência. Kierkegaard, Søren. Obras existencialistas, como O Desespero Humano (1849). Citado implicitamente para influências na crítica ao conformismo e na busca por autenticidade. Camus, Albert. O Mito de Sísifo (1942). Utilizado para contextualizar a absurdidade da vida e a ilusão de significados sociais. Frankl, Viktor E. Em Busca de Sentido (1946). Referenciado para o papel do sofrimento como catalisador de iluminação espiritual e crescimento pessoal. Nietzsche, Friedrich. Conceitos de niilismo em obras como Assim Falou Zaratustra (1883-1885). Embasamento para a busca pelo sentido da vida.

Fontes para Integração com Preceitos Maçônicos: Literatura maçônica padrão, incluindo símbolos como a esquadria, o compasso e rituais dos graus (Aprendiz, Companheiro e Mestre), baseados em constituições tradicionais da Maçonaria (ex.: Constituição de Anderson, 1723, e interpretações modernas em obras como as de autores brasileiros sobre a Grande Loja ou lojas simbólicas). Os valores (liberdade, igualdade, fraternidade, etc.) derivam de princípios universais da Ordem, sem citação de texto específico. Essas referências foram integradas de maneira analítica e comparativa, sem transcrições literais, para manter a concisão e o foco interpretativo do ensaio. Caso deseje edições específicas ou expansões bibliográficas, recomendo consultar bibliotecas especializadas em literatura russa ou estudos maçônicos.

 

Considerando que já foram gerados os 3 (três) ensaios pelas IA escolhidas (Gemini, DeepSeek e Grok), o foco é então direcionado à análise comparada.

 

Todas as 3 (três) responderam a contento à demanda formulada, ainda que, grosso modo e em termos qualitativos[3], a Gemini tenha deixado mais a desejar, sobretudo no que se refere à clareza na conexão dos 2 (dois) subtemas: a Obra (“A Morte ....”) vs Maçonaria. E nesse aspecto específico – a conexão – todos os ensaios deixaram a desejar no que tange ao título: nenhum deixou claro que o que se segue é uma exploração da Obra a partir dos olhares da Maçonaria, a primeira como instrumento de trabalho dos Quadros da segunda. Textualmente:

  • “A Morte de Ivan Ilitch: O Espelho da Vida e a Busca pela Luz Interior” (Gemini);

  • “A Morte de Ivan Ilitch: Espelho para a Alma em Busca da Verdade” (DeepSeek); e,

  • “Ensaio sobre “A Morte de Ivan Ilitch” de Liev Tolstói” (Grok).

 

Isso, é claro, foge à boa técnica que recomenda, por ser o nível mais agregado de informações[4] e também o mais exposto (para o leitor), no título, em um esforço de síntese, que conste o que se segue no texto – seja livro, artigo, etc. Implicação: em uma busca direta a partir exclusivamente do título, textos como esses, que aproximam os 2 (dois) campos, não seriam detectados. De um lado, parece legítimo pensar: será que inexistem textos desta natureza? E do outro, que as IA consultadas não foram capacitadas para esses “detalhes”. E também não é possível deixar de perceber que os títulos da Gemini e da DeepSeek são praticamente idênticos, posto que a “Busca pela Luz Interior” e a “Busca da Verdade” integram o mesmo campo semântico; a propósito, talvez por esses termos, e também pela referência ao “espelho”, é possível que um leitor Iniciado, motivado pelo título (visto então como velado) se dê a ler o texto, na íntegra, para identificar as eventuais conexões temáticas existentes nos textos.  

           

E reunindo-se os 2 (dois) indicadores, já comentados, que na ausência de mais (e melhores) informações podem ser vistos como próxis dos esforços para atingir o objetivo determinado às IA, nota-se que:

1)      no que refere ao número de palavras utilizadas para a geração do ensaio, é grande a diferença entre as IA:

a.       Gemini = 1.432; DeepSeek = 1.631; e, Grok = 898. São notáveis as diferenças, sobretudo a “eficiência” da Grok que despendeu pouco mais do que a metade (55%) do esforço realizado pela DeepSeek;

2)       e do mesmo modo pode ser aferido o esforço para esclarecer acerca da ausência das Referências Bibliográficas:

a.       Gemini = 106 palavras; DeepSeek = 177; e, Grok = 352. Em comparação à anterior, a relação é praticamente invertida. Apesar de, ou exatamente por utilizar o maior número de palavras, os esclarecimentos da Grok ... efetivamente esclareceram, ao contrário da Gemini, tendo a DeepSeek ficado um pouco abaixo da média das outras.

