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A MAÇONARIA E A INDEPENDÊNCIA DO BRASIL

Por Vanderlei Coelho


ATUAÇÃO DA MAÇONARIA NAS AMÉRICAS E SEUS DESDOBRAMENTOS NA INDEPENDÊNCIA DO BRASIL


A MAÇONARIA E A INDEPENDÊNCIA DO BRASIL
Imagem ilustrativa gerada por IA

Introdução

O presente artigo tem como escopo sintetizar a atuação da Maçonaria no processo de independência das Américas, com especial destaque para os acontecimentos que culminaram na emancipação política do Brasil, enaltecendo os maçons que desempenharam papéis fundamentais nesse contexto histórico.


A Maçonaria desempenhou um papel preponderante na independência das Américas, especialmente nos séculos XVIII e XIX. Maçons atuaram ativamente nos movimentos de emancipação contra o colonialismo europeu.


Nas Américas, a ação política da Maçonaria foi intensificada, culminando na independência dos Estados Unidos e na formação da maior nação maçônica do mundo.

Assim como nos Estados Unidos, a luta pela independência das colônias latino-americanas contou com a participação de destemidos maçons.


A Independência do Brasil, proclamada em 7 de setembro de 1822, por Dom Pedro I, representa um marco decisivo na formação do Estado brasileiro. Este processo não se deu de forma abrupta, foi resultado de uma série de transformações políticas, econômicas e sociais que culminaram na ruptura com Portugal.


Para alguns historiadores o processo de independência teve início com a chegada da família real portuguesa ao Brasil em 1808, fugindo das tropas napoleônicas. A abertura dos portos às nações amigas e a elevação do Brasil à condição de Reino Unido a Portugal e Algarves, em 1815, foram medidas que contribuíram para o fortalecimento da autonomia administrativa brasileira.


A Revolução Liberal do Porto, em 1820, exigia o retorno de D. João VI a Portugal e a recolonização do Brasil. Com a volta do rei, D. Pedro foi nomeado príncipe regente. As Cortes portuguesas também pressionavam pela volta de D. Pedro, mas ele recusou no episódio que ficou conhecido como o “Dia do Fico”.


Com a fundação do Grande Oriente do Brasílico, em 1822, a Maçonaria passou a ter um papel preponderante na Independência do Brasil, servindo de espaço para o debate político e difusão de ideias iluministas.


Mas, a Maçonaria brasileira do início do século XIX estava dividida em duas grandes correntes: uma liderada por José Bonifácio de Andrada e Silva, defensor da monarquia constitucional; e outra, mais liberal e republicana, encabeçada por Joaquim Gonçalves Ledo. Apesar das divergências ideológicas, os dois grupos convergiam com os mesmos ideais de liberdade.


A proclamação da independência ocorreu às margens do Rio Ipiranga, em São Paulo, quando D. Pedro bradou o célebre grito: “Independência ou Morte!”.

 

Atuação da Maçonaria na independência das Américas

A Maçonaria desempenhou um papel político fundamental e preponderante na independência das Américas, especialmente nos séculos XVIII e XIX, atuando ativamente nos movimentos de emancipação contra o colonialismo europeu. Castellani (2007)[1] afirma que:

A Franco-Maçonaria regular chegaria à América colonial em 1730, sob os auspícios da Premier Grand Lodge of England of Provincial Grand Masters, para diversas áreas. Embora formada, em seu início, em maioria, por membros dos regimentos britânicos, o grande aporte de americanos natos propiciaria, a ela, um papel fundamental na independência do país.

 

A independência dos Estados Unidos

Segundo Castellani (2007)[2], o início da Maçonaria nos Estados Unidos ocorreu em Massachusetts:

Foi justamente em Massachusetts que se iniciou a luta pela independência; e, coincidentemente, foi também ali que se iniciou a Maçonaria nos Estados Unidos da América, com a fundação a 23 de abril de 1730, da Grande Loja de Massachusetts, expandindo-se depois por toda a América do Norte.


A ação política da Maçonaria nas Américas foi intensificada, culminando na formação dos Estados Unidos como a maior nação maçônica do mundo. A luta pela independência americana foi impulsionada por eventos como a Crise do Chá, em 1773.


