O TRABALHO: UM DEVER CONSAGRADO NA MAÇONARIA
- Maçonaria com Excelência
- 18 de ago.
- 7 min de leitura
Por Carlos Roberto Pakuczewsky[1]
O TRABALHO: UM DEVER CONSAGRADO NA MAÇONARIA
Na visão dos alquimistas, os três elementos mais importantes para o desenvolvimento do ser humano e da humanidade como um todo são: o sol, a inteligência e o trabalho. Na verdade, tanto o sol quanto a inteligência estão intrinsicamente relacionados ao trabalho como passo a apresentar nessa minha singular explanação.
O Sol e o Trabalho
O sol aparentemente nada tem a ver com o trabalho, porém, quando estudamos o trabalho conceitualmente e sob o ponto de vista da física, temos que trabalho é o processo que transforma energia em movimento.
O enunciado acima refere-se, obviamente aos motores que transformam energia (elétrica, térmica, combustíveis etc.) em trabalho mecânico e que, portanto, ainda nada tem a ver com o tipo de trabalho que é o foco da presente explanação. Há no entanto um elemento em comum entre o trabalho mecânico produzido pelos motores e o trabalho produzido pelo homem: ambos têm o sol como fonte de energia. Se pararmos para pensar, vemos que são o calor e a luz do sol que geram direta ou indiretamente todas as energias para os motores e também os nutrientes para todos os seres vivos do planeta que são transformados em energias e que possibilitam o nosso trabalho braçal e mental.

Para comprovarmos essas afirmativas, vamos nos utilizar da antítese para fazer o seguinte questionamento: haveria energia elétrica, térmica, combustíveis e nutrientes para os seres vivos sem o sol? A resposta é um redondo e sonoro “não”. Inclusive a energia atômica que não depende do sol para gerar imensas quantidades de calor e energia elétrica, depende previamente de uma imensa quantidade de energia elétrica convencional (advinda do sol), necessária para enriquecer o urânio ou outro combustível radioativo, antes que se torne combustível atômico. Certo? É possível usar um combustível atômico não enriquecido para gerar energia atômica? Não, portanto, a energia atômica que utilizamos também depende indiretamente do sol.
O astrônomo Carl Sagan, na série “Cosmos” reafirma que “Somos filhos das estrelas”, referindo-se que sem o sol, nossa estrela mais próxima, não existiríamos. Afirma também que “somos feitos de estrelas”, mais precisamente de poeira estelar, referindo-se à teoria de que os cometas são os semeadores de partículas orgânicas denominados “blocos de construção” que semeiam vida por todo o universo e que essas “sementes de vida” prosperam nos orbes que apresentam condições favoráveis à existência de vida. Esses conceitos, às vezes meio esquecidos, no calor do nosso dia a dia, precisam ser recapitulados quando filosofamos a respeito de energia e de trabalho. O sol com sua luz e seu calor, nos cria e nos alimenta. Todos os povos da terra em suas civilizações pueris, sem exceção, adoraram o sol, do Egito aos povos da América. Sem o sol não há energia e sem energia não há vida e qualquer espécie de trabalho.
Sem o sol não há energia e sem energia não há vida e qualquer espécie de trabalho.
A Inteligência e o Trabalho
Para que serve a energia transformada em trabalho sem o uso da inteligência? Como cremos no Grande Arquiteto do Universo, não podemos admitir que a vida seja produto do acaso, do caos. Cremos que há uma inteligência superior que ordena o nosso universo e que se utiliza das energias e dos trabalhos em formas ainda desconhecidas por nós, para criar o universo e os seres vivos, entre eles o homem. Se olharmos para um relógio e apreciarmos o seu mecanismo podemos deduzir a inteligência, as capacidades, e outras características da pessoa que o construiu e que chamamos de relojoeiro. Mesmo sem conhecer, sabemos que ele existe ou existiu e usando a lógica para analisar o relógio, podemos deduzir com segurança algumas características do relojoeiro pela análise de sua obra. Usando essa analogia, ao analisar os engenhosos e complexos mecanismos da evolução e outros mecanismos da natureza, podemos deduzir com segurança que há um criador que fez e faz um trabalho altamente inteligente e coordenado, que podemos através de sua obra (o universo), deduzir seguramente algumas características desse criador que chamamos de Grande Arquiteto do Universo.
O Trabalho do Homem
Agora podemos falar do trabalho humano propriamente dito e da inteligência que o caracteriza. Enquanto seres racionais, somos disparados, os mais evoluídos dentro do grande conjunto que chamamos de seres vivos. Com nossa inteligência podemos dirigir e controlar os nossos trabalhos e o trabalho de outros para que sejam úteis para nós e para a nossa comunidade (assim se espera). Na verdade, com relação ao trabalho, podemos considerar o homem como sendo um Sistema onde as Entradas são os nutrientes produzidos pelo sol que nos alimentam, os Processos de Transformação são o conjunto das nossas inteligências e capacidades (memorizar, analisar, comparar, criar métodos, decidir, criar e convencionar símbolos, fazer planos, inventar etc.) e as Saídas, resultantes do processo de transformação são todo e qualquer trabalho realizado pelo homem, tais como a procriação (conservação da própria espécie), resultados físicos e metafísicos (mentais).

