PERTENCIMENTO MAÇÔNICO
- Maçonaria com Excelência
- 26 de ago.
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Por Luiz V. Cichoski
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PERTENCIMENTO MAÇÔNICO

I. INTRODUÇÃO
O Universo é espetacular, a Vida é fantástica; muito embora, aparentemente, tenha ‘contaminado’ um único ponto do infinito Universo![1],[2],[3],[4],[5]
A unidade vital — a célula — é tão espetacular e fantástica quanto o Universo, mesmo em sua magnificência microscópica. A visualização e compreensão desta estrutura, aparentemente simples, com sua membrana, citoplasma e núcleo, revela uma obra de arte única, inigualável, incrível mesmo.[6],[7],[8],[9],[10],[11],[12]
As células apresentam-se em incontáveis versões nos âmbitos dos reinos vegetal e animal.
O relacionamento entre as células animais — desde as microscópicas gotas vitais unicelulares até o Homem — vem sendo deslindado e nos impressionam a cada nova descoberta ou compreensão, infundido uma profunda admiração frente a tão impensável funcionabilidade.
A Histologia descreve o relacionamento das diferentes células na manutenção da estrutura vital e funcional dos diferentes tecidos, órgãos e organismos; semelhantemente, a Histopatologia observa os meandros microscópicos dos relacionamentos desregrados e patológicos entre estas mesmas estruturas.
O que está ficando cada vez mais claro, óbvio e necessário é a existência de áreas moleculares específicas nas membranas celulares das diferentes células de nosso organismo — em sua maioria proteicos — que funcionam como um detalhe, desenho ou padrão reconhecível por um outro padrão complementar na estrutura membranácea de uma outra célula do próprio organismo — quando multicelular —, ou por algum patógeno — estafilococos, estreptococos, enterobactérias, helicobacter, bordetella, nocardia, entre outras — seja em sua comensalidade ou patogenicidade.
A estruturação funcional ou fisiológica e, igualmente, o relacionamento patológico observam tal complementação reconhecidos e descritos nos PRRs[13] e PAMPs; a complementaridade entre as células dos diferentes tecidos ou entre as células bacterianas em suas diferentes espécies e as dos diferentes organismos é o primeiro passo para a organização funcional de um tecido ou órgão ou para o início de uma aproximação e o desenvolvimento de um processo patológico infeccioso. Em outras palavras, células hepáticas se relacionam bem com outras células hepáticas, assim como células pulmonares se relacionam bem com outras células pulmonares, mas não se misturam; igualmente, os microrganismos são dotados de padrões específicos capazes de complementaridade frente a padrões de células de alguns órgãos, mas, não de todos os tecidos e órgãos.
Existe uma complementaridade que garante e facilita o funcionamento de muitos eventos posteriores e, no final, a operacionalidade vital! Fantástico!
II. PERTENCIMENTO MAÇÔNICO
A Maçonaria desenvolveu-se ao longo de alguns séculos; aceitando a versão Operativa como o primeiro passo, estendemos a história maçônica até o século XII, visto que o operativismo está ligado ao aparecimento do estilo arquitetônico Gótico[14] que tem, como primeira manifestação declarada, a Igreja de Saint Denis, 1137, Paris.
Nesta versão pertenciam aos quadros da Maçonaria — que em seu início ostentava como denominação o termo latino cimenteria, que albergava os latomos/talhadores de pedra e os cementerios/ pedreiros[15],[16] — os interessados nesta profissão que, inicialmente, cumpriam um estágio de aprendizagem — entre 6 e 7 anos —; normalmente eram jovens levados pelos pais — normalmente, pelo pai — e deixado aos cuidados do Mestre da Obra que avaliava a evolução profissional que culminava com a ‘iniciação na guilda ou loja da obra em andamento’; ou seja, a iniciação era realizada APÓS o aprendizado ou aceitação e o candidato tornava-se um Companheiro. O pertencimento era laborativo, o aprendizado de uma profissão, conquista esta desenvolvida, paralelamente, com a própria história do trabalho[17]; havia uma necessidade de manutenção pessoal e familiar na interioridade do burgo onde o trabalho edificava-se ao longo de anos, não raramente, séculos; quanto mais trabalho, maior a qualificação que ampliavam os ‘padrões sobrepostos’: os do trabalhador e os do ofício.