O início da Revolução Americana, em 1775, teve como figura proeminente o maçom George Washington, designado para comandar as forças rebeldes. Tornou-se o primeiro presidente dos Estados Unidos, prestando juramento sobre a Bíblia da loja maçônica “Saint John”, de Nova York.


George Washington foi eleito presidente dos Estados Unidos, em 1789, mesmo ano em que eclodiu a Revolução Francesa.


Dos 56 signatários da Declaração de Independência dos Estados Unidos da América, 50 eram maçons, dentre eles Thomas Jefferson, que a redigiu:

Sucederam-se, então, as batalhas em diversas colônias, sem que a luta se definisse; enquanto isso, o Maçom Thomas Payne incendiava a opinião pública, através da publicação de seu “Common Sense”, onde fazia a apologia de um movimento libertador e não de uma simples reação contra as leis opressivas. A 4 de julho de 1776, depois de um ano de debates, o Congresso Continental aprovava a Declaração de Independência, redigida por Thomas Jefferson (CASTELLANI, 2007)[3].

 

A independência dos países latino-americanos

Assim como nos Estados Unidos, a luta pela independência das colônias latino-americanas, teve participação de maçons. Francisco Miranda lutou pela libertação da maior parte das colônias e ainda: San Martin, na Argentina; Simón Bolívar, na Venezuela; Benito Juarez, no México; José Martí, em Cuba; O’Higgins, no Chile; Sucre, na Colômbia; Gonçalves Ledo, José Bonifácio, Januário da Cunha Barbosa, D. Pedro I, no Brasil.

 

A grande reunião americana

A Grande Reunião Americana foi uma entidade fundada com o propósito político de promover a independência dos povos americanos subjugados pelo colonialismo espanhol. Contou com a adesão de ilustres maçons como San Martín, Bernardo O’Higgins e Simón Bolívar.


Dessa entidade nasceu a Loja Lautaro, na Argentina, que se tornou um centro propulsor da independência, expandindo-se para países como Chile, Peru, Equador, México, Venezuela, Nicarágua e Bolívia.

 

A Loja Lautaro

Um dos símbolos de libertação das colônias espanholas foi a Loja Maçônica Lautaro, que segundo Castellani (2007)[4], “o nome corresponde ao de um guerreiro araucano, morto heroicamente durante a conquista espanhola do sul do Chile, defendendo a terra de seus antepassados.”


A Loja Lautaro tinha como objetivo trabalhar sistematicamente pela independência das colônias espanholas. Seus membros faziam juramento de dedicação à causa e seguiam regras que até mesmo governantes maçons deviam respeitar, incluindo a consulta à Loja para decisões importantes.


Sua doutrina política era estruturada em cinco graus progressivos, desde o juramento de dedicar vida e bens à independência (1º Grau), até o planejamento militar e diplomático (5º Grau), reservado aos grandes chefes militares e civis.


Castellani (2007)[5] aponta que o movimento de libertação das colônias espanholas só foi possível graças à amplitude da Maçonaria, à fraternidade entre os Irmãos e ao segredo guardado nos Templos maçônicos:

A simples menção da estrutura doutrinária desses graus demonstra uma profunda e secreta atividade política, baseada em uma rede conspiratória de caráter internacional, abrangendo a Inglaterra, França, Espanha, onde Cádiz era um celeiro de conspirações, através da secretíssima “Cavaleiros da Razão”, onde San Martin foi iniciado, a Rússia de Catarina II, protetora e incentivadora de Miranda, os Estados Unidos da América, com Washington, Franklin, e os países latino-americanos. Essa luta só foi possível graças ao caráter internacional da Maçonaria, com os seus membros sendo recebidos como Irmãos em todos os países e graças ao segredo dos Templos maçônicos.

 

A Maçonaria no Brasil

Muito se tem discutido quando de fato teve início as atividades maçônicas no Brasil, não vamos adentrar nessa discussão. Sabe-se que o Grande Oriente Brasílico, foi fundado em 17 de junho de 1822, com as Lojas Comércio e Artes, Esperança de Niterói e a União e Tranquilidade.


Com a fundação do Grande Oriente da França, a Maçonaria se divide, formando duas correntes ideológicas e antagônicas entre si, tendo de um lado a corrente inglesa, considerada Maçonaria Tradicional e do outro a francesa, caracterizada como Maçonaria Liberal.