           

Os dados acima despertam uma curiosidade investigativa situada muito além do alcance da maioria dos pesquisadores, como é o caso dos autores deste texto. Por certo que há muitos aspectos técnicos que desconhecemos (base dados, treinamento, programação, limite de tempo/processamento para aplicações gratuitas, etc.) por detrás dessas sínteses; todavia, não há como evitar uma conjectura: a “eficiência” da Grok estaria relacionada à sua maior base de dados – a julgar pelo texto-esclarecimento gerado? Não passa despercebido que, embora o esclarecimento da DeepSeek tenha sido mais abrangente que o da Gemini, tendo, por exemplo, enumerado as áreas temáticas consultadas, a Grok foi mais além: enumerou os autores, as obras consultadas, bem como o que (tema, conteúdo, etc.) foi extraído de onde: Sêneca, S. Kierkegaard, A. Camus, V. Frankl e F. Nietzsche. Esses diferenciais não são de somenos importância: basta lembrar que toda aplicação (prompt) corresponde a um custo para a Corporação proprietária que, por sua vez, tem por objetivos, a partir da oferta da versão pública-gratuita-mais simples, estimular o uso, criar a necessidade e a dependência que levem, no momento oportuno, ao usuário a contratar as versões privadas-remuneradas-ricas em recursos. Portanto, no ambiente competitivo, mesmo as versões públicas-gratuitas-simples não deixam de ser iscas concorrentes que disputam e primam por encantar os clientes em potencial.   

 

É igualmente notável que, quando (a Grok) refere à Maçonaria, à exceção da Constituição de Anderson de 1723, não há indicativo de autores consultados e, por consequência, não há (também) sugestão de consulta para os leitores-pesquisadores interessados. Salvo melhor juízo, isso, per se, talvez diga muito mais sobre a estrutura, a organização e o funcionamento da Ordem, bem como o modo como os produtores de conteúdo se expressam – vide, por exemplo: Pinheiro (2023a, b) e Pinheiro, Dutra e Mendes (2023) –, do que sobre as diferenças (que não podem ser ignoradas, é claro) entre as IA. Dividida em Potências rivais, inúmeros Ritos e cada qual com autores seminais, é difícil, na atualidade, encontrar os pares dos antigos que hoje são citados como Referências. Assim, cada Rito[5] tem as suas Referências, o que dificulta o entendimento do leitor não Iniciado e mesmo de quem se aventura a estudar a Ordem. A título de exemplo, autores que habitualmente são citados e referidos no ambiente do Rito Escocês Retificado, como Jacob Boehme, Martines de Pasqually, Louis Claude de Saint-Martin e Jean Baptiste Willermoz, literalmente inexistem no universo do Rito Moderno e são praticamente desconhecidos pela grande maioria dos praticantes do Rito Escocês Antigo e Aceito, e o mesmo se verifica entre os autores contemporâneos, a exemplo de Jean-Marc Vivenza e Ramón M. Blanco. Em outros termos: as dificuldades das IA, até certo ponto, são as mesmas que nós, pesquisadores e redatores humanos, encontramos.    

 

Dessarte, ao concluir os seus esclarecimentos, a Grok não só remete à busca genérica (e de nenhuma utilidade) em “estudos maçônicos”, como também revela uma característica comum aos 3 (três) textos gerados pelas IA experimentadas: a ausência de Citações diretas, textualmente:

Essas referências foram integradas de maneira analítica e comparativa, sem transcrições literais, para manter a concisão e o foco interpretativo do ensaio. Caso deseje edições específicas ou expansões bibliográficas, recomendo consultar bibliotecas especializadas em literatura russa ou estudos maçônicos.

