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POR QUE IR À ESCOLA? UM PARALELO COM A MAÇONARIA

Por Georges T. Mayrink


POR QUE IR À ESCOLA? UM PARALELO COM A MAÇONARIA


POR QUE IR À ESCOLA? UM PARALELO COM A MAÇONARIA
Foto do banco de imagens do Wix

Um dia desses, logo pela manhã, minha filha mais nova me colocou em uma situação muito interessante ao dizer: “não quero ir à escola hoje”. Eu já estava vestido e pronto para levá-la até a esquina da escola, como sempre faço, e a afirmação me surpreendeu quase tanto quanto a convicção com que ela disse aquelas palavras.

 

“Não quero ir à escola hoje!” Assumindo que ela não estivesse bem fisicamente, perguntei se estava febril, se estava com dor ou tendo problemas femininos; perguntas às quais ela respondeu negativamente, reiterando ao final que simplesmente não queria ir à escola.

 

Insisti, perguntando se ela havia se aborrecido com algum coleguinha, se não tinha feito a lição de casa, se havia sido ameaçada por algum valentão ou valentona, se estava com problemas com algum professor ou professora… A cada motivo que eu oferecia como razão para ela não querer ir à escola, ela respondia negativamente. Vencido, e já perdendo a paciência, pedi que ela me dissesse por que não queria ir à escola; disse-lhe que, se a justificativa fosse boa, ela poderia ficar em casa.

 

E então ela começou a explicar da forma dela que as pessoas vão à escola por uma convenção social, uma vez que o aprendizado que deveriam receber lá, na verdade, é obtido individualmente por cada aluno em casa.

 

Disse que os professores estão lá somente para corrigir os exercícios solicitados e dizer quais as páginas dos livros os alunos devem estudar. Todo o processo de aprendizado agora era reativo, e não proativo. Os professores não mais incentivam a discussão das lições; cada aluno faz a sua e recebe sua nota.

 

Dificilmente um professor é proativo o suficiente para se interessar se o aluno está aprendendo ou não. Afinal, se não estiver, isso será demonstrado posteriormente nas notas baixas das provas, ocasião em que o professor da matéria dirá ao aluno para se empenhar mais.

 

“Mas os professores estão lá para tirar suas dúvidas”, argumentei.

 

“Uns poucos, sim”, retrucou, “mas a maioria não está preocupada em ajudar os alunos. Eles têm seus próprios assuntos para cuidar: cronogramas a cumprir, relatórios a preparar, além de vidas próprias fora da escola.

 

Para alguns, ensinar é exigir que tenhamos toda a matéria na ponta da língua, quando eles mesmos precisam consultar em seus livros as respostas dos exercícios que já aplicaram várias vezes, em várias turmas, por vários anos.

 

Mesmo os bem-intencionados não conseguem se organizar para nos dar instruções e demonstrar o domínio que têm sobre as matérias que lecionam!

E se o estudo fica inteiramente a cargo dos alunos, para que é preciso ir à escola?”

 

“Sabe quando você me pergunta o que aprendi de novo?”, continuou. Fiz que sim com a cabeça. “Pois então, eu não aprendo nada lá. Queria chegar em casa dizendo que tive uma aula interessantíssima, reveladora, maravilhosa; que aprendi um mundo de coisas novas… Queria ao menos poder dizer que os professores me fizeram refletir profundamente sobre as coisas que estamos estudando. Mas isso acontece rarissimamente!”

 

“Mas você gosta dos seus professores. Você gosta dos seus colegas de classe!”, disse na esperança de ganhar algum ponto numa discussão que eu claramente estava perdendo.

 

“É verdade. Mas às vezes parece que os alunos vão à escola somente para estar com seus amigos e professores favoritos na hora do intervalo. Porque na hora da aula mesmo, o pessoal do fundão não está prestando atenção; para os que se sentam ao meio, tanto faz como tanto fez se a aula é boa ou não; e os que se sentam de frente aos professores, ficam frustrados porque as aulas são sempre iguais.

 

Eu posso ver minhas amigas a qualquer dia e a qualquer hora; não preciso acordar às 5h30 da manhã e não precisa ser na escola. Quanto aos professores, se eu tiver uma dúvida que mamãe, ou você, ou a Internet não consigam responder, eu marco um plantão de dúvidas.”

 

Os argumentos eram fortes, mas o horário se fazia avançado e ela chegaria atrasada se continuássemos com a discussão. Sinto-me envergonhado de admitir que apelei à autoridade paterna e disse: “OK, então hoje você vai porque não está doente e a mensalidade já está paga! Quando você voltar, falaremos mais sobre o assunto.”

 

No caminho para a escola nenhuma palavra foi trocada. Ela estava visivelmente aborrecida e eu, perdido em pensamentos, traçando paralelos à minha própria situação em Loja…

 

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Minha amada adolescente opinativa, do alto de seus 14 anos de experiência de vida, me fizera contemplar algo muito profundo; talvez um dos principais motivos que leva os recém iniciados a abandonar a Ordem.

 

Não deixemos que em nossas oficinas as reuniões se tornem o mero cumprimento da ritualística e das discussões administrativas. Nossas sessões devem ser um convite ao estudo. Devemos resgatar e honrar o ideário popular de que nós, maçons, somos construtores de uma sociedade melhor, a começar por nós mesmos e pelos exemplos que damos, dentro e fora do templo.

 

Se nossas reuniões não despertam em nossos irmãos a necessidade de reflexões genuínas, o desejo de troca significativa de ideias e conhecimento, bem como o ímpeto de se engajarem proativamente com os ensinamentos e princípios de nossa Ordem, então, lamentavelmente, falhamos.

 

Todos nós, independentemente do grau, devemos cultivar em nossos templos um ambiente onde cada sessão seja um momento de descoberta, e não apenas de repetição; onde perguntas, debates e reflexões sejam bem-vindos, e não desencorajados.

 

Lembremo-nos: embora o contínuo desbaste da Pedra Bruta seja uma responsabilidade individual, a Maçonaria é, em sua essência, uma Ordem Fraternal. Não deixemos, pois, que burocracia e estagnação impeçam nossos irmãos de encontrar, em Loja, a Luz que buscam na Arte Real.

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