Apesar de ter sido colonizado por Portugal, a Maçonaria brasileira tem suas raízes no Grande Oriente da França, que por sua vez tem inclinações políticas.


No início, a Maçonaria no Brasil seguiu os passos do Grande Oriente da França, para Garcia (2012)[6], o Grande Oriente Brasílico “foi fundado com uma finalidade muito mais política do que maçônica, propriamente dita, (...) sua verdadeira e autêntica meta era que se tornasse uma realidade definitiva a Independência do Brasil dos pesados laços que o prendia ao Reino de Portugal (...)”.

 

Composição das lojas

Conforme Cordeiro (2017)[7], a composição da diretoria das Lojas Comércio e Artes, Esperança de Niterói e União e Tranquilidade, estava assim constituída:

Na “Loja Comércio e Artes” a sua diretoria foi assim composta: Venerável, Manoel dos Santos Portugal; Primeiro Vigilante, Thomaz José Tinoco de Almeida; Segundo Vigilante, Domingos Ribeiro Guimarães Peixoto; Orador frei Francisco de Santa Tereza de Jesus Sampaio; Secretário, Domingos Alves Branco Muniz Barreto e Tesoureiro, Antônio José de Sousa. O cônego Januário da Cunha Barbosa e o capitão João Mendes Viana, ficaram nesta Loja.

Na “Loja Esperança de Niterói”, a sua primeira diretoria foi assim composta: Venerável, Pedro José da Costa Barros; Primeiro Vigilante, José Joaquim de Gouveia; Segundo Vigilante, José Maria da Silva Bittencourt; Orador João José Vahia; Secretário, João Antônio Maduro e Tesoureiro, João da Silva Lomba; José Bonifácio de Andrada e Silva e Francisco das Chagas Ribeiro ficaram filiados nesta Loja.

Na loja “União e Tranqüilidade[8]”, a sua primeira diretoria foi assim composta: Venerável, Albino dos Santos Pereira; Primeiro Vigilante José Joaquim de Gouveia; Segundo Vigilante Joaquim Valério Tavares; Orador, José Clemente Pereira; Secretário, José Domingos de Athayde Moncorvo e Tesoureiro, José Cardoso Netto. Nesta loja filiou-se Joaquim Gonçalves Lêdo.


Segundo Cordeiro (2017)[9], a primeira diretoria da Alta Administração do Grande Oriente do Brasil[10] foi constituída por integrantes daquelas três lojas:

Grão-Mestre: José Bonifácio de Andrada e Silva (Pitágoras);

Delegado do Grão-Mestre: marechal Joaquim de Oliveira Alvarez;

Primeiro Grande Vigilante: Joaquim Gonçalves Lêdo (Diderot);

Segundo Grande Vigilante: capitão João Mendes Viana (Graccho);

Grande Orador: cônego Januário da Cunha Barbosa (Kant);

Grande Secretário: capitão Manoel José de Oliveira (Bolívar);

Grande Chanceler: Francisco das Chagas Ribeiro (Adamastor);

Promotor Fiscal: coronel Francisco Luiz Pereira da Nóbrega;

Grande Cobridor: João da Rocha;

Grande Experto: Joaquim José de Carvalho.

 

A influência de maçons na independência do Brasil

Muitos formam os maçons que participaram ativamente do movimento que resultaria na Independência do Brasil, em 7 de setembro de 1822, dentre eles:

  • José Bonifácio de Andrada e Silva;

  • Joaquim Gonçalves Lêdo;

  • José Clemente Pereira;

  • Januário da Cunha Barbosa;

  • Dom Pedro I;

  • Hipólito José da Costa.

 

Dom Pedro I, o Imperador do Brasil


Dom Pedro I foi o personagem central da Independência do Brasil, nasceu em 12 de outubro de 1798, no Palácio Real de Queluz, em Portugal. Seu nome completo era Pedro de Alcântara Francisco Antônio João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim de Bragança e Bourbon. Filho do então Príncipe do Brasil, D. João (futuro João VI), e da infanta Carlota Joaquina da Espanha, ele pertencia à Casa de Bragança.


Em 1807, com a invasão francesa a Portugal, a família real transferiu-se para o Rio de Janeiro. Em 1817, casou-se por procuração com a arquiduquesa Leopoldina da Áustria.