 

O que, para determinadas aplicações de estudo, é um problema, afinal, é através das Citações diretas, com a indicação da página, que o leitor-pesquisador situa e (re)analisa o trecho citado no seu devido contexto para lograr a melhor compreensão. Ademais, o par Citação-Referência permite ao estudioso identificar se a edição é única, ampliada, revista (corrigida), bem como possibilita o esclarecimento de algo que por vezes se revela de grande importância: quem é o tradutor e se a tradução é direta ou indireta. No caso em tela, a obra-base pertence à matriz da literatura russa, idioma e cultura até recentemente inexplorados no Brasil. E de outro lado, sabe-se que só a leitura no idioma-mãe proporciona os conhecimentos e traz as nuances intencionadas pelo autor; porém, estas se perdem já na primeira tradução independentemente do idioma (os mais usuais: inglês, francês e alemão) e, se destes para o português, novas perdas se acumulam às anteriores e podem sobremodo prejudicar o entendimento originalmente pretendido pelo autor. Claro que aqui não se trata de uma aplicação específica e de maior exigência, como seria uma citação em tese de douramento, mas o que se pretende chamar a atenção é para os limites da IA à luz de uma necessidade (qualquer) mais específica. Por fim, não dá para deixar de conjecturar que as justificativas para que os textos não tenham “transcrições literais”, qual seja, “para manter a concisão e o foco”, sejam devidas: 1) à circunstância de as IA (ou melhor: as versões) utilizadas neste estudo não terem sido devidamente treinadas; ou 2) às restrições impostas - 5 (cinco) noções que estabelecem a importância da obra, 2 (dois) temas e 3 (três) páginas. Com efeito, trazer transcrições ao texto requer não só logística, mas também engenho e arte talvez demasiadamente humanos.

 

A ausência de pelo menos uma Citação-Referência que vincule diretamente a obra (“A Morte...) à Maçonaria sugere que as IA souberam a partir das suas respectivas bases de dados garimpar, reconhecer e comparar categorias e variáveis existentes em 2 (dois) campos distintos de saberes (Literatura e Maçonaria) e, por fim, gerar um produto próprio de um terceiro campo - produto dos anteriores. Isso revela, ou melhor, confirma, a partir de um exercício no contexto da Maçonaria, mas extensível a outros tantos, o enorme potencial das IA enquanto ferramentas auxiliares, reitera-se: auxiliares.

 

As observações (comparadas) a partir dos títulos dos ensaios talvez motivem o leitor a começar a pensar (a partir das palavras, dos sentidos - literal vs figurado -, da organização textual, da similaridade entre os campos semânticos, etc.) sobre os demais conteúdos, como é o caso da Introdução, da Conclusão e das especificações de cada uma as “[...] cinco principais noções que determinam a importância da obra” vistas na perspectiva das IA. Note-se que a forma de estruturar o texto guarda similaridade, o que, per se, também diz muito.

 

Finalmente, sem pretender exaurir o tema, mas antes complementá-lo, foi encaminhada à IA Perplexity, em 14.11.25, a seguinte questão: “no âmbito da literatura russa quais são as três principais obras que podem ser de utilidade para o desenvolvimento do ser humano à luz dos preceitos maçônicos?”. A resposta, acompanhada dos esclarecimentos (não solicitados!)  foi:

"Irmãos Karamázov", de Fiódor Dostoiévski – Esta obra explora questões profundas sobre Deus, a fé, a dúvida, o pecado, a moralidade e a busca pelo sentido da vida, temas centrais para o autodesenvolvimento e a reflexão espiritual na maçonaria.​

"Crime e Castigo", de Fiódor Dostoiévski – Trata dos dilemas morais de um homem que questiona o direito de agir acima da lei comum, refletindo sobre culpa, expiação e transformação interior, conceitos muito alinhados com a ética maçônica.​

"Pais e Filhos", de Ivan Turguêniev – Aborda o conflito geracional e a busca por novos ideais, oferecendo um olhar sobre a evolução das ideias e das posturas humanas, o que se relaciona com o desenvolvimento do ser e a compreensão do progresso moral e social que a maçonaria promove.​

 

Essas obras são clássicos da literatura russa que mergulham nas complexidades do ser humano e promovem uma reflexão profunda sobre a existência, a ética e o crescimento espiritual, fundamentais para os preceitos maçônicos.