Diferentes e inúmeras situações desestimularam a edificação das obras góticas e os profissionais especializados precisaram reorganizar seu saber e seu trabalho — outras qualidades de padrões profissionais se fizeram necessárias. Ao longo dos séculos XV ao XVII e, principalmente no arquipélago inglês, os pedreiros se dedicaram a outras edificações, registrando-as — inclusive as relativas a reconstrução de Londres/1666 — na expectativa de manter o saber e a profissão. Curiosamente, ao longo deste período foi produzida uma significativa coleção de documentos — as Old Charges[18] — que atestam a manutenção da atividade dos pedreiros além do gótico. Neste intervalo faziam parte das Lojas pedreiros e aceitos, novos padrões sociais — ao lado de novos padrões arquitetônicos.
O período Especulativo consolidou-se no século XVIII e seguintes — para muitos sendo ainda hoje a fase maçônica em vigor —, organizando uma Instituição com ritualística progressivamente pomposa; estrutura operacional complexa com Lendas, Símbolos, Graus, Ritos, Lojas, Potências.
Nesta versão pertenciam aos quadros da Maçonaria interessados que solicitavam, espontaneamente, ingresso; enquanto outros eram indicados. A primeira conduta caracteriza o modus operandi inglês, enquanto a conduta praticada entre nós é a da apresentação por apadrinhamento.[19]
Neste ponto precisamos retornar e considerar os elementos introdutórios. O desenvolvimento de um ‘pertencimento maçônico’ estará na dependência de uma complementaridade conceitual e psicoemocional.
A Iniciação[20] é o mecanismo da primeira aproximação ao longo da qual serão testados os ‘padrões do candidato’ frente aos ‘padrões maçônicos’; quanto maior a afinidade entre ambos, mais facilmente se dará uma complementariedade, uma identificação, com o desenvolvimento de um adequado e produtivo sentimento de pertencimento.
O histórico do ingresso de cada irmão é próprio e, normalmente, único. O convite — considerando nosso modus operandi — cria uma expectativa que ativa o coletivo do conhecimento e das fantasias individuais, sejam elas conscientes ou não, — Freud que o diga —, referentes a escolha vivenciada. Quanto mais as expectativas ou mesmo as fantasias forem complementadas com a experiência iniciática e vivencial, mesmo que a partir de elementos não conscientizados até então, mais fácil e concreto o desenvolvimento da identificação necessária, a vivência de emoção marcantemente positiva, coincidências que comporão uma sobreposição de ‘padrões complementares’, concretizando uma ‘experiência de pertencimento’.
Todo iniciando traz um componente racional e emocional que será testado ao longo da cerimônia de Iniciação e, na sequência, ao longo das atividades ritualísticas habituais a vida maçônica.
O ‘padrão do candidato’ pode se adaptar a diferentes elementos das Lendas, Símbolos, Graus, Ritos, Lojas e Potências, que funcionam como ‘padrões da Instituição’; quanto maior for o número de contatos fortalecedores, maior o ‘sentimento de pertencimento’.
O ‘padrão do candidato’ no campo conceitual — o conhecimento prévio que tenha —, poderá se revelar verdadeiro, ou não; e esta inesperada sobreposição se revelará um padrão complementar, permitindo uma amplificação do conhecimento inicial e uma completude atrativa e identificadora. Igualmente, o pouco ou nada saber da Instituição pode ressaltar ‘padrões’ concordantes espontaneamente e operar no sentindo de uma aderência complementar significativa.
O ‘padrão do candidato’ no campo imaginário/emocional também apresentará ‘elementos’ complementares frente a experiência e ambiente iniciáticos; experiências que enriquecerão o conteúdo imaginário/emocional com o afloramento de novos ‘padrões’ com complementaridade ainda mais fina e específica entre o iniciante e a intimidade da Instituição.
III. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A compreensão que adquirimos ao longo da vida maçônica é a da surpresa produtiva e complementar — uma adesão satisfatória. Por não conhecermos a intimidade conceitual, emocional, psicológica dos iniciantes somos surpreendidos pela adaptação ou identificação maior ou menor de diferentes candidatos e o seu desenvolvimento na intimidade da Instituição com a presença e o reforçamento de ‘padrões complementares’ para com a Maçonaria: participação e frequência notáveis; dedicação e absorção de atividades internas à Loja (cargos) ou externas à Loja, disseminando o viés comportamental maçônico em diferentes instituições sociais, observando e convidando novos candidatos.