No dia 7 de setembro de 1822, às margens do riacho Ipiranga, em São Paulo, D. Pedro proclama a Independência do Brasil, com a famosa frase: “Independência ou Morte”.

No dia de seu aniversário, 12 de outubro de 1822, Pedro foi aclamado Imperador (com 24 anos). A cerimônia de coroação aconteceu em 1º de dezembro de 1822 na Capela Imperial, no Rio de Janeiro.


Em 2 de agosto de 1822, Dom Pedro foi iniciado na Maçonaria na Loja Comércio e Artes na Idade do Ouro nº 1, adotando o nome simbólico Guatimozim. Em 4 de outubro do mesmo ano, tornou-se Grão-Mestre do Grande Oriente do Brasílico, substituindo José Bonifácio.

Com a morte de João VI em 1826, Pedro também herdou o trono português como D. Pedro IV, mas abdicou em favor de sua filha Maria II. Com a morte de sua primeira esposa, Leopoldina, em 1826. Cassou-se novamente em 1829 com Amélia de Leuchtenberg.


D. Pedro I abdicou do trono brasileiro em 7 de abril de 1831, em favor de seu filho Pedro II, e retornou à Europa. Lá, assumiu o título de Duque de Bragança e liderou o exército liberal na Guerra Civil Portuguesa contra seu irmão D. Miguel, defendendo os direitos de Maria II.

Faleceu em 24 de setembro de 1834, vítima de tuberculose, no Palácio de Queluz, local de seu nascimento, poucos dias antes de completar 36 anos.

 

Os próceres da Independência do Brasil

Dois personagens se destacam na luta pela Independência do Brasil, José Bonifácio de Andrada e Silva e Joaquim Gonçalves Ledo, primeiro Grão-Mestre e primeiro Grande Vigilante do Grande Oriente Brasílico, respectivamente.

 

José Bonifácio de Andrada e Silva


José Bonifácio de Andrada e Silva
José Bonifácio de Andrada e Silva, disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_Bonif%C3%A1cio_de_Andrada_e_Silva

Conhecido como o Patriarca da Independência, era naturalista, estadista e poeta brasileiro. Nascido em Santos, São Paulo, em 13 de junho de 1763 formou-se em Direito e Filosofia Natural pela Universidade de Coimbra, destacando-se internacionalmente como mineralogista ao descobrir diversos minerais, incluindo a petalita e a andradita, batizada em sua homenagem.


Durante sua permanência na Europa, tornou-se membro de várias academias científicas e publicou estudos sobre pesca, diamantes e agricultura.


Retornou ao Brasil em 1819 e teve papel decisivo na articulação da Independência, sendo conselheiro de D. Pedro I e Ministro dos Negócios Estrangeiros. Defendia uma monarquia constitucional e a integridade territorial brasileira. Faleceu aos 74 anos em Niterói, em 6 de abril de 1838.

 

Joaquim Gonçalves Ledo


Joaquim Gonçalves Ledo
Oscar Pereira da Silva - Retrato de Joaquim Gonçalves Ledo, acervo do Museu Paulista da USP. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Joaquim_Gon%C3%A7alves_Ledo

Foi jornalista, advogado e político fluminense, considerado um dos principais articuladores da Independência do Brasil. Nascido no Rio de Janeiro em 11 de dezembro de 1781, estudou Direito na Universidade de Coimbra, onde entrou em contato com os ideais liberais e com a Maçonaria.


Retornou ao Brasil em 1808, após a morte do pai, e passou a atuar intensamente na política e no jornalismo. Em 1821, fundou o Revérbero Constitucional Fluminense, jornal que defendia princípios como a liberdade de expressão e a convocação de uma Assembleia Constituinte.


Foi um dos líderes do Partido Liberal-Radical, que buscava não apenas a independência, mas também a democratização da sociedade brasileira. Teve participação ativa no movimento que culminou no Dia do Fico e na convocação da Constituinte de 1822.

Reconhecido como uma das figuras centrais do processo emancipatório, Gonçalves Ledo desempenhou papel relevante nas articulações que resultaram na Independência do Brasil.