 

A mesma pergunta, dirigida à Gemini, gerou a seguinte resposta:

À luz dos preceitos maçônicos, que enfatizam o aprimoramento moral e intelectual, a busca pela verdade e a caridade, destacam-se três obras da literatura russa:

Guerra e Paz, de Leon Tolstói: Esta obra é fundamental porque um dos personagens principais, Pierre Bezukhov, se torna um maçom e sua jornada de vida reflete diretamente a busca por significado, propósito e aprimoramento moral. O romance explora profundamente os ideais maçônicos de fraternidade, igualdade e virtude, mostrando como Pierre tenta aplicar esses preceitos na sociedade russa da época. A jornada de Pierre ilustra a busca maçônica pelo autoconhecimento e pela construção de um "novo homem", apesar de o próprio Tolstói, em última instância, retratar as limitações da maçonaria institucional da época.

Crime e Castigo, de Fiódor Dostoiévski: Esta obra aborda intensamente temas de moralidade, culpa, remorso e redenção, que são centrais para o desenvolvimento humano e a ética maçônica. Através do protagonista, Raskólnikov, a narrativa explora a ideia de que certas ações, mesmo que justificadas por uma moralidade superior autoproclamada, levam ao sofrimento psicológico e à necessidade de expiação. A ênfase na responsabilidade moral individual e na busca por uma bússola ética ressoa fortemente com os ensinamentos maçônicos sobre a virtude e a justiça.

Os Irmãos Karamázov, de Fiódor Dostoiévski: Considerada a obra-prima de Dostoiévski, o romance é um exame profundo de questões filosóficas e existenciais, como o conflito entre fé e dúvida, livre arbítrio e responsabilidade moral. Os diferentes irmãos representam visões de mundo distintas — a fé, o ateísmo racional e o sensualismo. A obra instiga o leitor a refletir sobre o "problema do mal" e a importância da caridade e do amor ao próximo (especialmente através da figura de Aliósha), valores que se alinham diretamente com os princípios maçônicos de amor fraternal e filantropia. 

 

Essas obras, embora não sejam textos maçônicos em si, oferecem ricas alegorias e explorações profundas da condição humana e do aprimoramento ético, fornecendo material valioso para a reflexão pessoal à luz dos ideais maçônicos.

 

Aos autores deste texto, não deixa de ser motivo de júbilo constatar que dentre as 6 (seis) obras ora citadas - Irmãos Karamázov (duas vezes), Crime e Castigo (duas vezes), Pais e Filhos, e Guerra e Paz – à exceção da última, as demais já haviam sido recomendadas por Pinheiro e Dutra em “A Literatura como Ferramenta para a Compreensão da Arte Real na Maçonaria Especulativa”, a ser publicado, em breve, pela Revista Ars Studiorum. Na oportunidade foi alertado que o único problema[6], à exceção de Pais e Filhos, era o volume (o número de páginas) das obras (romances), razão pela optou-se por ilustrar (o papel da literatura como instrumento para o aperfeiçoamento do maçom) a partir da exploração de 2 (duas) outras obras: "Uma Confissão" (considerada um relato autobiográfico) de Liev Tolstói; e, "Memórias do Subsolo" (considerada uma novela) de Fiódor Dostoiévski.

 

Ora, até onde sabe, ou inexistem ou, se existem, ainda são muito poucos os trabalhos que exploram a literatura como ferramenta complementar (e poderosa) ao ofício do maçom contemporâneo; destarte, é razoável, senão concluir, admitir que as IA não só corroboraram a proposta dos autores, como também revelaram ser suas auxiliares valiosas.

 

Novas questões possibilitaram ampliar o conjunto das fontes à disposição:

  • na literatura internacional:

"Nathan, o Sábio" de Gotthold Ephraim Lessing – Esta peça é um símbolo de tolerância e fraternidade, destacando um diálogo entre personagens de diferentes religiões (judeu, cristão e muçulmano), enfatizando a possibilidade da concórdia entre crenças diversas. Também promove a Maçonaria como instituição de educação e aprimoramento moral e espiritual do ser humano.

"Os Anos de Aprendizado de Wilhelm Meister", de Johann Wolfgang von Goethe – Esta obra apresenta a Maçonaria como uma escola de virtudes onde se aprende a viver segundo os princípios de liberdade, igualdade e fraternidade, valores fundamentais da Maçonaria para a formação moral e espiritual.

"Tratado sobre a Tolerância" de Voltaire – Defende a tolerância universalista, um ideal também central à Maçonaria, combatendo a intolerância religiosa e promovendo a justiça e o equilíbrio moral no ser humano.