A presença, além da experiência iniciática, de múltiplos pontos de contato, ‘padrões maçônicos’, relativos aos vieses filosóficos, filantrópicos, adogmáticos amplia a possibilidade de diferentes ‘padrões complementares’ entre o iniciado e a Instituição; cumprindo a cada um a tarefa deste reconhecimento.
Ainda mais, cada um de nós desenvolve a exercitação contínua no aprimoramento da maior complementaridade referentemente a outros ‘padrões maçônicos’, seja no caminhar dos graus, seja na intimidade e particularidades dos diferentes Ritos, ou nas diferentes atuações possíveis dentro das Lojas e Potências. Tal caminhada deve ser encetada por todos; a postura escusa ou resistente são sinais de uma complementariedade incompleta ou ineficiente; condutas concretas e práticas são necessárias para que ‘padrões divergentes’ não se desenvolvam de forma irrecuperáveis.
Sintetizando, ‘padrões pessoais’ e ‘padrões maçônicos’ com inúmeros pontos de complementaridade fortalecem a relação de pertencimento; obviamente, uma pobre sensação de pertencimento associa-se a exíguos pontos de contato.
A busca e o fortalecimento de maior número de ‘padrões de complementaridade’ asseguram uma produtiva e satisfatória vivência maçônica.
Precisamos desenvolver a Maçonaria de nosso tempo[21], visto que Maçonaria é assunto, prática e envolvimento sério em qualquer formatação ou tempo histórico.
LUIZ V. CICHOSKI M∴M∴
A∴R∴B∴L∴S∴ Templários da Liberdade, 69
Pinhalzinho/SC
GOSC
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Notas de rodapé
[1] R. R. F. Mourão, Dicionário Enciclopédico de Astronomia e Astronáutica, CNP1, N. Fronteira, 1987.
[2] C. Sagan, Cosmos, Ed. F. Alves, 2ª. Edição, 1982.
[3] C. Sagan, Pálido Ponto Azul, Cia. De Letras, 1996.
[4] A. Damielli & J. Steiner, O Fascínio do Universo, Ed. Odysseus, 2010.
[5] Z. Zugno, Antídoto Apocalíptico, Ed. Z-Book, 4ª. Edição, 2015.
[6] A.W. Han, Tratado de Histologia, 6ª. edição, Interamericana, 1970.
[7] Bailey e all. Histologia, MEC, 1973.
[8] DiFiori e all. Novo Atlas de Histologia, 3ª edição, Guanabara Koogan, 1977.
[9] D. Kennedy, A Célula Viva, Editora USP, s/d.
[10] Junqueira & Carneiro, Biologia Celular & Molecular, 10ª edição, GrupoGen, 2023.
[11] A. K. Abbas, A. H. Lichtman & S. Pillai, Imunologia Celular & Molecular, 10ª. edição, GrupoGen, 2023.
[12] M. I. S. Duarte & all. Doenças Infecciosas, Visão Integrada da Patologia, Clínica e dos Mecanismos Patogênicos, Artmed, 2024.
[13] PRRs, Receptores de Reconhecimento de Padrões e PAMPs, Padrões Moleculares Associados a Patógenos.
[14] C. Schmidlin & C. E. Gerner, O Gótico, Ed. H. F. Ullmann, 2009.
[15] L. V. Cichoski, Fundamentos Operativos nos Graus Básicos, A Trolha, 2012.
[16] L. V. Cichoski, Fundamentos Maçônicos, Começos, A Trolha, 2025.
[17] Etienne Boileau, Le Livre des Métiers, 1261-1271.
[18] L. V. Cichoski, Fundamentos Maçônicos, Old Charges, A Trolha, 2020.
[19] L. V. Cichoski, A Maçonaria e o Tempo, CMI Revista Informativa de la Confederación Masónica Interamericana abril 2021 nº 5 año 01.
[20] L. V. Cichoski, Fundamentos da Iniciação, A Trolha, 2014.
[21] L. V. Cichoski, Maçonaria Executiva, O Prumo, 253 – nov/dez 2020.




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