Após anos de intensa atuação política, afastou-se da vida pública e da Maçonaria em 1835, retirando-se para sua fazenda em Sumidouro, onde faleceu em 19 de maio de 1847, aos 66 anos.

 

Divergências ideológicas 

Apesar dos ideais de independência, José Bonifácio e Gonçalves Ledo  tinham divergências ideológicas, como afirma Genz (2013)[11]:

Existia luta ideológica entre os grupos liderados por esses dois próceres de nossa independência, pois enquanto José Bonifácio defendia a ideia de independência dentro de uma união brasílico-lusa, Gonçalves Ledo propugnava pelo rompimento total com a metrópole portuguesa, em um regime republicano.

 

Essa divergência pode ter sido fruto da existência de duas correntes maçônicas, uma denominada de Maçonaria Azul e a outra de Maçonaria Vermelha. Como destaca Cordeiro (2017)[12]:

(...) Elas eram de forças políticas opostas: a “Vermelha” defendendo o seu ponto de vista republicano e a “Azul” defendendo o seu ponto de vista monárquico constitucional e parlamentar. Cada uma delas querendo que sua forma de governo se sobressaísse, regendo a sua filosofia e a sua teoria política a ser desenvolvida.

 

Cordeiro (2017)[13] vai mais longe ao afirmar que:

(...) as Cortes de Lisboa estavam dominadas pela maçonaria “Vermelha”, em perfeita consonância com a maçonaria “Vermelha” do Brasil, que pretendiam retirar do Brasil o príncipe regente D. Pedro de Alcântara, para assim anular mais um elemento da Casa de Bragança, do outro lado do Atlântico, embora o pretexto, usado para que ele retornasse foi o de conclusão dos estudos.

 

A Independência do Brasil

A Independência do Brasil, proclamada em 7 de setembro de 1822, representa um marco decisivo na formação do Estado brasileiro. Este processo não se deu de forma abrupta, foi resultado de uma série de transformações políticas, econômicas e sociais que culminaram na ruptura com a coroa portuguesa.


A Maçonaria teve papel preponderante na Independência do Brasil, servindo de espaço para o debate político e difusão de ideias iluministas. Castellani (2007)[14] foi categórico ao afirmar que:

A obra máxima da Maçonaria brasileira e a única de que ela participou de fato, como Instituição, foi a independência do Brasil, em 1822, no mesmo ano em que os Maçons brasileiros criavam a primeira Obediência nacional, o Grande Oriente Brasílico, ou Brasiliano, que posteriormente viria a ser o Grande Oriente do Brasil.

 

Mas, quando de fato, a então colônia ousou se libertar de Portugal? Para tentar responder a essa pergunta é preciso voltar no tempo.


Quando Napoleão invade Portugal, em 1807, a família real portuguesa foge para o Brasil. D. João VI e a família aqui chegam em 1808. Oliveira Lima apud Castellani (2007)[15] revela que:

“(...) quem separou o Brasil foi D. João VI”; na realidade, elevando o Brasil à categoria de Reino Unido ao de Portugal e Algarves, a 16 de dezembro de 1815, D. João dava o primeiro passo para a independência do país.

O bonachão e sonolento D. João, com um tino extraordinário, já previra a marcha dos acontecimentos, sabendo que a partir do estabelecimento da corte no Rio de Janeiro e da revolta das colônias espanholas, era impraticável o retorno do Brasil ao estado primitivo; dessa maneira, ele previu bem a situação posterior: ele e D. Pedro deveriam empalmar os tronos de Portugal e do Brasil, garantindo-os para a Casa de Bragança.

 

Com a chegada da família real, em 1808, o Brasil deixou de ser uma simples colônia portuguesa e passou a ser o centro do Império Português, tendo sido elevado à condição de reino em 1815[16].


Em 1816, D. João VI torna-se rei de Brasil e Portugal depois da morte de sua mãe, D. Maria I, a “Rainha Louca”[17].


Uma chama ardente na tentativa da Independência do Brasil pode ter sido a Revolução Pernambucana de 1817, liderada pelo maçom Frei Caneca. Ele também liderou a Confederação do Equador, movimento republicano de 1824. Frei Caneca lutou contra o autoritarismo do Império, era defensor de uma federação de estados livres. Sua atuação radical o tornou mártir da causa republicana.