Essas obras abordam diretamente a moral, a ética, a fraternidade, a busca pelo conhecimento e a evolução espiritual, que são pilares da filosofia maçônica para o desenvolvimento do ser humano.

A Divina Comédia, de Dante Alighieri: A jornada de Dante pelos nove círculos do Inferno, passando pelo Purgatório e alcançando o Paraíso, é uma poderosa alegoria da redenção humana e do caminho da escuridão (ignorância e pecado) para a luz (sabedoria e graça divina). A estrutura tripartida e o uso extensivo de simbolismo e alegoria ressoam com a jornada maçônica através dos diferentes graus, que visam purificar o indivíduo e guiá-lo em direção ao conhecimento superior. A ênfase na responsabilidade individual pelas próprias ações e a busca pela virtude alinham-se diretamente com os preceitos maçônicos.

Fausto, de Johann Wolfgang von Goethe: A história do Dr. Fausto, que faz um pacto com Mefistófeles em troca de conhecimento ilimitado e prazeres terrenos, é um exame profundo da condição humana, do desejo insaciável por conhecimento e da luta entre o bem e o mal. Goethe, que era um maçom proeminente, infundiu a obra com temas maçônicos. A redenção final de Fausto, não através do prazer egoísta, mas do trabalho altruísta em prol da humanidade, espelha a crença maçônica de que o verdadeiro aprimoramento ocorre através do serviço e da contribuição para a sociedade, superando as paixões e desejos inferiores.

Flauta Mágica (ópera), de Wolfgang Amadeus Mozart e libreto de Emanuel Schikaneder: Embora seja uma ópera, seu libreto e música são profundamente saturados de simbolismo maçônico. A jornada dos protagonistas, Tamino e Pamina, através de provações de fogo, água, ar e terra para alcançar a sabedoria e a iluminação no templo de Sarastro, simboliza o caminho iniciático maçônico. A ênfase na razão, na virtude, na perseverança e na união fraternal (o "amor fraternal" da Maçonaria) como meios para superar a superstição e a ignorância são temas centrais que a tornam altamente relevante para os preceitos maçônicos. 

  • na literatura brasileira:

Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa – Romance filosófico e existencial que mergulha em dilemas éticos, questões de poder, amor e misticismo, promovendo uma profunda reflexão sobre a vida, o bem e o mal.​

A Paixão Segundo G.H., de Clarice Lispector – Obra introspectiva que explora a experiência interior da protagonista confrontando questões existenciais sobre a vida, a morte e a essência humana, estimulando o autoconhecimento e a transformação espiritual.​

Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis – Este clássico aborda a crítica social com profundidade psicológica, mas também traz reflexões sobre a existência humana, a moralidade e a condição do ser, aspectos valiosos para a reflexão maçônica.​

Essas obras se alinham com os preceitos maçônicos de aprimoramento moral e espiritual, trazendo narrativas que estimulam a reflexão profunda, a ética e a busca pela verdade interior.

 

E antes de concluir este texto, é importante observar que com um pouco de curiosidade, vontade e empenho, é possível encontrar obras praticamente customizadas/Rito, como é o caso de “A Busca do Graal” (Béguin e Bonnefoy, 1997), não só porque repleta de alegorias e símbolos da cristandade, mas também porque, e sobretudo, pelo alinhamento mantido com a doutrina do Regime (Rito) Escocês Retificado, o que se torna muito claro em especial para aqueles que já foram recepcionados nos Graus de Cavalaria – Escudeiro Noviço e Cavaleiro Benfeitor da Cidade Santa (CBCS); na mesma linha, no universo de contos e lendas arturianas, entre tantos, há também o “Parsival” (Buonfiglio, 1997).