A Retroalimentação é a parte mais importante e inteligente do nosso Sistema. Ao concluirmos um trabalho, fazemos a análise dos resultados sob o ponto de vista crítico para descobrir como podemos produzir o mesmo resultado (ou melhor), com menos recursos, menos energia, menos materiais, mais barato, de forma mais ágil e como podemos melhorar o processo de transformação. É a evolução do sistema.
Agora, com melhor entendimento, podemos redefinir o trabalho humano como sendo esforço físico e mental que utilizamos para criar, construir, manter ou melhorar algo. Aqui podemos abrir parêntese para concluir que tudo o que o ser humano produz, exceto a procriação, é artificial, apenas o ato de conceber e criar os filhos é um processo natural, nada diferente dos seres irracionais.
A lei da conservação da matéria (lei de Lavoisier) nos ensina que “na natureza nada se cria e nada se perde, tudo se transforma”, portanto, quando falamos de trabalho físico devemos entender que apenas podemos transformar as coisas e não criá-las. A criação, somente se dá a nível teórico e através do trabalho mental de criação, planejamento, controle etc. O que chamamos de “criação”, na verdade é uma “forma diferente de transformar algo”.
Outra forma de trabalho bastante útil, criativa e inteligente desenvolvida por nós humanos, são os motores e máquinas que transformam energias em trabalho mecânico e auxiliam o homem nos trabalhos pesados e repetitivos. Na sequência vem os robôs, os computadores e as impressoras 3D etc. que passam a fazer milagres como auxiliares nos trabalhos humanos. Até animais irracionais domesticados, auxiliares nos nossos trabalhos também deixam cada vez mais de fazer o trabalho pesado (cavalos de carga) e passam a fazer trabalhos mais inteligentes (cão guia). Vemos até uns cachorros andando de skate e outros esperando a sinaleira ficar verde para passar tranquilamente pela faixa de segurança. Seria a evolução natural das espécies se adaptando ao meio ambiente de Darwin?
O trabalho humano também pode ser visto sob o ponto de vista da causa e efeito na medida em que tudo o que o homem cria e constrói (efeito) depende de quatro elementos (causas) cuja sigla é “4M” que são: Matéria-prima, Máquinas, Métodos e Mão-de-obra (trabalho). Nesse contexto, entende-se por “método”, o projeto de construção que é obtido através do trabalho mental (trabalho). Tanto para construir as máquinas quanto para obter as matérias-primas, precisamos novamente dos 4M. Isso no final resulta em Mão de obra (trabalho) e Matéria-prima extraída através do trabalho, ou seja, o trabalho é o elemento principal, de tudo o que é criado, construído e mantido pelo homem (mundo artificial). Todo o progresso da humanidade é fruto da inteligência e do trabalho do homem.
Voltando à filosofia, podemos concluir que, a nossa passagem pela Terra enquanto espíritos encarnados e portadores de alma, tem a única finalidade de permitir a nossa evolução pessoal através da matéria empregando a inteligência e o trabalho como “únicas ferramentas”. Por aí podemos avaliar a importância do trabalho na existência humana.
Enquanto homens, trabalhando de forma inteligente e em prol da nossa comunidade, ainda continuamos longe das capacidades do Arquiteto do Universo, porém, com nossas criações e trabalhos, ajudamos a melhorar o mundo em que vivemos e a mantê-lo de forma sustentável, portanto, somos verdadeiros ajudantes do Grande Arquiteto do Universo, em outras palavras: com o nosso trabalho e a nossa inteligência somos cocriadores e mantenedores do universo.
O trabalho é ao mesmo tempo um dever e um direito do homem. O estado através de sua constituição e suas leis consagram o trabalho como um direito fundamental do cidadão. O trabalho dignifica o homem. Toda a economia do mundo está calcada sobre o capital e o trabalho, sendo que o capital nada mais é do que resultado do trabalho acumulado na forma de riquezas (dinheiro). O trabalho, portanto, é o motor da economia do mundo. Ponto de partida da teoria Marxista.
Na Maçonaria o Trabalho é um dever consagrado. Ninguém pode ser Maçom se não tiver um trabalho definido e lícito. Em Loja, o Trabalho é simbolizado pelo Avental que dada a sua importância é considerado a única peça que veste o Irmão. Nenhum Maçom pode Trabalhar em Loja sem o Avental. Sem o Avental o Irmão está desnudo. Na Iniciação, por estar sem o Avental, o Profano é recebido “nem nu e nem vestido”.
Na Ordem, a “força bruta” do trabalho (motor), é simbolizada pelo Maço que bate com força sobre o Cinzel para gerar resultado. O Cinzel, por sua vez, simboliza a “inteligência aplicada ao trabalho” que guia a força bruta do Maço para gerar um “Trabalho Perfeito”. O conjunto Maço e Cinzel, portanto, é símbolo do Trabalho Inteligente do Maçom.
“No final, tudo se resume em energia, inteligência e trabalho.”
Nota de rodapé
[1] Ir. Carlos Roberto Pakuczewsky - M.I. da A.R.L.S. Templários da Arca Sagrada - Blumenau - SC.




Parabéns pelas valorosas reflexões.