A Revolução Pernambucana foi sufocada por tropas de D. João VI, em 1817. Mesmo derrotados e apesar do pouco tempo em que ficaram no poder — menos de três meses —, os revolucionários conseguiram abalar o império e contribuíram para acelerar o processo de independência do Brasil em relação a Portugal.


Em 1820, revolucionários liberais portugueses tomam o poder na cidade do Porto e exigem a volta de D. João VI a Lisboa. Com o retorno da família real a Portugal, em 1821, D. Pedro foi nomeado príncipe regente.


As Cortes portuguesas também pressionavam pela volta de D. Pedro, mas ele recusou. Alguns historiadores atribuem esse episódio — que entrou para a história como o “Dia do Fico” —, o ponto primordial para o movimento de libertação do Brasil e como conseguinte sua independência, como afirma Cordeiro (2017)[18]:

Com certeza, o “Fico” foi o ato culminante para a história do Brasil. De fato, a “Revolução da Independência” teve maior impacto quando o Príncipe D. Pedro, atendendo às representações dos fluminenses, paulistas e mineiros, desobedeceu às Cortes Constituintes da Nação Portuguesa que o chamavam à Europa.

 

Em 9 de janeiro de 1822, Dia do Fico, D. Pedro declarou: “Se é para o bem de todos e felicidade geral da Nação, estou pronto! Digam ao povo que fico”.


Como dito anteriormente, a Maçonaria em terras tupiniquins era dividida em duas correntes, a Azul e a Vermelha, sendo que os próceres da Independência do Brasil estavam ideologicamente em lados opostos.


A desobediência de Dom Pedro, deve ter desapontado os integrantes da Maçonaria Vermelha, como revela Cordeiro (2017)[19]:

A maçonaria “Vermelha” esperava que os decretos fossem executados e cumpridos imediatamente, porém diante da reação da maçonaria “Azul” e da opinião monarquista do povo, favorável a D. Pedro, a maçonaria "Vermelha" recuou e omitiu-se, resistindo passivamente. No entanto, pouco tempo depois começou a instigar os motins em todo o Rio de Janeiro.

 

Dom Pedro ao se rebelar contra a decisão das Cortes de Lisboa, teve apoio de José Bonifácio e da Maçonaria “Azul”, ele organizou um governo forte, com respaldo principalmente da província de São Paulo que era predominantemente “Azul”.


Diz ainda o autor[20] que o “Fico”, foi obra exclusiva da Maçonaria Brasileira e, principalmente, de Joaquim Gonçalves Lêdo, Januário da Cunha Barbosa e José Joaquim da Rocha (CORDEIRO, 2017).


Outro ponto importante na articulação política em torno do movimento de independência, foi o título de “Defensor Perpétuo do Brasil” dado ao Príncipe Regente Dom Pedro a 13 de maio de 1822, Cordeiro[21] destaca que “foi obra do grupo de Joaquim Gonçalves Lêdo, por proposta de Domingos Alves Branco Muniz Barreto, em sessão da Loja Comércio e Artes”, com o escopo de conquistar o Príncipe para a causa do Brasil.


Depois de receber o título de “Defensor Perpétuo do Brasil”, Dom Pedro seria iniciado na Maçonaria[22]:

No dia 2 de agosto de 1822, por proposta de José Bonifácio, deu entrada, no Grande Oriente do Brasil, a proposta de iniciação do Príncipe D. Pedro de Alcântara, que foi aprovada, sendo ele iniciado no mesmo dia e elevado a Mestre já três dias depois (CORDEIRO, 2017).

 

O plano para atrair Dom Pedro para a causa da Independência do Brasil avançou com a sua indicação para o cargo de Grão-Mestre[23]:

A 22 de agosto, por influência do grupo de Gonçalves Lêdo, o príncipe regente era indicado para exercer o Grão-Mestrado, numa manobra política de fundamental importância para o advento da independência. Com a eleição do Príncipe, José Bonifácio passou a atuar na condição de Grão-Mestre Adjunto, o que o deixou bastante magoado (CORDEIRO, 2017).

 

Dia do maçom

Para a maioria dos maçons brasileiros, 20 de agosto é o Dia do Maçom. Mas por que, exatamente, essa data foi escolhida?