 

Concluem-se aqui a apresentação e os comentários específicos sobre os 3 (três) ensaios solicitados às IA (Gemini, DeepSeek e Grok) a partir do questionamento que iniciou este texto. Na sequência, em relação às próximas publicações, esclarecemos uma inversão no projeto que originalmente previa, a seguir, um ensaio (Literatura & Maçonaria – Ivan Ilitch, Tolstoi) escrito pelos autores, sem qualquer contribuição de IA. Todavia, considerou-se melhor, para aproximar os conteúdos, trazer logo ao debate 2 (dois) textos que, em que pese a abrangência, não abrem mão do caráter analítico-crítico-propositivo: o primeiro (V) focado na Inteligência Artificial e o segundo (VI) na Literatura, ambos aplicados à Maçonaria. O segundo motivo que nos leva à postergação do ensaio originalmente previsto é a expectativa da publicação do artigo “A Literatura como Ferramenta para a Compreensão da Arte Real na Maçonaria Especulativa”, em breve, pela Revista Ars Studiorum. Justifica-se: nele o leitor poderá encontrar, além das razões que levam os autores a defender a Literatura enquanto instrumento de estudo e desenvolvimento do maçom, as 2 (duas) aplicações (ou exercícios) já referidas acima: "Uma Confissão", de Liev Tolstói; e "Memórias do Subsolo", de Fiódor Dostoiévski.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BÉGUIN, Albert; BONNEFOY, Yves. A Busca do Graal. São Paulo: Paulus, 1997. ISBN 2-02-006217-8 (ed. original).

 

BUONFIGLIO, Monica. Parsival e a Lenda do Graal. São Paulo: Oficina Cultural Monica Buonfiglio, 1997.

 

DUTRA, Lucas V.; PINHEIRO, Ivan A. A Inteligência Artificial (IA) e a Literatura como Instrumentos de Trabalho do Maçom Contemporâneo – I. Maçonaria com Excelência. 12 nov. 2025a. Disponível em https://www.maconariacomexcelencia.com/post/a-inteligencia-artificial-e-a-literatura-como-instrumentos-de-trabalho-do-macom-contemporaneo-i. Acesso em 16.11.2025.

 

DUTRA, Lucas V.; PINHEIRO, Ivan A. A Inteligência Artificial (IA) e a Literatura como Instrumentos de Trabalho do Maçom Contemporâneo – II. Bibliot3ca Fernando Pessoa. 15 nov. 2025b. Disponível em https://bibliot3ca.com/a-inteligencia-artificial-e-a-literatura-como-instrumentos-de-trabalho-do-macom-contemporaneo-ii/. Acesso em 16.11.2025.

 

 

PINHEIRO, Ivan A. A Produção Intelectual Maçônica no Brasil – um recorte a partir dos concursos promovidos pela CMSB em 2020, 2021 e 2022 – I/II. Edições “Universum”, Ed. 45, janeiro de 2023a, p. 25-56. Porto Alegre, RS: GLMERGS, Loja de Estudos e Pesquisas Universum n0 147.

 

PINHEIRO, Ivan A. O Maçom que lê um só livro… Freemason. 25 abr. 2023b. Disponível em https://www.freemason.pt/o-macom-que-le-um-so-livro/, acesso em 14.11.25.

 

PINHEIRO, Ivan A.; DUTRA, Lucas V.; MENDES, Jorge A. A Maçonaria no Divã: as perspectivas e as contribuições dos não maçons. Revista Ciência & Maçonaria, v. 10, n. 1, p. 51-65, jul/dez, 2023, ISSN 2318-0129. Também disponível em Bibliot3ca Fernando Pessoa, https://bibliot3ca.com/2024/01/14/a-maconaria-no-diva/, acesso em 14.11.25.

 

TOLSTOI, Leon. A Morte de Ivan Ilitch. Porto Alegre: L&PM, 2002. ISBN 85.254.0600-7.

 

Notas de rodapé

[1] Mestre Maçom do Quadro da ARLS Presidente Roosevelt, 75, GLESP, Or. de São João da Boa Vista, Psicólogo, Professor Doutor em Psicologia, Especializado em Maçonologia (UNINTER), e-mail: dutralucas@aol.com.

[2] Mestre Maçom, Pesquisador Independente, e-mail: ivan.pinheiro@ufrgs.br.

[3] Lembrando que os juízos refletem tão somente a opinião subjetiva e consensual dos autores.

[4] Assim como o Resumo e as Palavras-chave.

[5] E, em alguma medida, pelo menos no Brasil, o mesmo se aplica às Potências, notadamente quando os estudos e as pesquisas se voltam para os eventos históricos.

[6] Problema, aqui, refere à disponibilidade de tempo vis-à-vis às demais agendas de uma Loja Maçônica.

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