20 de agosto foi escolhido em razão da propagada reunião presidida por Gonçalves Ledo, na qual os maçons presentes teriam aprovado a Independência do Brasil — ou, em outra versão, a Maçonaria teria se posicionado a favor da Independência. Essa reunião foi datada, segundo a ata do então Grande Oriente Brasílico, no 20º dia do 6º mês do ano de 5822 da Verdadeira Luz.


Castellani, apud Ismail[24], revela que:

O 20º dia do 6º mês da Verdadeira Luz não foi dia 20 de agosto de 1822, erro histórico esse atribuído ao Barão do Rio Branco. Castellani indica como data correta o dia 9 de setembro, ou seja, posterior ao Grito de Independência.


Ismail (2020)[25] alerta:

A Maçonaria possui diferentes tipos de calendários, usados nos mais diversos ritos e épocas, cada um com sua própria lógica e significados. Porém, isso tem gerado certas confusões históricas, principalmente no Brasil, com sua pluralidade de Ritos carência de registros legais disponíveis, de bibliotecas maçônicas e, principalmente, de literatura maçônica de qualidade.

 

Daza (1997), apud Ismail[26], afirma: “No Rito Francês ou Moderno, o primeiro dia do ano foi tido como 1º de março e os meses passaram a ser contados pelo número ordinal”. 


A afirmação de que a sessão ocorreu em 20 de agosto estaria correta caso se considerasse o calendário maçônico francês. Nesse sistema, o 20º dia do 6º mês do ano maçônico de 5822 corresponde, de fato, ao dia 20 de agosto de 1822.


Já o Calendário Maçônico Gregoriano, defendido por Castellani como o sistema utilizado nas primeiras atas maçônicas brasileiras, fixa o Equinócio Vernal em 21 de março como o 1º dia do ano. Assim, o 20º dia do 6º mês de 5822 seria 9 de setembro de 1822.


É consenso entre os pesquisadores que a escolha do Dia do Maçom está ligada à reunião presidida por Gonçalves Ledo, na qual a Maçonaria teria se posicionado a favor da Independência do Brasil. O que permanece em debate é o dia exato em que essa reunião ocorreu: se 20 de agosto, como tradicionalmente se acredita, ou 9 de setembro, como sugerem análises mais recentes do calendário maçônico.


No dia 7 de setembro de 1822, às margens do riacho Ipiranga, em São Paulo, D. Pedro proclama a Independência do Brasil, com a famosa frase: “Independência ou Morte”. No mesmo ano, D. Pedro tornou-se Imperador do Brasil e Grão-Mestre do Grande Oriente Brasílico.

 

Conclusão

A Maçonaria desempenhou um papel preponderante na independência das Américas, especialmente nos séculos XVIII e XIX. Maçons atuaram ativamente nos movimentos de emancipação contra o colonialismo europeu.


Nas Américas, a ação política da Maçonaria foi intensificada, culminando na independência dos Estados Unidos e na formação da maior nação maçônica do mundo.


Assim como nos Estados Unidos, a luta pela independência das colônias latino-americanas contou com a participação de destemidos maçons.


Com a fundação do Grande Oriente Brasílico, em 1822, a Maçonaria passou a exercer papel decisivo na Independência do Brasil, servindo como espaço para o debate político e a difusão de ideias iluministas.


Apesar das divergências ideológicas entre os grupos liderados por José Bonifácio e Gonçalves Ledo, os ideais libertários de independência prevaleceram.

Como se constata, o processo de Independência do Brasil não ocorreu de forma abrupta, mas foi resultado de uma série de transformações políticas, econômicas e sociais que culminaram na ruptura com Portugal.


A chegada da família real portuguesa ao Brasil, em 1808, e a elevação do país à condição de Reino Unido a Portugal e Algarves, em 1815, possibilitaram o fortalecimento da autonomia administrativa brasileira.


O retorno de D. João VI a Portugal, a nomeação de D. Pedro como príncipe regente e sua recusa em regressar à metrópole, deram ainda mais força ao processo de independência.

A proclamação da independência por D. Pedro, em 7 de setembro de 1822, às margens do Rio Ipiranga, em São Paulo, foi um ato simbólico, ecoado no célebre grito: “Independência ou Morte!”


Que as lutas pela independência travadas pelos nossos antepassados não sejam em vão. É nosso dever e obrigação manter sempre acesa a chama da liberdade, para que possamos iluminar a escuridão que persiste em rondar nossa nação.


Estejamos sempre vigilantes, pois, embora já tenha raiado o sol da liberdade no horizonte do Brasil, devemos manter longe o temor servil. Ficar à pátria livre ou morrer pelo Brasil.

 

Fontes Pesquisadas:

CASTELLANI, José. A Ação Secreta da Maçonaria na Política Mundial. 2ª edição revisada. São Paulo: Editora Landmark, 2007.

COELHO, Vanderlei. 20 de Agosto: Um dia para chamar de nosso. Disponível em: https://www.maconariacomexcelencia.com/post/20-de-agosto-um-dia-para-chamar-de-nosso. Acesso em: 5 set. 2025.

CORDEIRO, Vital Lopes. A Influência Política da Maçonaria na Pré-Independência do Brasil. Brasília: Editora Wizard, 2017.

GOMES, Laurentino. 1808: Como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a história de Portugal e do Brasil. São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2007.

GARCIA, Aquiles. Maçonaria: da gênese dos supremos conselhos de Charleston e do Brasil ao cisma de 1927. Águas de São Pedro: Livronovo, 2012.

GENZ, Plínio Virgilio. A Maçonaria inglesa no Brasil. São Paulo: Medras, 2013.


Notas de rodapé

[1] CASTELLANI, José. A Ação Secreta da Maçonaria na Política Mundial. 2ª edição revisada. São Paulo: Editora Landmark, 2007.

[2] Ibidem.

[3] Ibidem.

[4] Ibidem

[5] Ibidem.

[6] GARCIA, Aquiles. Maçonaria: da gênese dos supremos conselhos de Charleston e do Brasil ao cisma de 1927. Águas de São Pedro: Livronovo, 2012.

[7] CORDEIRO, Vital Lopes. A Influência Política da Maçonaria na Pré-Independência do Brasil. Brasília: Editora Wizard, 2017.

[8] Foi permanecida a grafia original do texto-fonte, apesar da reforma ortográfica ter retirada a trema.

[9] CORDEIRO, Vital Lopes. A Influência Política da Maçonaria na Pré-Independência do Brasil. Brasília: Editora Wizard, 2017.

[10] Segundo GARCIA (2012, p. 51), Grande Oriente Brasílico foi seu primeiro título.

[11] GENZ, Plínio Virgilio. A Maçonaria inglesa no Brasil. São Paulo: Medras, 2013.

[12] CORDEIRO, Vital Lopes. A Influência Política da Maçonaria na Pré-Independência do Brasil. Brasília: Editora Wizard, 2017.

[13] Ibidem.

[14] CASTELLANI, José. A Ação Secreta da Maçonaria na Política Mundial. 2ª edição revisada. São Paulo: Editora Landmark, 2007.

[15] CASTELLANI, José. A Ação Secreta da Maçonaria na Política Mundial. 2ª edição revisada. São Paulo: Editora Landmark, 2007.

[16] 1808: Como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a história de Portugal e do Brasil.

[17] Ibidem.

[18] CORDEIRO, Vital Lopes. A Influência Política da Maçonaria na Pré-Independência do Brasil. Brasília: Editora Wizard, 2017.

[19] Ibidem..

[20] Ibidem.

[21] CORDEIRO, Vital Lopes. A Influência Política da Maçonaria na Pré-Independência do Brasil. Brasília: Editora Wizard, 2017.

[22] Ibidem.

[23] Ibidem.

[24] NO ESQUADRO. Aula extra – Dia do Maçom. Disponível em: https://noesquadro.com.br/?s=dia+do+ma%C3%A7om. Acesso em: 19 de agosto de 2025.

[25] ISMAIL, Kennyo. Ordem sobre o caos. Brasília: No Esquadro, 2020.

[26] NO ESQUADRO. Aula extra – Dia do Maçom. Disponível em: https://noesquadro.com.br/?s=dia+do+ma%C3%A7om. Acesso em: 19 de agosto de 2025.

1 comentário


Parabéns pela resenha. Interessante será ainda esplorar as outras vertentes da Maçonaria no período em apreciação, pois havia maçons monárquistas também.

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